Os brasileiros irão às urnas no próximo domingo levando nas mãos o título de eleitor e, na cabeça, sonhos de dias melhores, confiança na concretização das propostas de seus candidatos e pensamento sempre positivo no fortalecimento da democracia. Ao apertar a tecla ‘confirma’, no primeiro turno do pleito, cada um está não só depositando seus anseios como acreditando que o prefeito e os vereadores se comprometem realmente a trabalhar pelos municípios que os escolheram.
Cidadão e cidade são palavras da mesma família – nunca é demais lembrar. Então, o chefe do Executivo municipal deve viver atrelado à vontade coletiva, governando para todos ou, no caso dos parlamentares, legislando de olho no bem comum. “A” não é mais importante do que “B”, um bairro tal jamais pode ser alvo de todos os recursos em detrimento de outros, buracos nas ruas são verdadeira ofensa a pessoas de todas as gerações.
Nas campanhas eleitorais, os temas mais enfocados, geralmente, são educação, saúde, segurança pública e transporte. De uns tempos para cá, o essencial saneamento básico veio à tona, sepultando a antiga teoria de que o que está debaixo da terra, portanto invisível aos olhos da população, não dá voto. Já era tempo! E será somente isso que o povo quer?
A resposta certamente é não. Há muitas ideias que podem tornar bem mais ‘habitável’ uma capital ou uma cidade do interior brasileiro. Por que construir um condomínio residencial, de luxo ou popular, à beira de um rio, se essa mesma área pode ser desapropriada pela prefeitura para construção de um parque? Além de frear o adensamento urbano, o gestor deve pensar na qualidade de vida, no meio ambiente, no convívio dos moradores, ainda mais em épocas de temperaturas tão elevadas como agora.
As cidades brasileiras, e nem é preciso ter muita memória para saber, vira e mexe ficam à mercê das enchentes, com estragos generalizados. Destruição de casas, desabamento de muros, soterramentos e mortes entram na lista das mazelas derivadas das cheias. Assim, os prefeitos devem ter visão e refletir, planejando obras com técnica e determinação, sem dar ouvidos à ganância do dinheiro. Em vez de escolher áreas vulneráveis, o mais indicado é indicar, aos empreendimentos imobiliários, empresariais e industriais, terrenos que causem menos impactos e perturbação às pessoas.
Falar em meio ambiente é destacar a própria vida, abrir caminhos para a comunhão entre humanos e natureza, valorizar homens, mulheres, jovens, crianças, as famílias. Mais do que construir um parque, é preciso dar-lhe vida, permitir que os habitantes se apropriem dele. Verde, equipamentos comunitários de lazer e lugar tranquilo para ler um livro, entre outros aspectos aprazíveis, trazem o frescor que uma cidade necessita.
Cultura é outro território amplo e faz parte da escalada humana desde que o mundo é mundo. Mais do que oferecer apenas shows grandiosos, pagando milhões de reais a artistas de renome nacional, que tal criar condições para que a arte floresça e dê frutos. Um teatro, em boas condições, claro, fomenta as artes cênicas, integra as comunidades, aponta direções e empolga corações e mentes. Cursos em áreas diversas, como a música, elevam o espírito, trazem capacitação profissional e abrem as cortinas para outros universos, enquanto bibliotecas bem equipadas ampliam o conhecimento e significam diversão. Deixar os equipamentos culturais e o patrimônio histórico caindo aos pedaços é absurdo, algo como se as últimas páginas de um ótimo romance de suspense fossem arrancadas. Além de excelentes para os moradores, atraem visitantes e geram emprego e renda.
Prefeitos devem pensar, sempre, no cidadão que passa pelas ruas a caminho do trabalho, da escola, de um encontro com um amigo ou para ver o pôr do Sol com a namorada. Vias públicas devem ser tratadas com o maior carinho. Capricho, talvez, seja mais adequado. Não devem ter buracos, precisam de limpeza permanente, não podem ficar por horas seguidas com os sacos de lixo à mostra, demandam manutenção. O dinheiro do contribuinte está em cada esquina, em cada metro de pavimentação, nas mudas de árvores plantadas e no trabalho da Guarda Municipal.
Nada disso, no entanto, faz sentido se não houver segurança pública. Seu José, com seus 80 anos, tem o direito de ir ao supermercado e chegar em casa tranquilo e sereno, com os documentos no bolso, sem ser assaltado. Maria, de 20, universitária, não pode viver com medo de ser estuprada na volta de uma festa. Beto, morador da favela, deve ter seu ir e vir garantido, sem se sentir ameaçado.
Cada eleitor brasileiro tem seu candidato. A relação entre eles deve ser de mão dupla: te dou meu voto e quero responsabilidade. E se o prefeito ou vereador vier com a velha história da falta de recursos, que tal lembrar a eles que criatividade não tem preço?