Natália Inês Costa

Psicóloga e diretora do Censa Betim, Centro Especializado Nossa Senhora D'Assumpção, referência às pessoas com deficiência intelectual e autismo severo

O Dia da Pessoa com Deficiência Intelectual, celebrado em 22 de agosto, tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância da inclusão e do respeito às pessoas com deficiência intelectual. Desta forma, a data serve como uma importante reflexão sobre as necessidades e desafios enfrentados por esse grupo populacional. No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2022, estima-se que 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais vivam com alguma deficiência, o que corresponde a 8,9% da população nesta faixa etária. Entre o total de brasileiros com mais de 2 anos, ao menos 4,1% é formado por crianças de 2 a 9 anos que possuem alguma deficiência física ou intelectual.


A deficiência intelectual caracteriza-se por importantes limitações, tanto no funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo, expresso nas habilidades conceituais, sociais e práticas e tem início antes dos 18 anos de idade. Frequentemente, ela se manifesta através de atrasos no desenvolvimento do indivíduo, como dificuldades na fala, na socialização e na aprendizagem. A percepção e o diagnóstico da deficiência intelectual dependem da observação desses atrasos, especialmente nos primeiros anos de vida. É fundamental destacar que a detecção precoce desses sinais é crucial para garantir que essas pessoas recebam o suporte necessário para um desenvolvimento pleno. Ao contrário de outras deficiências, a deficiência intelectual nem sempre é visível, o que denomina-se deficiência oculta. Essa condição muitas vezes pode levar a sociedade a julgar os comportamentos inadequados ou negligenciar o direito das pessoas com deficiência. A essa prática, dá-se o nome de capacitismo. O dia 22 de agosto é também um dia importante no combate ao capacitismo.


É importante frisar que os sinais de deficiência intelectual podem variar bastante de pessoa para pessoa e podem se manifestar de forma mais evidente em algumas áreas do desenvolvimento do que em outras. No entanto, alguns sinais são mais comuns e podem ajudar na identificação precoce. Dentre eles podemos citar: atrasos no desenvolvimento, seja ele motor, de linguagem, social, cognitivo; dificuldades de aprendizagem; problemas de comportamento tais como hiperatividade, dificuldades de controlar as emoções, tendências a repetir comportamentos; dificuldades de adaptação (lidar com mudanças e situações novas, por exemplo); e dificuldades com percepção visual e auditiva.


É importante ressaltar que a presença de um ou alguns desses sinais não significa necessariamente que a pessoa tenha deficiência intelectual. Outros fatores como problemas de visão ou audição, transtornos do Espectro Autista (TEA) ou dificuldades emocionais também podem causar atrasos no desenvolvimento.


O diagnóstico de deficiência intelectual é feito por uma equipe multidisciplinar que inclui médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais especializados. Essa equipe realiza uma avaliação completa do indivíduo, considerando diversos fatores, como o histórico familiar, o desenvolvimento neuropsicomotor e o desempenho em testes cognitivos.


Embora a deficiência intelectual seja comumente confundida com o espectro autismo, os dois não são a mesma coisa. O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação social, interação social e comportamentos repetitivos. Pessoas com autismo podem ter níveis de inteligência desde muito altas até abaixo da média. Já a deficiência intelectual é uma condição caracterizada por limitações significativas tanto nas funções intelectuais quanto nas habilidades adaptativas, como comunicação, cuidados pessoais e habilidades sociais.


Isso quer dizer que, embora possam coexistir, as características da deficiência intelectual e do autismo são diferentes. No entanto, estima-se que cerca de 40% das pessoas com autismo também tenham deficiência intelectual. É fundamental detectar precocemente a deficiência intelectual para garantir que as crianças se tornem adultos mais preparados para a vida em comunidade e para que recebam o suporte necessário para o seu desenvolvimento. Essa intervenção precoce pode promover a autonomia, a inclusão social e a qualidade de vida dessas pessoas.

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