A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central é a mais importante sinalização da política monetária pretendida pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Há tempos o economista tem mantido proximidade com a cúpula petista. Ainda durante a transição para o novo governo, Galípolo já era homem de confiança de Fernando Haddad. O chefe da equipe econômica, ao assumir o Ministério da Fazenda, nomeou Galípolo para ser secretário-executivo. Após um período na Esplanada, Galípolo foi indicado para outro posto estratégico, a diretoria de política monetária do Banco Central. Na semana passada, Haddad anunciou a nova missão do pupilo: o comando da autarquia.


Esse breve relato da trajetória recente de Galípolo mostra a boa interlocução que o escolhido para chefiar o Banco Central guarda com o alto escalão do governo e, por extensão, com o presidente da República. Essa condição é relevante na medida em que o titular do Planalto promove, há meses, uma guerra particular contra o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Por diversas vezes, Lula adotou um tom agressivo contra o chefe da autarquia, acusando-o de agir contra os interesses do país e de manifestar inclinações políticas ao bolsonarismo.


Terá o presidente da República a mesma postura severa com Gabriel Galípolo quando este estiver à frente do Banco Central, uma vez aprovado em sabatina pelo Senado Federal? A julgar pelas mais recentes declarações, há uma dúvida no ar. “Se tiver que aumentar os juros, aumenta. Mas tem que ter uma explicação”, ressaltou Lula em entrevista na última sexta-feira.


De sua parte, o indicado para assumir o Banco Central deu sinais claros de que fará o que julgar necessário para manter o controle da inflação -- assim como o próprio Campos Neto já havia dito reiteradas vezes. Ressalte-se que Galípolo expôs suas considerações sobre o futuro da política monetária do país ante a insistente e incômoda desconfiança do mercado sobre o compromisso do governo em zelar pela austeridade fiscal, condição sine qua non para manter a taxa de juros em patamar civilizado.


Com Galípolo no comando do Banco Central, a questão que se coloca é se a autoridade monetária adotará critérios técnicos para conduzir a política de juros, fazendo valer sua autonomia prevista em lei, ou se ficará vulnerável a rompantes provenientes do Palácio do Planalto. Estabilidade econômica não se obtém no grito; é resultado de planejamento, disciplina e boa técnica. Essa distinção precisa ficar muito clara nas futuras decisões de Galípolo e outros três diretores do BC a serem nomeados pelo presidente Lula até dezembro.

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