Roberto Rossatto

Vice-almirante (fuzileiro naval), comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra

 


O mês de outubro promete agitar o "Mar de Minas". Desde ontem ao dia 20, a Marinha do Brasil (MB) realiza a Operação Furnas 2024, um dos maiores treinamentos militares da região, que terá a participação de 1.100 fuzileiros navais brasileiros. A operação, que vem atraindo cada vez mais interesse internacional, conta, pela primeira vez, com até 30 militares estrangeiros, oriundos de 13 países. Alemanha, Argentina, Camarões, China, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Espanha, França, Itália, México, Nigéria, Países Baixos e Peru deverão enviar militares para participar do treinamento.


A região é estratégica para o Brasil, já que o Lago de Furnas é uma das maiores represas fluviais do planeta. O chamado “Mar de Minas” banha 34 municípios, possui massa d’água quatro vezes maior que a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e seu contorno corresponde à quase metade da costa brasileira. O ambiente é propício para atividades que integram mar, ar e terra, conciliando o uso de meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais.


Além de ser a responsável pela proteção da Amazônia Azul, a Marinha também zela pela segurança dos nossos rios, lagos e águas interiores. O que justifica o aumento constante do deslocamento de tropas para Minas Gerais, com destaque para a região de Furnas.


O treinamento contará com o emprego de helicópteros, veículos blindados e anfíbios, além de embarcações de transporte de tropa. Durante a Operação Furnas 2024, os fuzileiros navais desdobrarão Força de Paz de Reação Rápida. Trata-se da primeira e única tropa do Brasil a atingir o nível máximo de capacitação operacional da ONU, sendo atualmente a única disponível no mundo que pode ser empregada, imediatamente, em qualquer missão de paz.


O exercício militar tem como propósito o treinamento de Unidades da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) integradas aos meios aéreos e embarcações da Marinha do Brasil em Operações Ribeirinhas, de Paz e Interagências, com a participação de órgãos estaduais e municipais.


Nesse caso, serão desenvolvidos treinamentos de assistência humanitária, assalto ribeirinho, transposição de curso d'água, além de missões de combate envolvendo aeronaves da Marinha. A atuação da FFE em Minas Gerais contribui para uma maior presença da Marinha nas áreas em torno do Lago de Furnas, garante a segurança na região e otimiza a capacidade de resposta em casos de emergência.


O comando da FFE conduzirá um workshop interagências de cooperação com a Defesa Civil, reunindo agências correlatas do estado de Minas Gerais. O evento é importante para promover o conhecimento mútuo sobre as capacidades e limitações das instituições envolvidas e incrementar a cooperação em ações de assistência humanitária, visando soluções preventivas e respostas eficazes em situações de potenciais desastres na região.


Graças à parceria profícua com a Eletrobras Furnas, a Marinha do Brasil estabeleceu em São José da Barra a Delegacia Fluvial de Furnas (DelFurnas), com o intuito de ampliar a segurança aquaviária e a preservação ambiental do principal ponto turístico do Sul de Minas. A DelFurnas, subordinada à Capitania Fluvial de Minas Gerais (CFMG), localizada em Belo Horizonte, como autoridade fluvial, atua na salvaguarda da vida humana, na segurança da navegação e na prevenção da poluição hídrica.


Em 2022, o fortalecimento dessa parceria permitiu à MB ativar uma Base Aérea Expedicionária (BAE) no antigo aeroporto de Furnas, que estava desativado desde 2011. A BAE, que conta com uma pista de 1.700m de comprimento por 30m de largura, um hangar e uma torre, aumentou consideravelmente a presença da Força Naval na região, que passou a dispor, permanentemente, de um destacamento de fuzileiros navais. Além disso, sua utilização permite importante incremento no apoio às operações ribeirinhas e ao Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA).


A Operação Furnas 2024 reforça o compromisso da Marinha com o estado de Minas Gerais e, em especial, com o “Mar de Minas”, além de contribuir diretamente para manter seus fuzileiros navais como força estratégica, em permanente condição de pronto emprego, com plena capacidade anfíbia e expedicionária, aptos a atuar imediatamente em qualquer lugar do país ou no exterior, conforme determina a Estratégia Nacional de Defesa. Indubitavelmente, o "Mar de Minas" estará, em outubro, no centro do mundo.

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