Todos os anos, as tragédias causadas pelas chuvas intensas de verão se repetem. Os dramas enfrentados pela população tornaram-se tradição. Mas o comportamento do poder público pouco, ou nada, é alterado. Ao longo dos meses, as iniciativas para retirar as comunidades de áreas de risco não ocorrem, e, com a chegada da estação mais quente do ano, a situação agrava-se cada vez mais.


Em Minas Gerais, o cenário de 2025 é bastante sério e preocupante. Até agora, as chuvas provocaram a morte de 25 pessoas e 58 cidades estão em situação de emergência, segundo boletim da Defesa Civil estadual, divulgado nesta terça-feira. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) havia previsto chuvas intensas, com grau de severidade, não só em Minas Gerais, mas também lançado alerta para o Distrito Federal e dezenas de municípios de Goiás. Além dessas unidades da Federação, outras 12 sofrem com as chuvas intensas.


No DF, os temporais causaram muitos transtornos aos brasilienses e danos materiais em diversas regiões administrativas, como queda de muro, alagamento em residências, com perdas de móveis e objetos, e carro engolido por crateras. Diferentemente de outros estados, não houve registro de morte decorrente das fortes pancadas de chuvas.


Diante dessas previsões, a Defesa Civil Nacional, por orientação do Ministério da Integração de Desenvolvimento Regional, tem estabelecido contato com os governos estaduais, principalmente de Minas Gerais, São Paulo e Bahia, cujos municípios foram severamente afetados.


Levantamento do Conselho Nacional de Municípios mostra que, de dezembro até agora, temporais causaram R$ 94,4 milhões de prejuízos aos cofres municipais; R$ 21,1 milhões no setor habitacional, sendo 2 mil casas danificadas ou destruídas; e R$ 88,6 milhões de prejuízos ao setor privado, devido aos danos causados na agricultura, na pecuária, na indústria, no comércio e em outros.


Entre abril e maio do ano passado, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores catástrofes da sua história, provocada por tempestades que inundaram 441 municípios (95%) do estado, inclusive a capital, Porto Alegre. O episódio de origem natural e antrópica, provocado pelo El Niño, elevou o volume de chuvas no Sul do país, que foram intensificadas pelas mudanças climáticas. Ficou constatado que problemas com a manutenção dos diques de prevenção de enchentes e a ausência de planos de ação voltados para as mudanças do clima potencializaram os efeitos das enchentes. Mais de 600 mil pessoas ficaram desabrigadas e 179 morreram.


Embora o negacionismo em relação às mudanças climáticas domine parcela expressiva da sociedade brasileira e mundial, seus impactos vieram para ficar. Essa realidade impõe ao poder público brasileiro uma revisão do modelo de gestão, já criticada pela lentidão de respostas e outras inabilidades. Não dá mais para manter na invisibilidade as áreas de riscos ocupadas pelos mais vulneráveis social e economicamente. Pontes caem, rodovias sem manutenção derretem, encostas desabam, casas com estruturas comprometidas são desmontadas pela força das águas repetidamente. As advertências dos fenômenos climáticos naturais exigem dos governos políticas públicas compatíveis com as transformações impostas pelo novo normal.

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