O Brasil sedia, na próxima semana, o encontro anual do G20. Entre 18 e 19 de novembro, as 20 principais economias do mundo, entre outras convidadas, vão discutir o futuro e o presente do planeta no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. Como atual líder do grupo, a partir de uma presidência que alterna entre os membros todos os anos, a agenda é uma oportunidade de ouro para a diplomacia brasileira se posicionar como protagonista entre as nações do chamado Sul Global.

Em primeiro lugar, é preciso explicar que o termo “Sul Global” já teve outras vestimentas na geopolítica. Já foi conhecido como “países subdesenvolvidos e em desenvolvimento”. Essa roupagem, no entanto, é a mais indicada para definir, no momento, o grupo de países que inclui nações como o Brasil, a China, a Argentina e a Índia, além da União Africana, que vai participar do encontro pela primeira vez com uma cadeira permanente.

A história do mundo como conhecemos é contada a partir da ótica de quem domina os meios de produção e, por consequência, a economia. Países colonizados, como o Brasil, dificilmente têm a oportunidade de se sentar à mesa ao lado de líderes mundiais dos Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e Canadá, só para citar alguns exemplos. Portanto, reuniões como a do G20 configuram uma chance para sustentar pontos de vista que favoreçam o Sul Global.

Nesse sentido, o Brasil conta com trunfos que vão além da momentânea presidência do G20. Historicamente, nosso país é visto a partir de uma diplomacia pragmática e objetiva, que evita conflitos para ter bom trânsito em todos os corredores. É a receita para poder se sentar à mesa com quem quer que seja. A história mostra isso: o último conflito com participação direta brasileira aconteceu há 150 anos, a Guerra do Paraguai.

O momento geopolítico, no entanto, se mostra desafiador até para quem opta pelo pragmatismo. As guerras em curso no território ucraniano, a partir da invasão russa, e no Oriente Médio, em diferentes frentes, por meio das ofensivas israelenses, evidenciam riscos diplomáticos para todas as nações.

Mas, onde há risco, há também a possibilidade de se mostrar influente. No ano passado, a cúpula do G20 deixou a Índia, onde o encontro de 2023 aconteceu, com uma declaração final insossa, após muita discordância entre os países membros. As divergências pousaram, principalmente, sobre os tratamentos antagônicos acerca dos dois conflitos citados.

Enquanto a parte mais rica do bloco – o chamado G7 – defendia a condenação da Rússia no texto, algo que o Kremlin, evidentemente, contestava, outra fatia cobrava o mesmo tratamento a Israel, diante dos constantes ataques aos palestinos na Cisjordânia. Ofensivas essas que, atualmente, se estenderam também ao Líbano e à Síria.

Neste ano, a partir do histórico heterogêneo do Itamaraty, o Brasil tem a oportunidade de costurar uma declaração final do G20 assertiva, que problematize os dois conflitos, mas também outros assuntos de interesse da população mundial, como o desenvolvimento sustentável, o combate à desigualdade social e a efetiva participação de todas as nações nos avanços tecnológicos, a partir de uma maior inclusão digital no que tange à inteligência artificial.

Além de se fortalecer globalmente, o Brasil pode sair do encontro da semana que vem como uma verdadeira liderança do Sul Global. Como bem destacou o professor Dawisson Belém Lopes, da UFMG, em podcast recente gravado pelo G20, nosso país é um dos quatro que figuram no top-10 mundial em tamanho territorial, população e economia, ao lado dos Estados Unidos, da Índia e da China.

A missão está nas mãos da equipe coordenada pelo embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o sherpa (denominação importada dos povos e guias que habitam o Himalaia e ajudam alpinistas a chegarem ao topo do Everest) escolhido pelo presidente Lula (PT) para representar o Brasil na ocasião.

compartilhe