O que esperar da nova era Trump?
O protecionismo tende a ser intensificado e os demais países devem ser pressionados a se adaptar a novas condições de competição internacional
Mais lidas
compartilhe
Siga noO retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, após a saída da Casa Branca em janeiro de 2021, desperta impactos consideráveis no mercado global. Essa reviravolta, impulsionada por uma série de desafios jurídicos e políticos, traz consigo uma nova onda de potenciais transformações econômicas que devem repercutir em todo o mundo. Se a ideia de um novo mandato parecia, até pouco tempo atrás, uma possibilidade distante, a realidade atual consolida um cenário instável, em que a centralização do poder nos Estados Unidos pode ter efeitos profundos nas economias, incluindo a brasileira.
A primeira impressão, ao analisar o impacto de Trump, é que a política dele tem um foco claro: fortalecer os Estados Unidos, independentemente das consequências para os parceiros comerciais. No âmbito do câmbio, isso se traduz em uma volatilidade que vai muito além da simples flutuação da moeda americana. A dinâmica de importações e exportações, que se mostra cada vez mais restrita e protecionista, reflete no valor das moedas de países como o Brasil, cuja economia depende desses processos.
Trump assume o novo mandato com um poder unificado. Com Câmara e Senado favoráveis a ele, as decisões terão um impacto ainda mais profundo e imediato. Isso significa que ideais socioeconômicos podem ser implementados de maneira ainda mais agressiva, com as barreiras comerciais sendo um dos fatores mais preocupantes. A imposição de tarifas, já anunciada por Trump no primeiro mandato, será intensificada.
Assim, quando se fala em balança comercial brasileira, não se pode ignorar o potencial impacto de uma política fiscal rigorosa vinda dos EUA. O presidente já deixou claro que a proteção da economia americana é um dos princípios – o que simboliza políticas de taxação mais severas. Ele já indicou que tem interesse em aumentar impostos sobre determinados produtos importados, visando proteger ainda mais as prioridades de sua respectiva nação.
O Brasil, com base produtiva voltada para commodities e produtos agrícolas, já enfrenta problemas estruturais, e a imposição de mais taxas poderia agravar ainda mais essa situação. O que muitos não compreendem, no entanto, é que os impactos não se restringem apenas a esse contexto. A alta nas taxas de juros dos EUA, por exemplo, influencia o fluxo de capitais e a atratividade do dólar, um fator que pode provocar uma desvalorização significativa do real frente à moeda americana.
O resultado é uma mudança drástica na forma como os Estados Unidos lidam com as relações diplomáticas. O protecionismo tende a ser intensificado e os demais países devem ser pressionados a se adaptar a novas condições de competição internacional. O Brasil, que historicamente luta contra a inflação interna, pode ver essa situação ser exacerbada pela escassez de produtos ou pela crescente nos preços de importações. Há, então, a construção de um posicionamento que tende a ser, no mínimo, delicada.
Em um cenário de defesa de uma nação única pelas próprias preferências acontece o desenvolvimento de um amanhã motivado por incertezas. A tendência está direcionada a impasses econômicos e diplomáticos com consequências serveras. É preciso que a nação tenha uma análise cuidadosa das movimentações, além de uma adaptação rápida às possíveis mudanças.
Carolina Araujo
Especialista em câmbio