O debate sobre as potencialidades do hidrogênio verde indica que, mais do que oportunidades, o Brasil tem enormes desafios para obter ganhos consistentes com essa fonte de energia renovável. O marco regulatório sancionado recentemente é um avanço, mas problemas estruturais como carência de investimentos, falta de mão de obra e custos de operação demandam enorme esforço do governo para incentivar essa frente sustentável no setor energético.
Autoridades e especialistas reunidos em evento ocorrido na última quinta-feira na sede do Correio Braziliense destacaram a janela de oportunidade que se abre com o hidrogênio verde. Obtido a partir da eletrólise, processo químico que consiste no uso da energia elétrica para quebrar a molécula de água, esse gás se notabiliza por ser uma fonte de energia limpa, diferentemente dos combustíveis fósseis.
Houve avanços inegáveis do ponto de vista regulatório. A sanção do marco legal do hidrogênio verde, ocorrida no início de agosto, e a aprovação, pelo Congresso Nacional, da política de incentivo para a produção do combustível denotam o esforço das autoridades em criar regras e um ambiente favorável para o investimento nessa nova tecnologia. Sobre o projeto de lei de incentivos, à espera de sanção presidencial, registre-se a autorização para concessão de R$ 18,3 bilhões em créditos fiscais para quem atua na cadeia produtiva do hidrogênio verde.
Há dois pontos, no entanto, que demandam reflexão, pois dizem respeito a questões estratégicas para o Brasil. O primeiro é o ganho econômico que o hidrogênio verde pode gerar. Há quem defenda que essa fonte de energia renovável, de alto interesse no mercado internacional, sirva para fortalecer a neoindustrialização do país. Nesse sentido, o hidrogênio verde deve ser muito mais do que mais uma commodity na pauta de exportação brasileira. É preciso que essa nova tecnologia represente uma oportunidade para combater a desigualdade social, além de fortalecer a pesquisa e desenvolvimento em território nacional, com geração de emprego no país. É fundamental, pois, que o hidrogênio verde seja orientado para atender, em primeiro lugar, ao interesse nacional, e não às necessidades de grandes mercados consumidores.
O segundo ponto é um desafio comum a diversos setores da economia: a infraestrutura. Em uma das estimativas apresentadas no debate ocorrido nos Diários Associados, calcula-se que o Brasil precisaria investir quase R$ 200 bilhões além do orçado em redes de transmissão de energia renovável para a produção de hidrogênio. “Quem vai pagar essa conta?”, perguntou um dos participantes do debate. Um caminho são as instituições de fomento como bancos públicos. Mas investidores privados têm papel relevante nessa questão.
É certo que o Brasil deu passos importantes para o desenvolvimento do hidrogênio verde. Mas, além de atender ao meio ambiente, é preciso considerar essa fonte de energia como um fator de crescimento para a economia nacional e instrumento de redução da desigualdade social. Esses são desafios fulcrais no debate sobre transição energética.