José Branco

Presidente na Sociedade Médica de Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB) do Brasil, faz parte da Direção Executiva do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), atua como diretor técnico do Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH) e é diretor médico da CloudSaúde

As queimadas no Brasil têm se tornado um problema crônico. Esse cenário é agravado pelo clima seco e pela falta de fiscalização eficiente. Nos últimos meses, os noticiários têm destacado a ocorrência frequente de incêndios florestais, o que levanta preocupações não apenas em termos ambientais, mas também em relação à saúde pública. O impacto das queimadas vai além da destruição da flora e fauna, estendendo-se ao aumento da incidência de doenças respiratórias e infecciosas, especialmente em populações vulneráveis.


Os incêndios florestais liberam grandes quantidades de poluentes, incluindo material particulado fino (PM2.5), monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, que são prejudiciais à saúde humana. Em cidades como Ribeirão Preto, onde a qualidade do ar já é comprometida por fatores urbanos, as queimadas agravam ainda mais essa situação. A inalação de partículas tóxicas pode desencadear uma série de problemas respiratórios, desde irritações leves até condições mais graves, como asma, bronquite e pneumonia.


A exposição prolongada a esse tipo de poluição é especialmente perigosa para crianças, idosos e pessoas com doenças pré-existentes. Em hospitais e unidades de saúde dessas regiões pode ocorrer um aumento significativo no número de atendimentos relacionados a problemas respiratórios nos períodos de maior ocorrência de queimadas. Isso pode gerar uma sobrecarga no sistema de saúde, comprometendo a capacidade de atendimento a outras condições médicas, criando um efeito cascata que afeta toda a população.


Além das doenças respiratórias, as queimadas podem criar condições propícias para a proliferação de doenças infecciosas. A destruição do habitat natural força animais silvestres a se aproximarem de áreas urbanas, aumentando o risco de zoonoses – doenças transmitidas de animais para humanos. Em um contexto, em que doenças como a febre maculosa e a leishmaniose já representam um desafio nas regiões afetadas, as queimadas podem amplificar esses riscos.


O aumento de casos de doenças respiratórias e infecciosas representa um desafio significativo para os gestores de saúde pública. As unidades de saúde, muitas vezes, não estão preparadas para lidar com o aumento repentino da demanda por serviços médicos. Além disso, os custos associados ao tratamento dessas doenças, somados à necessidade de intervenções emergenciais, como internações e uso de medicamentos específicos, impõem uma carga financeira adicional aos sistemas de saúde municipais e estaduais.


Além disso, a economia local também enfrenta impactos indiretos. A produtividade da população é afetada, seja pela incapacidade de trabalhar devido a doenças ou pela necessidade de cuidar de familiares doentes.


A relação entre queimadas e saúde pública é clara e alarmante. O aumento dos casos de doenças respiratórias e infecciosas nas regiões afetadas é um reflexo direto da degradação ambiental provocada pelos incêndios florestais. É essencial que gestores públicos, profissionais de saúde e a sociedade civil trabalhem de forma integrada para mitigar os efeitos das queimadas, tanto no curto quanto no longo prazo.


Medidas como o fortalecimento da fiscalização ambiental, campanhas de conscientização sobre os riscos das queimadas e a implementação de políticas de saúde pública voltadas para a prevenção e tratamento das doenças associadas são cruciais. Também é fundamental manter a carteira de vacinação em dia das crianças, idosos e portadores de doenças crônicas, além de garantir o ensino sobre educação ambiental nas escolas. Somente com uma abordagem multidisciplinar poderemos proteger a saúde das populações afetadas e preservar o meio ambiente, garantindo um futuro mais seguro e saudável para todos.

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