Escola sem celulares e sem traumas
Haverá casos que se terá de recorrer à orientação descrita na lei. Uma delas é a de traçar estratégias para mitigar o sofrimento psíquico e preservar a saúde
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Siga noPor vários meses, desde 2024, o debate sobre a proibição de celulares nas escolas atraiu a atenção dos brasileiros. Mas a maioria dos adultos entendeu que o veto à telinha, no ambiente escolar, era medida necessária. Docentes de quase todas as etapas do ensino não tinham dúvida de que a medida seria essencial, assim como ocorreu em vários países, como Suécia, Suíça, Portugal, Espanha e Austrália. Em 14 de janeiro último, entrou em vigor a Lei nº 15.100, dispondo sobre a utilização, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis nos colégios públicos e privados de ensino da educação básica.
Para os educadores favoráveis à lei, o dispositivo móvel comprometia a concentração dos estudantes, o processo de aprendizagem e a interação social entre eles. As regras não são rígidas e abrem exceções, admitindo que o celular é necessário para garantir acessibilidade, inclusão, direitos fundamentais e atender às condições de saúde do estudante.
No Distrito Federal, a rede pública de ensino não permite ao aluno manipular o celular. Na rede privada, não há condescendência – os estudantes só voltam a ter contato com o celular após o término de todas as atividades. Um professor de escola particular relatou que os alunos estão cientes da nova regra e até lembram a outros que não mexam em seus aparelhos, dentro e fora da sala de aula. Nas redes sociais, há vídeos em que os estudantes reconhecem que a separação temporária do celular eleva o grau de atenção e de aprendizado durante as aulas. Há, portanto, sinais de que a adaptação não será tão dolorida quanto muitos imaginaram.
Obviamente, haverá casos, em várias unidades de ensino, que se terá de recorrer à orientação descrita na lei. Uma delas é a de traçar estratégias para mitigar o sofrimento psíquico e preservar a saúde mental de crianças e adolescentes, que tinham aparelho quase como parte do seu corpo. Terão ainda que criar uma sala de escuta para estudantes ou funcionários em situação de sofrimento psíquico e mental, devido ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) conceituou como nomofobia, ou seja, ansiedade, estresse ou desconforto resultante da falta de acesso pleno ao telefone celular e suas funcionalidades.
Embora a tecnologia seja uma conquista contemporânea, no campo da educação há alguns senões ante essa dependência. A Suécia, um dos países mais desenvolvidos e ricos do planeta, aboliu, em 2023, não só o celular mas também os notebooks nas escolas. Desde então, retornou ao ensino tradicional, com um investimento de 45 milhões de euros (R$ 242 milhões) em livros impressos e escrita à mão nos cadernos. “Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”, advertiu a ministra da Educação, Lotta Edholm, após ver a nota do país despencar no Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), exame internacional que avalia o desempenho em leitura de estudantes.
Repensar a educação e como garantir o acesso de todos – crianças, jovens e adultos –, não só por meio das novas tecnologias, pode representar avanços significativos para melhorar uma sociedade e elevar o seu grau de desenvolvimento, em todos os sentidos.