Seis pessoas foram baleadas durante troca de tiros entre a Polícia Militar (PM) e criminosos no Complexo do Israel, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira, das quais três faleceram. Renato Oliveira, de 48 anos, passageiro do ônibus da linha 493B que ia de Ponto Chic para a Central, não sobreviveu após ser atingido na cabeça. Além dele, o motorista de aplicativo Paulo Roberto de Souza, de 60, teve perfuração na cabeça e chegou ao hospital sem vida. Ontem, Genilson Eustáquio Ribeiro, de 49, que era motorista de caminhão e teve uma perfuração no crânio, apesar de operado, também faleceu. O tiroteio interditou a Avenida Brasil, mais uma vez.

Com 58,5 quilômetros de extensão, a Avenida Brasil corta 26 bairros da cidade. A mais importante via expressa carioca liga a Zona Portuária a Santa Cruz, na Zona Oeste da capital fluminense. É o maior trecho urbano da BR-101, o elo entre a BR-101 norte (Ponte Rio-Niterói e Rodovia Rio-Vitória/Niterói-Manilha) e a BR-101 sul (Rodovia Rio-Santos). Também faz parte do percurso da BR-040, da BR-116 e da BR-465 – ou seja, é ponto de chegada de todas as rodovias federais que passam pela cidade. Por ela, circulam os veículos oriundos da Baixada Fluminense, da Região Serra, do Sul Fluminense, de Minas Gerais e de São Paulo. O fluxo médio é de 800 mil veículos por dia.

Na última segunda-feira, houve mais um dos violentos confrontos de grupos criminosos com a polícia, ou entre si, pelo domínio da Zona Oeste do Rio. Quase 30 ônibus, em diferentes pontos da região, foram alvos de incêndios criminosos. Os incêndios teriam sido provocados em represália à morte de Matheus da Silva Rezende durante troca de tiros com agentes policiais. Conhecido como Faustão ou Teteu, ele era sobrinho de Zinho, chefe de uma das principais milícias da região.

O Comando Vermelho (CV), facção criminosa originalmente focada no tráfico de drogas, se aliou a milicianos da Zona Oeste para controlar as comunidades na região, nas quais exploram o comércio ilegal de drogas e de produtos e serviços, como a venda de gás de botijão, acesso a internet, transporte por van e outros. Milicianos e traficantes, indistintamente, atuam da mesma forma.

A maior milícia do Rio, a Liga da Justiça, está na região há 15 anos, a pretexto de combater o tráfico de drogas. Policiais civis e militares, bombeiros, guardas municipais e integrantes das Forças Armadas, além de criminosos comuns, integram o bando. Após a morte do chefe miliciano Ecko (Wellington da Silva Braga), em junho de 2021, o irmão dele, Luiz Carlos da Silva Braga, o Zinho, e um ex-aliado, Tandera (Danilo Dias Lima), passaram a disputar bairros. Com a milícia fragilizada, o CV rompeu o pacto de convivência e passou a tomar as áreas disputadas. Quando isso ocorre, a polícia fluminense entra em campo – muitas vezes para favorecer as milícias.

Os fatos revelam que o sistema de segurança pública do Rio de Janeiro é ineficaz e falta comando. O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), chegou a comemorar a morte de Matheus como um grande feito da Polícia Civil, mas a violência aumentou e está fora de controle. E não é de agora. No ano passado, o estado registrou 3.388 mortes violentas (média de nove por dia) e 233 a mais que as 3.155 registradas em 2022, uma alta de 7,4%. Castro perdeu o controle da situação e está refém do crime organizado, que se infiltrou no aparelho de segurança do Estado, o que explica a situação.

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