O presidente Joe Biden, primeiro mandatário norte-americano a visitar a Região Amazônica, fez uma doação de US$ 50 milhões ao Fundo Amazônia logo depois de desembarcar, no domingo, em Manaus. Em seguida, voou para o Rio de Janeiro para participar da reunião da Cúpula do G20, iniciada ontem, que reúne os países mais ricos do mundo. São milhares de quilômetros de distância entre uma cidade e outra, mas, nesta semana de fortes negociações internacionais, as capitais estão aproximadas pela urgência da adoção de medidas que, de fato, contenham a crise climática.
A possibilidade de a doação de Biden chegar aos cofres do Fundo Amazônia é bastante remota. O democrata está na reta final do mandato e entregará as chaves da Casa Branca a Donald Trump, que, em janeiro de 2025, inicia o seu segundo governo como presidente dos Estados Unidos e dá sinais claros de que, como na primeira gestão, não investirá em medidas de combate às mudanças climáticas. Ao contrário, ele alega não acreditar no aquecimento global. Além disso, o dinheiro prometido precisa ser aprovado pelo Congresso norte-americano, onde o Partido Republicano, de Trump, fez maioria nas últimas eleições gerais.
Ao contrário do que prega Trump, desmatamento e queimadas de florestas, emissão de carbono das indústrias, poluição de rios e mares são fatores indissociáveis das alterações climáticas. Estudos científicos e registros sucessivos de fenômenos extremos são a prova disso. No Brasil, as enchentes na Região Sul causaram inéditos e gravíssimos danos materiais e perdas de vida. Biden conheceu uma floresta afetada por uma seca rigorosa histórica, em que cursos d’água caudalosos, como o Rio Negro, secaram e deixaram várias comunidades isoladas.
Pelo resto do mundo, os extremos causam estragos e surpresas – como a neve que se acumulou, pela primeira vez, no deserto da Arábia Saudita, no início deste mês. As dificuldades em enfrentar o problema também são extensas, não se limitando ao futuro governo americano. Em sua semana decisiva, a 29ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP29), em Baku, capital do Azerbaijão, tem como objetivo definir a contribuição dos países para o enfrentamento das mudanças climáticas. É forte, porém, o temor de que o objetivo não saia do papel.
A quatro dias do encerramento da COP, os representantes do Brasil na conferência, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o embaixador André Corrêa do Lago, chefe da delegação brasileira, retornaram ao Brasil para tentar sensibilizar e pressionar os líderes de países ricos, reunidos no G20, para que definam com quanto irão contribuir. Segundo cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU), será necessário arrecadar US$ 1 trilhão por ano, até 2030, para enfrentar e adequar os países mais pobres à nova realidade.
Ante o aumento do aquecimento global, eventos climáticos cada vez mais danosos à vida humana e às cidades, no entendimento das Nações Unidas, não há mais tempo a perder. Não bastam boas intenções. É imprescindível e urgente a construção do consenso entre as nações a fim de tornar reais as intervenções indispensáveis para mitigar os danos das alterações do clima e garantir a continuidade da vida no planeta. Anfitrião dos países mais poderosos do planeta nesta semana, da COP do ano que vem e dono de uma das maiores biodiversidades do planeta, o Brasil é peça-chave nesse desafio vital.