Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

Os cristãos católicos de todo o mundo, com outros segmentos e instituições da civilização contemporânea, acompanham a etapa final do Sínodo convocado pelo Papa Francisco: todos na expectativa da Exortação Pós-Sinodal que vai ajudar a abrir horizontes para uma Igreja Sinodal, fortalecendo a comunhão, a participação e a missão. Trilhar com passos firmes na direção desse horizonte requer, de cada pessoa, atenção às conclusões e aos frutos do Sínodo, tendo em vista o resgate de valores e experiências que compõem o tesouro da fé cristã católica. Especialmente o envolvimento de todos os membros da Igreja, na condição de discípulos e discípulas missionários, no memorável percurso sinodal, é determinante para ajudar a sociedade a se pautar ao sabor do Evangelho de Jesus Cristo, no horizonte do Reino de Deus, a caminho dele.

Tenha-se presente a sábia ponderação do Papa Francisco ao convocar a Igreja a assumir o caminho da sinodalidade – precisamente o caminho que Deus espera que a Igreja trilhe no terceiro milênio. A interpelação do Santo Padre é fermento que faz crescer o processo de atualização da Igreja, nos trilhos do rico itinerário configurado a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965). A grande tarefa dos cristãos católicos é, com disposição místico-profética, aprender e atualizar processos capazes de fecundar a vivência da comunhão, impulsionar a participação de todos, gerando relevantes inclusões, e, assim, alcançar vigor maior na missão de anunciar o Evangelho de Jesus. Para isso, é preciso adotar a dinâmica do “caminhar juntos”, pois a Igreja é Povo de Deus, peregrino e missionário.

A decisão de caminhar juntos é alimentada pelo sentido de “pertença”, fecundado pela mística de uma comunhão que ultrapassa configurações ideológicas. A comunhão tem propriedade para fazer das diferenças uma grande riqueza, tornando-as alavancas construtivas. Por isso mesmo, se fala de conversão sinodal – que contempla novas formas de gerar inclusão, promover o diálogo, sempre, de modo a inspirar transformações na estrutura da Igreja e de toda a sociedade. O propósito é consolidar a compreensão da igualdade de todos na condição de testemunhas do amor: cada pessoa deve se reconhecer participante e colaborador na caminhada do Povo de Deus. A participação e a colaboração na Igreja não podem ser vivenciadas sem os dons e os carismas do Espírito Santo, distinguindo-se, assim, daquelas que são próprias dos clubes de amigos, das organizações com finalidades estritamente sociais ou políticas.

A grande meta da Igreja é anunciar o Evangelho, e, por seu anúncio, investir na construção de uma sociedade justa e solidária. Todos que integram as comunidades de fé cristãs-católicas têm responsabilidades e são instados a contribuir. Isto significa, dentre outras missões, promover o diálogo na reconstrução permanente da democracia, semeando a solidariedade e a amizade social. Preciosa é a indicação do Papa Francisco, uma pérola sapiencial, com força para desmontar pretensões humanas mesquinhas, quando disse, no contexto da pandemia, que “ninguém se salva sozinho”. A indicação do Papa deve inspirar o enfrentamento das desigualdades vergonhosas na sociedade. Inspirar também o caminho sinodal, para que a Igreja assuma, sempre mais, a sua missão de irmanar a grande família humana, semeando brotos de esperança.

Caminhar juntos, na expectativa esperançosa do que virá deste processo sinodal, é redobrar a atenção para a vivência do tesouro da fé, que fortalece o coração humano na luta pela superação de sofrimentos, exclusões, disputas políticas e tantos outros males que são nascedouro de guerras. De fato, não se trata de simplesmente nutrir expectativas por respostas elaboradas em instituições organizacionais. Significa abrir-se, misticamente, ao Espírito Santo, que continua a agir na história, manifestando seu poder vivificante, a despeito de infidelidades, preconceitos e atitudes apequenadas do ser humano. Não é hora de restringir interesses a pautas determinadas, como se algumas delas fossem, de fato, alavancas para grandes mudanças. O momento pede o florescer de novas linguagens de fé, com a adoção de percursos marcados pelas belezas da espiritualidade cristã, para alimentar a cultura da amizade social e, assim, constituir contexto favorável à consolidação de um mundo mais justo e solidário.

Levar ainda mais sinodalidade à Igreja é o resultado que se espera do Sínodo atualmente vivido em Roma, qualificando o tecido relacional da própria Igreja, em conformidade com o ensinamento de Jesus – quem quiser ser o maior, seja o servo de todos. O rico caminho da celebração do Sínodo trará indicações e procedimentos capazes de alimentar a espiritualidade do “caminhar juntos”, enfrentando preconceitos e tendências excludentes, por divergências humanas ou escolhas ideológicas. A oportunidade é para um novo momento rico de semeadura do Evangelho no mundo, por meio de uma Igreja Sinodal, vivenciada como lugar de comunhão e participação, para alcançar o vigor missionário. E o exercício da missão é tarefa nobre, capaz de oferecer à humanidade o sentido pleno do viver humano, reconfigurando estilos de vida na casa comum, a partir de uma espiritualidade que privilegie o compromisso com os pobres. Com esperança e gratidão, é importante aguardar e acolher o que vem no horizonte, por uma Igreja Sinodal, de comunhão e participação, com vigor na missão.