Com atividades previstas entre amanhã e quinta-feira em Kazan, na Rússia, os líderes do Brics voltam a se reunir. Será o primeiro encontro após a ampliação do bloco, que admitiu as entradas de Arábia Saudita, Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes – Arábia Saudita ainda não aceitou formalmente o convite. Juntos aos veteranos Brasil, Índia, China e África do Sul, além do anfitrião desta cúpula, o colegiado terá na pauta o desafio de buscar propostas possíveis para o fim do conflito envolvendo Israel, Hamas e Hezbollah. Um posicionamento crítico em relação à guerra é esperado por parte dos integrantes do grupo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu um acidente doméstico no sábado e recebeu orientação médica de evitar viagem aérea de longa distância. Por isso, cancelou ontem a ida ao evento internacional, mas confirmou que participará por videoconferência das discussões. Lula vem demonstrando apoio à causa palestina desde o início da crise humanitária em Gaza. Ao mesmo tempo, tem atacado a estratégia bélica do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no Oriente Médio – postura que também abre perspectivas de comércio e investimentos com o mundo árabe. O Brics é uma oportunidade singular para marcar uma posição de destaque global.

Outro tema a ser tratado – e considerado de extrema relevância para a delegação brasileira – é a criação da categoria de “países parceiros”. Nessa modalidade haveria a possibilidade de adesão ao bloco sem as mesmas prerrogativas dos "membros plenos". Para o modelo ser aprovado, o que é uma expectativa do governo federal, compromissos e critérios precisam ser firmados.

No próximo ano, o Brasil estará na presidência do Brics e o desejo de Lula é avançar na reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), um pleito que ele defende com veemência. Cada vez mais, o Itamaraty tenta viabilizar que o bloco seja capaz de participar dos grandes debates no cenário internacional. Competir em condições iguais com grupos considerados potências econômicas é outro ponto que a diplomacia brasileira tem colocado à mesa.

Transformar o Brics em um efetivo mecanismo de cooperação multilateral é uma das metas principais de seus integrantes. A colaboração entre os mercados emergentes e os países em desenvolvimento tem sido o foco do coletivo e agora, com sua ampliação, fica ainda mais evidente esse objetivo. O que falta, então, é partir para a ação e colocar em prática medidas de amplo alcance. Não se pode esperar a próxima cúpula, em 2025, para possibilitar um papel maior do Brics na governança global.

Estabelecer um modelo fundado na harmonia entre as nações e com uma visão mais igualitária sobre as questões sociais é uma demanda urgente. Diante da ampliação de conflitos armados, que evoluem de maneira cruel, organismos internacionais devem se mostrar capazes de responder à altura para restabelecer a ordem.

O Brasil pode fazer a diferença nesse avanço. É o momento de encontrar formas de convencimento para melhorar as relações entre os países, em todas as suas formas, de modo a garantir que as populações possam viver com segurança e dignidade.

 

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