As abstenções no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano caíram 1,5 ponto percentual na comparação com a edição de 2023 – 26,6% contra 28,1%. Nos últimos cinco anos, a tendência era de crescimento. Os percentuais mais elevados foram registrados em 2020 (55,3%) e 2021 (67%), devido à pandemia de Covid-19. Apesar de tímida, a queda no número de faltosos sinaliza que a criação do programa Pé-de-Meia, que garantiu R$ 200 para os estudantes de famílias inscritas no CadÚnico que comparecessem ao exame, começou a surtir um dos resultados esperados pelo Ministério da Educação (MEC).

Há outros indícios positivos. Entre os mais de 4 milhões de inscritos no Enem 2024, o número de jovens que concluíram o ensino médio aumentou de 1,18 milhão, em 2023, para 1,66 milhão na edição deste ano. Os formandos do ensino médio na rede pública passaram de 53%, em 2023, para 94% em 2024. Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, em vários estados, eles chegaram a ser 100% – o DF foi um deles – com base no Censo Escolar.

Os números são, de fato, animadores, mas o estímulo à permanência dos estudantes nos bancos escolares passa também pela valorização dos professores. Nesse sentido, o anúncio de um novo formato do Pé-de-Meia feito, na semana passada, pelo governo federal chama a atenção. A versão licenciatura terá como objetivo incentivar a formação de professores para suprir o déficit de profissionais nas unidades de ensino. Um desafio tão ou mais complexo quanto o ingresso nas universidades.

Os estudantes que optarem pela licenciatura nas diferentes áreas do conhecimento receberão uma bolsa mensal superior a R$ 500. A intenção do MEC é se espelhar no programa Mais Médicos, a fim de que não faltem professores em nenhuma parte do país. Mais detalhes do projeto deverão ser anunciados nos próximos dias.

De antemão, despertar o interesse dos jovens pela carreira de docentes exigirá muito do governo. Hoje, há uma crise no setor, uma vez que os professores estão entre as categorias menos valorizadas no país. A pesquisa Perfil e desafios dos professores de educação básica no Brasil, realizada pelo Instituto Semesp, do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior com 444 docentes do ensino infantil ao médio, de todas as regiões do país e das redes pública e privada, mostra que quase 80% pensaram em desistir da carreira.

Os motivos são: falta de valorização e estímulo da carreira (74,8%), começando pelos baixos salários da categoria. Na sequência, a falta de disciplina e de interesse dos alunos (62,8%), falta de apoio e de reconhecimento da sociedade (61,3%) e falta de envolvimento e participação das famílias dos alunos (59%). As diferentes expressões de violência também reforçam o desestímulo de boa parte dos profissionais. Diante de um cenário tão complexo, cabe perguntar se também não é importante melhorar as condições de trabalho de quem já atua na docência.

Aumentar o número de professores e tornar real a universalização do ensino no Brasil é, sem dúvida, um dos grandes desafios do Estado. O êxito dependerá não só do governo federal, mas dos governos estaduais e municipais, a fim de tornar concreto o discurso de que a educação é prioridade para o desenvolvimento do país e para a erradicação das iniquidades sociais e econômicas.