Ao chegar à terceira idade, o brasileiro viverá, em média, mais 22,5 anos. Se for homem, a taxa cai para 20,7 anos. Se for mulher, sobe para 24 anos, indica novo estudo do IBGE. Diferenças à parte, o fato é que a entrada nos 60 desperta hoje expectativas e desafios bem distintos dos que existiam há pouco tempo. A projeção é praticamente o dobro da feita pelo mesmo instituto para os idosos em 1940, quando se previa 13,2 anos para uma população geral que vivia em média até 45,5 anos. São claros os sinais do tempo na pirâmide etária brasileira, o que tornam urgentes os ajustes para que as demandas de uma população longeva, incluindo aqueles que ultrapassam a sexta década de vida, sejam atendidas.


Izabel Marri, gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, atribui o aumento da expectativa de vida entre idosos e indivíduos das demais faixas etária ao “conjunto de melhorias nas condições de vida, no aumento da escolaridade, na renda e nas políticas de atendimento à saúde da população”. A análise acaba também por indicar o destino para novos investimentos e mudanças de postura.


No campo da saúde pública, por exemplo, há o tensionamento das cronicidades. Dados do Ministério da Saúde indicam que, de cada 10 brasileiros com mais de 50 anos, sete têm ao menos uma doença crônica – enfermidades incuráveis e que, quando não controladas, resultam em prejuízos na qualidade do envelhecimento, como hipertensão e diabetes. Soma-se ao excesso de morbidades o uso massivo do Sistema Único de Saúde (SUS) por idosos, indicando a necessidade da formulação de políticas e protocolos que considerem demandas específicas dessa população.


Estimativas do Tesouro Nacional dão ideia dos impactos dessas despesas no Orçamento Federal. Espera-se uma demanda acumulada em saúde de R$ 67,2 bilhões adicionais até 2034, em valores de 2023, considerando o envelhecimento populacional. Vale lembrar que a pasta é, no momento, um dos alvos de cortes de gastos do governo. Além disso, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, uma das apostas da nova gestão Lula, se apresentou tendo o direito ao envelhecimento saudável como uma das principais frentes de atuação.


A questão previdenciária é outro ponto nevrálgico. Se hoje 15,6% da população brasileira é idosa, em 2070, a taxa subirá para 37,8%. A reforma da Previdência de 2019 estabeleceu, para aposentadorias, idade mínima obrigatória de 65 anos (homens) e 62 (mulheres) para quem ingressou no mercado de trabalho após novembro daquele ano. O Banco Mundial, porém, recomenda que, diante do ritmo acelerado de envelhecimento dos brasileiros, adote-se o piso de 72 anos para ambos os sexos já em 2040.


O próprio estudo indica os obstáculos para a nova mudança: “o estado de saúde da população e as realidades sociopolíticas". São, de fato, grandes dificultadores, mas esperar o aumento da pressão nas contas públicas para, só depois, desenvolver políticas públicas que respondam às exigências do envelhecimento, além de pouco estratégico – sob o risco da adoção de medidas ineficazes e/ou eleitoreiras –, é cruel e desrespeitoso com quem trabalha e deseja viver de forma digna e plena independentemente da idade. O Brasil longevo não tem mais tempo para postergar os cuidados com a velhice. 

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