João Paulo Barros
Diretor de Relacionamento e Governança do IPGC - Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades
Votamos no futuro, não somente no passado, como já disse um renomado marqueteiro político francês. Os eleitores não têm memória duradoura das realizações passadas e, possivelmente, não lembram em quem votaram nas últimas eleições. Também não são movidos necessariamente por gratidão. O que realmente pode contar é a promessa de um futuro melhor. Em tempos de incerteza, como os vividos durante a pandemia da Covid-19, planos de governo bem elaborados e realistas são uma esperança para um futuro mais promissor. A crise sanitária global sublinhou a necessidade de propostas que considerem a origem dos recursos e as limitações da gestão municipal.
Mais do que simples declarações de intenção, os planos de governo são peças estratégicas que revelam a visão e as prioridades dos candidatos. No entanto, infelizmente, a grande maioria desses documentos não passa de uma lista de desejos. Imaginemos a administração pública como um grande navio que precisa ser conduzido por mares turbulentos. Um plano de governo é o mapa que guia o capitão (o futuro prefeito eleito) e a sua tripulação (a gestão municipal), por meio das águas incertas, rumo a um porto seguro (resultados concretos para a população).
O potencial desses projetos é crucial não apenas para orientar a futura gestão, mas também para conquistar o voto de um eleitorado mais exigente, que opta por um destino conectado à realidade. No entanto, para que essas promessas sejam mais do que palavras, é necessário um planejamento mínimo e uma visão clara de implementação. É nesse ponto que os planos de governo desempenham um papel importante, concretizando as prioridades e estratégias viáveis para atingir os objetivos traçados para além de meros documentos de campanha. São, acima de tudo, compromissos com o futuro.
Em 2024, a qualidade dos planos de governos pode ser um diferencial significativo na conquista do voto e na construção de um país mais justo, eficiente e sustentável, que se move além do personalismo político brasileiro. Nessa perspectiva, por que não adotar uma cartilha de sugestões para os candidatos, com soluções práticas para áreas críticas como infraestrutura, educação, saúde, sustentabilidade, inovação, planejamento, finanças e desenvolvimento social?
Esse é um caminho que vislumbramos para auxiliar os candidatos na formulação de propostas mais consistentes, buscando promover uma administração pública mais eficiente e transparente. Acreditamos que a elaboração de planos de governo eficazes exige uma compreensão profunda das complexidades municipais e das aspirações dos cidadãos, ou seja, um processo de escuta. Além de disponibilizar diretrizes que auxiliam os candidatos a transformarem promessas em ações concretas, as cartilhas elevam o padrão do debate político, promovendo uma cultura de responsabilidade e comprometimento com os resultados para os cidadãos.
Em meio à polarização nacional e o novo papel do parlamento, a busca pelo voto será, acima de tudo, uma busca por confiança, inclusive nas disputas de reeleição. Os eleitores querem acreditar que os candidatos estão preparados para enfrentar os desafios atuais e futuros. Eles esperam por propostas claras, bem articuladas e, sobretudo, realizáveis, que atendam suas necessidades individuais, seus interesses, sua rua, seu bairro. Os planos de governo são as pedras angulares das eleições municipais. Neste ano, mais do que nunca, a qualidade dessas propostas determinará o sucesso eleitoral e o futuro das cidades brasileiras.