De acordo com dados do Inep, mais de 5 milhões de candidatos realizaram a inscrição para as provas do Enem 2024, que acontecem nos dias 3 e 10 de novembro. A possibilidade de ingresso em um curso universitário leva os candidatos a terem uma ampla preparação ao longo do ano, o que envolve aspectos importantes, como o estudo aprofundado de cada uma das disciplinas, a realização de simulados e a organização do tempo. Entre tais aspectos, a saúde mental dos estudantes se destaca como um dos mais relevantes, embora frequentemente seja esquecido pelas famílias e até mesmo pelas instituições de ensino.


De acordo com um levantamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS), a taxa de ansiedade entre adolescentes de 15 a 19 anos, principal faixa etária dos candidatos ao Enem, é de aproximadamente 157 casos a cada 100 mil jovens, em comparação com uma taxa de 112,5 por 100 mil entre adultos com mais de 20 anos. É a primeira vez na história em que os índices de ansiedade entre a população jovem são maiores que os da população adulta.


Esses dados mostram a importância de oferecer atenção especial a esse fator, especialmente no período de preparação para o Enem, quando a pressão por resultados e o impacto das expectativas podem ser ainda mais intensos.


A preparação para as provas é longa, e os adolescentes podem enfrentar diversas mudanças internas, o que dificulta a tomada de decisões importantes. Embora possam exibir maturidade em diversos aspectos, estão em constante processo de desenvolvimento emocional e pessoal, tornando-os vulneráveis, principalmente em relação às escolhas e pressões sobre o futuro. Eles lidam com uma pressão externa significativa, sendo frequentemente questionados sobre seus planos e quais caminhos vão seguir. Contudo, quando não têm respostas definitivas, a cobrança aumenta, e essa sobrecarga emocional pode ser muito difícil de lidar.


Nesse contexto, a cobrança excessiva para que os adolescentes cheguem à universidade o mais rápido possível e definam uma carreira, como se essa escolha determinasse toda a sua vida, pode ser extremamente prejudicial. Assim como os gostos e interesses mudam ao longo do tempo, os jovens também estão em um processo contínuo de autodescoberta e podem perceber que suas escolhas iniciais não refletem mais o que realmente desejam. Por isso, é essencial encontrar o equilíbrio entre oferecer orientação e evitar uma pressão excessiva sobre essa escolha.


A alta carga de estudos durante o percurso também pode impactar a saúde mental dos estudantes de várias maneiras. Manter o foco por longos períodos exige uma grande capacidade de concentração e é fundamental equilibrar o tempo de estudo. Portanto, fazer pausas regulares e garantir uma boa alimentação e hidratação são práticas que ajudam a manter o cérebro ativo e saudável. Esse tipo de interrupção, envolvendo atividades mais relaxantes, é muito mais eficaz para o processo de aprendizagem do que tentar manter longas horas de estudo ininterrupto, que desgastam mentalmente e fisicamente.


Além disso, do ponto de vista escolar, é primordial promover um ambiente saudável e amigável ao longo do processo de aprendizagem, priorizando a cooperação. Criar uma rede de apoio que vá além das amizades é um diferencial e incentivar a formação de grupos de estudo, onde os estudantes possam trocar resumos, mapas mentais e se comunicar de forma eficaz, fortalece esse desenvolvimento acadêmico.


As famílias desempenham um papel essencial nesse processo e precisam entender que os adolescentes não devem enfrentar tudo sozinhos, especialmente no que diz respeito à saúde mental. Nessa fase da vida, é comum que os pais deem mais liberdade, acreditando que os jovens consigam lidar com todas as situações por conta própria. No entanto, mesmo que os adolescentes sejam capazes de enfrentar muitos desafios, o apoio da família continua sendo fundamental em um período tão atípico.


É necessário que os pais estejam sempre atentos ao desenvolvimento de seus filhos, oferecendo uma cobrança equilibrada. Embora seja importante ter expectativas e incentivar o crescimento, essa pressão deve ser controlada. A família deve acompanhar o adolescente, caminhando ao seu lado e fornecendo suporte, mas sempre mantendo um equilíbrio que permita ao jovem enfrentar os desafios sem se sobrecarregar.


Além disso, os adolescentes precisam de um gerenciamento cuidadoso, apoio constante e, muitas vezes, de orientação. Portanto, é imperativo que os pais e responsáveis estejam presentes, oferecendo conselhos e sugerindo alternativas. Manter-se ao lado do filho e estar atento aos sinais de problemas emocionais e comportamentais é crucial, especialmente durante uma fase em que os jovens correm risco de apresentar comportamentos que podem acarretar em depressão, anorexia, automutilação e vulnerabilidade a vícios. Observar atentamente esses detalhes, fornecer orientações adequadas e buscar ajuda profissional quando necessário é indispensável para oferecer um suporte adequado aos estudantes.


Todos esses fatores possuem um impacto significativo em uma preparação saudável e eficiente para o Enem. A combinação de um estudo bem estruturado, o apoio constante da família e a valorização da saúde mental dos estudantes no ambiente escolar e familiar são fundamentais para que cada jovem possa realizar seu sonho e iniciar com sucesso uma trajetória no mundo universitário.

 

Fernanda Sampaio

Orientadora Educacional das Séries Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio da unidade do Rio de Janeiro da Rede de Colégios Santa Marcelina

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