O negacionismo em relação ao aquecimento global e suas consequências para o planeta ganhará um novo impulso com a eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. Suas consequências não decorreram apenas das decisões de Trump, mas também do incentivo a outros atores negacionistas espalhados pelo mundo, inclusive aqui no Brasil.


Trata-se da rejeição ou negação da existência, das causas, da gravidade ou das consequências das mudanças climáticas. Há evidências científicas de que o aquecimento global é real, decorre das atividades humanas e tem consequências sérias para o planeta. Entretanto, muitos acham que é um fenômeno apenas natural, que não decorre da queima de combustíveis fósseis.


O clima está mudando, demonstram os eventos extremos ocorridos recentemente, como as enchentes no Rio Grande do Sul, aqui no Brasil, e em Valência, na Espanha. Mas o negacionismo rejeita o impacto da atividade humana nesses fenômenos. Tudo seria consequência de ciclos naturais da Terra e variações do sistema solar, segundo essa perspectiva.


Na verdade, há grandes interesses econômicos por trás do negacionismo, principalmente os da cadeia produtiva do carbono (petróleo e gás, principalmente), que se opõem à regulamentação ambiental que limita essas atividades. São esses interesses que financiam e fomentam a desinformação e argumentos pseudocientíficos. As principais consequências são o retardo de medidas para combater o aquecimento global e, sobretudo, eventos climáticos extremos, aumento do nível do mar, perda de biodiversidade e impactos na saúde humana.


Nesse contexto, eleito nos Estados Unidos, Trump pode ser um grande entrave aos esforços para conter o aquecimento global. Em 2017, no seu governo, os EUA saíram do Acordo de Paris. Agora, isso pode se repetir. Como maior emissor histórico de gases de efeito estufa (GHG), o país, ao retomar essa postura, minaria a confiança no acordo e os esforços internacionais coordenados para conter o aquecimento global. A retirada dos EUA torna mais difícil alcançar as metas climáticas globais.


Quando foi presidente, Trump incentivou a extração de carvão, petróleo e gás natural e eliminou regulações ambientais que protegiam áreas públicas e ecossistemas frágeis, como o Clean Power Plan (Plano de Energia Limpa), de Obama, que visava reduzir as emissões de carbono das usinas de energia. Retomado por Biden, esse plano deve subir no telhado mais uma vez. Mais de 100 regulações ambientais, incluindo proteções para cursos d’água, florestas, espécies ameaçadas e padrões de eficiência de veículos, correm o risco de serem revogadas novamente.


Além de prejudicar os esforços dos EUA para reduzir suas emissões de carbono, Trump aumentou a degradação ambiental em diversas regiões, com efeitos a longo prazo sobre a saúde pública e os ecossistemas. Chegou a questionar o papel das mudanças climáticas em eventos extremos. O aquecimento global seria uma “farsa” ou “invenção”.


China e União Europeia provavelmente assumirão um papel de liderança nas negociações climáticas, mas a falta de cooperação dos Estados Unidos enfraquece o progresso nas cúpulas climáticas internacionais. Para o Brasil, que se prepara para sediar a 30ª Conferência Mundial do Clima, em novembro do próximo ano, em Belém do Pará, o novo contexto criado pela eleição de Trump exigirá esforços redobrados para garantir o sucesso do evento. Exigirá, sobretudo, o exemplo.

 

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