O transtorno do espectro autista (TEA) tem sido amplamente estudado pela comunidade médico-científica no nosso século e é cada vez mais discutido pela sociedade. No entanto, embora a compreensão sobre a condição tenha aumentado, a jornada de muitas pessoas com autismo é marcada por um diagnóstico tardio, especialmente aquelas que se enquadram no nível 1, onde as características são menos evidentes e podem ser confundidas com traços de personalidade ou dificuldades sociais comuns.


O número de diagnósticos de pessoas com TEA teve um aumento expressivo nas últimas décadas. Para se ter uma ideia, em 2004, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças revelou que a prevalência de autistas nos Estados Unidos era de 1 para cada 166 crianças. Em 2012, esse número estava em 1 para 88. Em 2018 chegou a 1 em 59. Atualmente, o mesmo Centro de Pesquisas revelou que existe 1 autista para cada 36 crianças.


No Brasil, estima-se que 2 milhões de pessoas convivam com o TEA, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem cerca de 70 milhões de pessoas com autismo no mundo, o que corresponde a cerca de 1% da população.
São muitas as hipóteses para o aumento de casos de autismo no Brasil e no mundo. Entre elas, o maior acesso da população ao diagnóstico, maior preparo dos médicos, mais conscientização dos professores e compreensão dos casos mais leves.


Há algumas décadas, a falta de conhecimento sobre o autismo e a escassez de profissionais especializados dificultavam o diagnóstico preciso, principalmente para aqueles que apresentavam um fenótipo mais leve. Muitos desses indivíduos eram rotulados como tímidos, introvertidos ou com dificuldades de interação ou mesmo de aprendizado, sem que a possibilidade de autismo fosse considerada. A consequência disso era um diagnóstico tardio, que ocorria em muitos casos apenas na vida adulta.


Também não é raro perceber nos dias de hoje, adultos que se descobrem autistas devido ao diagnóstico dos filhos. Muitas vezes, ao observar as características de um filho, os pais começam a se identificar com algumas de suas próprias dificuldades e buscam uma avaliação profissional. Essa experiência familiar tem sido fundamental para que muitos adultos possam finalmente compreender suas particularidades e receber o apoio necessário.


Nos níveis de autismo, que variam de 1 a 3, o nível 1 se caracteriza por sinais menos evidentes e geralmente sem deficiência intelectual, o que permite que a pessoa desenvolva certo grau de autonomia e possa mascarar suas particularidades. Outro aspecto importante, que vale a pena mencionar, é o fenômeno chamado "masking" que se caracteriza pela habilidade que alguns autistas têm de copiar os comportamentos e maneirismos alheios, para mascarar seus próprios sintomas, o que dificulta ainda mais o diagnóstico.


O diagnóstico de TEA em adultos, mesmo quando tardio, pode ser transformador por trazer uma compreensão mais profunda de dificuldades e características e estimular uma nova perspectiva de lidar com o mundo ao redor. Compreender a própria condição pode ajudar na busca por terapias focadas e apoio adequado. Com isso, o adulto autista pode se adaptar melhor e evoluir dentro das suas possibilidades.

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