Marcelo Simão

Economista e diretor do Centro Especializado Nossa Senhora D´Assumpção (Censa Betim)

Uma doença na família pode gerar instabilidade na renda familiar, seja ela pela redução dos ganhos por conta da impossibilidade de trabalho ou pelo aumento dos gastos com saúde. Medos e incertezas são comuns enquanto a busca por soluções se torna cada vez mais urgente. A situação pode ser ainda mais complexa quando a doença afeta um membro da família com deficiência intelectual grave, que já enfrenta desafios diversos. Os custos com saúde aumentam significativamente, enquanto a capacidade de trabalho da pessoa com deficiência ou de seus cuidadores pode ser comprometida, impactando ainda mais a renda familiar.


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 45,6 milhões de pessoas com alguma deficiência, ou seja, 23,9% da população. A deficiência mental ou intelectual foi declarada por mais de 2,6 milhões de brasileiros – cerca de 1,4% da população do país. Outro dado alarmante é a dificuldade de lidar com os desafios financeiros. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que apenas 30% das famílias com filhos com deficiência intelectual severa no Brasil conseguem arcar com todos os custos relacionados à deficiência sem comprometer o orçamento familiar para outras necessidades básicas.


Lidar com uma doença mental crônica associada a outras comorbidades pode impactar não só emocionalmente toda uma família quanto também pode levar a preocupações financeiras, que geralmente são significativas e de longo prazo. É nesse contexto que o planejamento financeiro se torna uma ferramenta fundamental para garantir a estabilidade, a qualidade de vida e o futuro da família.


As famílias que cuidam de pessoas com deficiência intelectual severa enfrentam diversos custos adicionais que impactam significativamente o orçamento doméstico. Entre os principais, podemos citar: a redução de renda, visto que algumas doenças mentais crônicas podem impactar a capacidade da pessoa de trabalhar regularmente ou de forma consistente; custos com cuidados médicos e terapêuticos, já que doenças mentais crônicas e suas comorbidades requerem frequentemente tratamentos médicos contínuos como terapias, órteses, próteses e outras ajudas técnicas, além de aporte medicamentoso e suplementação alimentares (em alguns casos , são necessários apoios de equipes transdisciplinares como neurologistas, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas); e adaptações no estilo de vida, a depender da gravidade podem ser necessárias mudanças na moradia, contratação de cuidadores especializados e/ou ajustes nas rotinas diárias da casa.


O planejamento financeiro nestes casos também deve considerar os custos com seguros, tais como planos de saúde, e outras reservas de emergência. Os custos com instituições especializadas também precisam ser avaliados, especialmente nos casos de envelhecimento dos pais e ausência de parentes que possam manter os cuidados que o ente familiar demanda.


Além dos aspectos financeiros, um planejamento cuidadoso contribui para o bem-estar emocional e a qualidade de vida de todos os membros da família. Reduzir o estresse financeiro permite que a família se concentre no suporte emocional e na adaptação ao convívio com a doença mental, promovendo um ambiente mais seguro e acolhedor.


Não se trata apenas de assegurar recursos materiais e monetários suficientes, mas de criar uma base sólida para o cuidado contínuo, a segurança econômica e o bem-estar emocional de todos os envolvidos. É um investimento na qualidade de vida e segurança da família como um todo e através do tempo.