ARTIGO

A última raposa de Minas

E o mais peculiar é que o interessado, ainda que não atendido no pleito, saía do despacho agradecido e satisfeito, pois tinha sido recebido por Danilo de Castro

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Antonio Anastasia

Professor, mestre em Direito Administrativo pela UFMG, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), ex-governador de Minas Gerais

Ao me referir à raposa, eu não aludo ao animal silvestre ou ao símbolo do Cruzeiro Esporte Clube... uso uma figura de linguagem que a tradicional política mineira, herdeira da República Velha, utilizava para identificar as principais lideranças políticas do estado. Personalidades ilustres, extremamente hábeis na arte da boa política, do diálogo, da conciliação, na superação de divergências e na identificação de soluções para os problemas relevantes. Assim, a boa política mineira legou ao Brasil muitas destas “raposas”, políticos reconhecidos e famosos pela capacidade do convencimento e da supremacia pela cordialidade e poder de argumentação! Benedito Valadares, José Maria Alckmin, Magalhães Pinto, Tancredo Neves, Hélio Garcia, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, Pio Canedo, Gustavo Capanema, dentre outros tantos, bem ilustram esta notável galeria de homens públicos renomados e exitosos em seus misteres.

Todavia, ao longo dos últimos anos, o modo de fazer política alterou-se substancialmente. Ao invés do diálogo e da conciliação, o conflito e a ofensa; ao contrário da conversa ao pé do ouvido e das visitas pessoais e das caminhadas com eleitores, no contato pessoal, olho no olho, as redes sociais. Destarte, o estilo prevalente de política não é mais o mesmo de outrora, infelizmente, em meu pessoal juízo!

Mas estas reflexões servem tão somente para explicar o título deste artigo e o seu destinatário: a última raposa política de Minas – Danilo de Castro.

Conheci Danilo de Castro na década de 90 do século passado, quando ele já exercia o mandato de deputado federal e eu integrava o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas nossa maior aproximação deu-se com a campanha eleitoral e posterior administração do governador Aécio Neves, em Minas Gerais, a partir de 2002. Fomos integrantes juntos do governo, ele como secretário de Estado do Governo, responsável por toda a articulação política do governo e eu como secretário de Planejamento e Gestão, responsável pela coordenação geral das políticas públicas. Neste período frutuoso da história de Minas, trabalhamos de forma fraternal e pude, muito satisfeito, reconhecer no estilo de Danilo de Castro o espírito maior da verdadeira política mineira. Com seu jeito concomitantemente simples e ameno, mas firme e decidido quando necessário, Danilo de Castro comandou, ao longo de 12 anos, o dia a dia da política estadual, em seus aspectos mais relevantes. Com certeza, o mais longevo coordenador político de governo em nosso estado. Com paciência infinita ao receber parlamentares, prefeitos, lideranças políticas de todos os matizes, Danilo de Castro sempre tinha uma palavra positiva a cada um: se não resolvesse de pronto o assunto demandado, assumia o compromisso de se empenhar em sua solução. E o mais peculiar é que o interessado, ainda que não atendido no pleito, em muitas vezes nem posteriormente, saía do despacho agradecido e satisfeito, pois tinha sido recebido e tratado com o que são fatores mais importantes no mundo político: atenção, respeito e consideração.

São estas frutíferas qualidades que diferem um político comum daqueles poucos que alcançam o status de “raposa”, mercê de sua habilidade e elegância no trato pessoal.

Tive a honra de contar com Danilo de Castro em meu governo em Minas Gerais, de 2010 a 2014, como secretário de Estado de Governo e confesso que tinha a mais absoluta serenidade da certeza de sua condução assertiva nos aspectos políticos de nossa administração. Tanto assim, que em todo este longo período, jamais tivemos uma derrota sequer na Assembleia Legislativa do Estado.

Faço, deste modo, esta singela homenagem ao grande homem público Danilo de Castro, em seu octogésimo aniversário, responsável que foi por um período de grande estabilidade política no estado, o que permitiu um imenso salto em nosso desenvolvimento econômico e social. Oxalá o futuro permita o retorno da política feita com diálogo e compreensão, sem ódios, a gerar, aí sim, novas “raposas”. Por ora, é uma espécie em extinção, da qual Danilo de Castro é o derradeiro e vitorioso exemplar.

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