Em entrevista ao Estado de Minas nesta semana, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu o retorno do horário de verão em 2025, como medida para diminuir o consumo de energia elétrica em meio à seca histórica que atinge o país nos últimos meses.


A medida é acertada, diante do aumento da dependência de fontes não renováveis, como as usinas termelétricas, para dar conta da demanda brasileira. Ainda que a energia poupada seja menor do que em anos anteriores, qualquer esforço é justificável diante de um volume útil de apenas 50,75% dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável pelo abastecimento de 70% da população brasileira, segundo dados de ontem. Em Furnas, um dos principais reservatórios do país, por exemplo, o volume está ainda menor, em torno dos 40%.


Ainda assim, vale ressaltar que o comportamento da população atualmente é diferente do que era adotado em décadas anteriores. O uso do ar-condicionado, sobretudo em períodos de calor intenso combinado à baixa umidade, e de aparelhos eletrônicos, como TVs e celulares, se impõe mais do que outrora, o que reduz os efeitos provocados pelo horário de verão – como adiar em uma hora o acionamento das luzes das residências, por exemplo.


Mesmo com esse cenário, o governo federal, à frente de um país reconhecido internacionalmente por sua matriz energética sustentável, acerta ao não assistir os efeitos da seca de braços cruzados. Momentos de crise exigem medidas rápidas e até mesmo impopulares – ainda que o horário de verão seja motivo de divergência nas conversas em cada esquina. Há quem goste e há quem deteste. O mesmo, no entanto, não acontece com a temida bandeira vermelha, que vigora nas tarifas de cada família desde o início do mês e aperta o já sufocado orçamento mensal.


Na esteira da discussão sobre o horário de verão, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entidade privada que controla o setor sob regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), anunciou ontem que apresentará um plano para reduzir os danos da seca no país. Os detalhes serão repassados amanhã. A medida até demora, mas vem em boa hora, sobretudo se a seca persistir em meio à chegada do verão, quando fatalmente o consumo de energia elétrica aumentará diante das altas temperaturas, a partir do maior uso de chuveiros e dos sistemas de ar-condicionado, principais vilões da conta de luz.


Além de garantir o acesso da população à energia elétrica, as duas medidas – o plano de contingência do ONS e o eventual retorno do horário de verão – têm reflexos na economia. A seca que compromete os reservatórios e, por consequência, a geração das usinas hidrelétricas, força o país a acionar as fontes termelétrica e nuclear, que são mais caras e poluem mais. No primeiro caso, essa operação pode, até mesmo, impactar no preço dos combustíveis na bomba, diante da maior demanda por combustíveis fósseis, como o óleo diesel.


Vale sempre lembrar, ainda, que quando se fala em diesel os impactos vão além e chegam a todo sistema de logística do país, altamente dependente dos veículos de carga. No fim das contas, a seca pode impactar, até mesmo, o preço da cesta básica nas gôndolas dos supermercados espalhados pelo país. Se o frete encarece, o produto entregue o acompanha. Portanto, qualquer esforço público é bem-vindo no momento.