Ronaldo Scucato

Presidente do Sistema Ocemg

A decisão da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (Unesco) de tornar os Modos de Fazer Queijo Minas Artesanal Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade é justa, merecida e há muito tempo esperada por nós, mineiros e brasileiros, apaixonados pela tradição e sabor dessa iguaria. Estamos orgulhosos, mas não surpresos, com essa conquista porque sabemos da qualidade, do trabalho e do cuidado existente, especialmente da porteira para dentro, para que possamos todos desfrutar desse produto tão querido que é o Queijo Minas Artesanal. Nosso orgulho é ainda maior por saber que este é o primeiro produto da cultura alimentar a ser incluído na lista representativa de Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco.


A reflexão que faço neste momento, contudo, vai muito além da conquista em si. O que, afinal, está por trás desse reconhecimento tão divulgado e tão aplaudido na última semana? Costumo dizer que, quando o filho está crescido, bonito e bem-sucedido, todo mundo gosta, sente orgulho e parte da criação. Porém, só quem realmente está no dia a dia do processo sabe das dificuldades reais e do quanto é difícil obter o reconhecimento local, estadual, nacional e agora internacional. E foi justamente esse o caminho percorrido pelo Queijo Minas Artesanal, seus produtores e apoiadores, que não são poucos.


Vale destacar aqui, nesse sentido, o trabalho árduo e necessário realizado de forma comprometida com o desenvolvimento das pessoas e das regiões produtoras para adequar os modos de produção aos padrões de qualidade exigidos, sem perder, é claro, as características que tornam o queijo artesanal mineiro único. É aqui que entra novamente a relevância e atuação do cooperativismo mineiro, especialmente dos ramos agropecuário e crédito, que há décadas apoia os produtores de queijo artesanal no desafio de ampliar sua participação de mercado. O setor historicamente contribui com os produtores no âmbito de consultorias técnicas para boas práticas, acesso a recursos financeiros e orientação estratégica para atender às exigências sanitárias, sem comprometer a autenticidade do produto.


Pouca gente sabe, mas a primeira pesquisa científica que sistematizou o passo a passo da produção artesanal de queijo, desde a filtração do leite até a maturação, foi financiada pelo Sistema Ocemg – entidade de representação das cooperativas no estado. Este estudo contribuiu para viabilizar o reconhecimento dos Modos de Fazer Queijo Minas Artesanal como patrimônio cultural de Minas Gerais, em 2002; do Brasil, em 2008; e, agora, da Humanidade. Temos muito orgulho de ter participado de todo o processo histórico de fortalecimento desse produto até a salvaguarda e reconhecimento internacional.


Além disso, vale destacar nosso trabalho também na revisão de normas e legislações que dificultam a internacionalização do produto. Um bom exemplo disso foi a atuação para derrubar a proibição da fabricação de queijo com leite cru, essencial para o queijo produzido na serra da canastra. Esse trabalho legalizou a produção, reposicionando Minas Gerais no mapa gastronômico global. Tanto que, em 2022, o Queijo Minas Artesanal produzido nessa região foi eleito o melhor do mundo pelo site americano TasteAtlas.


Essas conquistas são históricas e merecem, mais que ser celebradas, ser registradas para lembrar que o trabalho até aqui não foi fácil e que seguirá em prol do desenvolvimento dos produtores, do cooperativismo, do estado e do mundo inteiro, que agora conhecerá melhor o Queijo Minas Artesanal. Nosso estado não apenas reafirma sua posição como berço do queijo artesanal brasileiro, mas também mostra ao mundo o impacto que a cooperação e a resiliência podem ter na preservação de culturas e no fortalecimento de economias locais. Mais do que um título, este é um legado compartilhado entre produtores, cooperativas e comunidades, com potencial de inspirar o futuro. O recente reconhecimento internacional, certamente, impulsionará oportunidades de aumento do turismo gastronômico nas regiões produtoras, gerando ainda mais desenvolvimento para Minas Gerais, consolidada como maior estado produtor de leite e queijo do Brasil.