Entre quarta-feira (11/9) e sexta-feira (13/9) da semana passada, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificou 7.322 focos de incêndio no Brasil, concentrando 71,9% dos incêndios que ocorrem na América Latina. Desde o início deste ano, foram 180.137 focos, 108% maior na comparação com igual período do ano passado, o que representa 50,6%.
Nesta segunda-feira, a capital da República amanheceu com uma parede de fumaça a 10km de distância do centro da cidade, devido ao incêndio na Parque Nacional de Brasília (Flona). Ainda no período da manhã, 700 hectares de vegetação do Cerrado foram consumidos, o que reforça a suspeita de incêndio criminoso.
Nas proximidades do parque, estão a Granja do Torto, que abriga uma das residências da Presidência da República, o paiol do Exército e o Parque da Água Mineral, uma das fontes de abastecimento de Brasília. Na semana passada, a área de preservação da Floresta Nacional (Flona), entre as regiões administrativas de Taguatinga e Ceilândia, perdeu mais de 2,5 mil hectares, com uma queimada provocada, segundo moradores vizinhos à floresta.
O fogo se alastra pelo país. Pelo menos 10 milhões de brasileiros foram afetados pelas queimadas, na avaliação da Confederação Nacional dos Municípios. A situação é mais grave nos estados de São Paulo, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nesses estados, além dos danos ambientais, há efeitos negativos na economia. Os cálculos preliminares avaliam que os prejuízos são bilionários.
Em São Paulo, o setor agropecuário foi um dos mais atingidos nessa onda de incêndios. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento avalia que os prejuízos somam cerca de R$ 2 bilhões. Cerca de 181 mil hectares de canaviais foram consumidos pelo fogo, comprometendo a produção de açúcar, álcool, biocombustível e outros derivados, com prejuízo estimado em R$ 1,2 bilhão. A rebrota da cana também foi afetada pelas queimadas e os produtores preveem que haverá repercussão na safra do próximo ano.
No Centro-Oeste, o Pantanal Mato-grossense, a maior planície úmida do planeta, é vítima tanto das queimadas quanto do desmatamento provocado pela expansão do agronegócio. Áreas de produção de grãos têm sido transformadas em pastos. As queimadas em Mato Grosso impactam a saúde, dispersam material particulado, que contamina o ar com mercúrio e outros elementos tóxicos que afetam a saúde humana. A destruição ambiental empobrece o solo e tem reflexo na produção agrícola, sem contar a negativa contribuição de aumento dos gases de efeito estufa.
Nos primeiros oito meses deste ano, os focos de incêndio na Amazônia chegaram a 53.620, um aumento de 80% na comparação com igual período de 2023, quando foram registrados 29.826 focos. Além das queimadas, a região enfrenta uma das piores secas da sua história. Os primeiros levantamentos indicam que mais de 330 mil pessoas sofrem com a escassez de água. Rios Madeira, Negro, Solimões, Juruá e Purus estão secando enquanto o desmatamento em áreas no Baixo Amazonas avança. Os povos originários reivindicam ao governo federal a declaração de emergência climática.
As investidas contra o patrimônio ambiental, sem dúvida, provocam poder público à tomada de medidas mais severas contra os que agridem o meio ambiente. Provavelmente, são pessoas que têm dificuldade de entender que toda a população está exposta aos efeitos das mudanças climáticas, cada vez mais rigorosas com os humanos. Diferentemente dos que usam da violência nas disputas políticas e ideológicas, a transformação do planeta não tem partido nem é seletiva. Todos, sem distinção, são afetados. É hora de repensar o relacionamento com a Mãe Terra, para que não sejamos a próxima vítima..