O período de festas costuma ser acompanhado por uma maior sensibilidade da população brasileira às mazelas que circundam nossa sociedade. Junto ao espírito natalino, vêm a solidariedade e um cada vez mais raro sentimento de justiça social. O amor ao próximo. É comum que familiares, amigos e empresas façam campanhas coletivas para doação de roupas e alimentos com intuito de ajudar o próximo.
Quando se olha para o que foi feito, na prática, pelo poder público neste ano para diminuir a fome e a desigualdade social, o Brasil alcançou avanços significativos. O mais recente relatório das Nações Unidas aponta para uma queda de 85% na insegurança alimentar severa no país – na esteira da criação de um ministério dedicado somente à área, hoje capitaneado pelo senador licenciado Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social).
Em entrevista recente, o ministro creditou a queda da insegurança alimentar severa no Brasil à criação do Plano Brasil sem Fome, instituído a partir de um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assinado em agosto de 2023. O objetivo da política pública segue uma das frases mais compartilhadas pelo Planalto na atual gestão: "colocar o pobre no orçamento".
O Brasil figurava no chamado "mapa da fome" da ONU desde 2019, após deixar a vergonhosa classificação em 2014. O retorno do país a tal condição veio como consequência dos problemas econômicos causados pela pandemia da COVID-19, mas também pelo descaso de gestões públicas anteriores, que fragilizaram políticas públicas importantes, como a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), braço do Executivo importante para executar medidas relacionadas ao combate à pobreza.
Houve, também, redução no número de pessoas atendidas pelo Bolsa Família, principal alternativa para transferência de renda e combate à pobreza no Brasil. Em 2012, o país tinha 15,9% dos seus domicílios contemplados, mas esse dado caiu para 13,7% em 2018. A iniciativa também contou com corte de investimento em 2020, quando trabalhou com um orçamento de R$ 29,5 bilhões, menor que os R$ 32 bilhões de 2019. São apenas algumas das razões que fizeram o Brasil retroceder.
A chegada do Natal em 2024 não é sinônimo de fartura na mesa para todos os brasileiros, mas os avanços conquistados nos últimos meses e atestados pela ONU no relatório citado são uma boa notícia – cada vez mais rara em um país dividido politicamente. É uma mensagem de esperança para uma sociedade um pouco menos desigual. São 14,7 milhões de pessoas que deixaram de passar fome, segundo o documento das Nações Unidas.
Sair do mapa da fome é um avanço importante, mas não o único recente. O trimestre fechado em outubro aponta para a menor taxa de desemprego no país desde 2014: 6,4%. Esse dado, porém, também precisa ser visto com cautela, diante do alto número de empregados em posições pouco atrativas, com salários ruins e quase sem direitos trabalhistas, sobretudo os trabalhadores e trabalhadoras dos aplicativos de transporte privado e entrega de comidas e objetos.
Outra boa notícia, que ajuda a alavancar a sociedade brasileira, é a inflação acumulada de 4,87% nos últimos 12 meses, índice que chegou a ter dígitos duplos na reta final de 2022, quando a população ficou sufocada com a alta da cotação dos combustíveis – sobretudo, o diesel, que eleva o preço dos alimentos por conta da logística sobre rodas.
A preocupação, por outro lado, fica por conta da elevada taxa de juros, puxada pela incerteza do mercado financeiro quanto à eficácia do pacote de corte de gastos enviado pelo governo ao Congresso – uma alternativa para conter a dívida pública. A alta da Selic, hoje em 12,25%, onera bastante os mais pobres, que recorrem ao parcelamento para não sufocar ainda mais o orçamento mensal. Deixa, também, os juros do cartão de crédito mais pesados – modalidade de pagamento de fácil acesso, mas de difícil controle para grande parte da população, o que faz o endividamento disparar, assim como a inadimplência.
O período de festas é usado, muitas vezes, para comemorar conquistas alcançadas durante o ano. Celebrar. Mas, também, é tempo para planejar o futuro, de olho em um 2025 melhor. O planejamento individual e das famílias também recai sobre o governo, que terá, no que vem, o desafio de tentar melhorar sua relação com o Congresso, com o mercado e com sua comunicação institucional, pontos criticados por muitos durante a primeira metade da gestão Lula 3.