De cada 10 adultos brasileiros, quatro têm níveis alterados de colesterol, de acordo com o Ministério da Saúde. O assunto voltou à tona esta semana, com o Dia Nacional de Combate ao Colesterol, nessa quinta-feira (8). Vilão, mocinho ou nenhum dos dois. O colesterol alto é considerado um dos fatores que mais contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares – como o infarto – ou ainda o acidente vascular cerebral (AVC).
Cada vez mais, especialistas reforçam a importância do acompanhamento de um cardiologista, capaz de personalizar o atendimento, baseado em fatores de risco associados e em questões como idade, comorbidades (como diabetes) e outros hábitos, a exemplo de tabagismo e sedentarismo.
Sabe-se que no corpo humano são três os tipos de colesterol: LDL, HDL E VLDL, sendo o primeiro – o mau colesterol – motivo de maior preocupação por parte dos médicos, já que em altos níveis ele está diretamente relacionado a uma série de doenças graves e de elevado risco de mortalidade. Acontece que cada um deles tem funções específicas, seja na formação de hormônios, no metabolismo de vitaminas e na estrutura de várias células do corpo. Ao medir esses níveis, o médico leva em conta não somente os índices de lipídeos, mas também o risco cardiovascular dos pacientes.
O problema é que só costumamos nos preocupar com o colesterol quando o problema já existe. Na maioria das vezes a hipercolesterolemia (colesterol alto) é uma doença assintomática, dando algum sinal muitos anos depois de instalada. Outro fator que contribui para essa “displicência” é que os adultos, além de negligenciar esse tipo de exame, estendem o “hábito” (mau hábito) a seus filhos, ou seja, raramente crianças e jovens têm esse teste como rotina nos checapes.
Com isso, a combinação de alimentação não saudável e rica em gorduras (tendência forte atualmente) com sedentarismo acaba sendo o caminho mais comum para quadros de obesidade, o que aumenta o risco da elevação dos níveis de colesterol LDL no sangue. Além disso, há o aumento dos triglicerídeos – o colesterol que vem do açúcar –, relacionado ao risco de outra doença: o diabetes, especialmente em crianças obesas.
A pediatra e médica do esporte Silvana Vertematti cita, inclusive, o Atlas Mundial de Obesidade 2024: o Brasil corre sério risco de ter até 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade ou sobrepeso em 2035. Nesses casos, embora o colesterol vá aumentando aos poucos, ao longo dos anos, caso não haja uma mudança de estilo de vida, na fase adulta ele passa a se fixar nas paredes dos vasos sanguíneos, principalmente nos de menor calibre. Resultado: aumenta o risco cardiovascular para doenças coronarianas no coração, o que pode levar ao infarto do miocárdio. Esse acúmulo pode atingir vasos da circulação cerebral, com o risco de acidente vascular cerebral (AVC).
Fato é que se as famílias não reconhecerem a importância da tríade alimentação de qualidade, exercícios físicos e acompanhamento médico, crianças e jovens podem desenvolver, precocemente, doenças cardiovasculares crônicas. Ainda dá tempo.
A boa notícia é que é possível controlar o avanço do problema para garantir um futuro saudável às crianças e adolescentes, evitando, inclusive, uma morte relacionada a doenças cardiovasculares crônicas de forma precoce. É necessário que a sociedade reconheça a importância do tema e invista na qualidade de vida desse recorte da população, proporcionando uma alimentação saudável, a prática de exercícios físicos, o combate ao sedentarismo, acompanhamento de saúde geral e o incentivo para que possa crescer com hábitos saudáveis.