Casos de gripe aviária nos EUA viram alerta
Muitos avicultores não fazem ideia dos sintomas da doença, portanto, sequer conhecem os perigos
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Siga noÉ comum nos depararmos, vez por outra, com notícias alarmantes que apontam para o surgimento de novos vírus capazes de reviver o horror da pandemia de COVID-19. Enquanto muito desse conteúdo surfa na onda do imediatismo em busca de audiência, uma doença em específico merece cuidado redobrado da sociedade civil e das autoridades: a gripe aviária causada pelo Influenza H5N1.
Nos Estados Unidos, o governo Trump inicia com um desafio econômico causado pela exorbitante alta no preço dos ovos – o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estima que a inflação do produto pode chegar a 41%. A explosão da cotação é explicada pelo surto do H5N1 no país. Na Geórgia, em janeiro e fevereiro, 45 mil aves foram infectadas, o que forçou a suspensão de toda a avicultura do estado.
Mas, os impactos não ficam restritos somente à economia. Os Estados Unidos também identificaram casos de infecção pelo H5N1 em mamíferos, como vacas leiteiras, nos últimos meses. Por terem um sistema respiratório muito semelhante aos humanos, os bovinos infectados representam um risco importante para nossa saúde. É possível que o vírus, como aconteceu diversas vezes com o novo coronavírus, sofra mutações que permitam a infecção de pessoas.
Essas infecções, apesar de raras, já aconteceram. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são 954 casos em humanos entre janeiro de 2003 e dezembro do ano passado, em 24 países. O que chama atenção para o tamanho do risco, no entanto, é a altíssima taxa de letalidade: 49% dos diagnosticados não resistiram. Para efeito de comparação, o mesmo indicador da COVID-19 no Brasil gira em torno dos 2%.
Nos Estados Unidos, o controle do H5N1 passa por desafios importantes. Pela falta de conhecimento, muitos avicultores não fazem ideia dos sintomas da doença, portanto, sequer conhecem os perigos. Os sinais passam pela redução da produtividade dos animais, dificuldade para respirar e tosse.
Essa limitação gera, evidentemente, risco de subnotificação. Há uma baixíssima cobertura epidemiológica voltada ao vírus, por isso infecções assintomáticas e até mesmo sintomáticas podem passar despercebidas pelas autoridades de saúde. Tal cenário aumenta ainda mais o risco, já que os vírus têm como característica a rápida adaptação para o surgimento de novas cepas, com intuito de diversificar seus hospedeiros.
Em 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou a doença como causa da morte de leões-marinhos da Patagônia no Brasil, encontrados sem vida na Praia do Cassino, em Rio Grande (RS). Esse foi o primeiro foco da enfermidade registrado em nosso país.
Até hoje, os raros casos de infecção humana aconteceram a partir do contato com a secreção de aves infectadas. O risco do diagnóstico em outros hospedeiros mamíferos passa pela possibilidade de transmissão pela via respiratória (pelo ar), o que pode criar cenários semelhantes com o da pandemia de COVID-19 a longo prazo.
Mas, qual a saída para reduzir o risco? Além de uma maior conscientização de avicultores e de reforço da vigilância epidemiológica, o mundo precisa investir recursos em pesquisas voltadas à criação de uma vacina capaz de frear a transmissão da gripe aviária. Nos EUA, cinco trabalhos estão em andamento – dois deles querem motivar a geração de anticorpos capazes de neutralizar o H5N1.
Outra saída é a criação de vacinas que protejam diretamente as aves – como acontece com a febre aftosa, por exemplo. A discussão, no entanto, passa pelo impacto econômico da medida. Há risco de que essa estratégia comprometa o desempenho do setor, sobretudo em países com fortes agendas contra os imunizantes, como os Estados Unidos.
Além disso, a conscientização dos avicultores também passa pelo aspecto econômico. Por temerem perder dinheiro, muitos ignoram os sinais da doença e evitam a notificação junto às autoridades. Nos EUA, um acerto do governo foi a remuneração dos criadores mesmo em caso de sacrifício dos animais. No entanto, só há reembolso daqueles que forem mortos após a comunicação.