Sobreviventes de um campo de concentração nazista de Buchenwald no convés de um navio a caminho do porto de Haifa, na Palestina -  (crédito: Zoltan Kluger/IGPO/Getty Images Europe.)

Sobreviventes de um campo de concentração nazista de Buchenwald no convés de um navio a caminho do porto de Haifa, na Palestina

crédito: Zoltan Kluger/IGPO/Getty Images Europe.


“Estou tentando reconstituir o ano de 1947 a partir de um composto de fragmentos. É uma insanidade, mas o tempo não me dá trégua”. Com essa frase, a sueca Elisabeth Åsbrink finaliza o segundo de dois capítulos em que sua história pessoal ganha as páginas do livro “1947” (A yiné). A jornalista e escritora faz a ‘biografia’ de um ano que vai se mostrando crucial para entender a história do mundo até aqui página após página. Com uma estrutura bem demarcada, o livro conta, mês a mês, como os eventos contemporâneos da guerra em Gaza, a resistência de ideias de extrema-direita e o debate em torno do conceito de ‘genocídio’ são ecos nítidos de decisões tomadas em 1947.


Em Nuremberg, líderes nazistas vão ao banco dos réus; em Hollywood, a cantora Billie Holiday se prepara para participar de seu primeiro filme, ao lado de Louis Armstrong; em Genebra, chefes de Estado montam comitê para discutir uma proposta para a criação de Israel; em Londres, os músicos Charlie Parker e Dizzy Gillespie se apresentam no Carnegie Hall; por toda a Europa, centenas de milhares de judeus fogem do horror do Holocausto em direção à Palestina; em Chicago, Simone de Beauvoir e Nelson Algren engatam um romance arrebatador que impactaria o pensamento do mundo nas décadas seguintes; em Washington, o governo americano lança o Plano Marshall e começa a estruturar sua hegemonia cultural e financeira sobre o mundo ocidental nos tempos de Guerra Fria.

As 280 páginas de “1947”, da jornalista e escritora sueca Elisabeth Åsbrink, premiam o leitor com uma narrativa que condensa eventos como os citados no primeiro parágrafo e evidencia, a cada capítulo, como os eventos acontecidos dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial moldaram política, geográfica e culturalmente as décadas subsequentes e têm ecos nítidos até os dias de hoje. Traduzido diretamente do sueco por Leonardo Pinto Silva e lançado no Brasil pela editora mineira yiné, em sua versão original, publicada em 2017, o livro tem um subtítulo que resume com eficiência a relevância do trabalho: “1947: quando começa o agora”.

A estrutura é o grande trunfo de Åsbrink na forma como elenca as marcas indeléveis deixadas na história pelos 365 dias de 1947. O livro é organizado em 13 capítulos, sendo 12 deles nomeados a partir dos meses do ano, em forma cronológica. Entre junho e julho, a autora pausa a sequência de fatos históricos para contar como a história de sua família foi afetada pelos acontecimentos já narrados e os que ainda ganharão as páginas seguintes em uma bem-sucedida estratégia que humaniza a tensão inerente à história de um mundo ainda em conflito após a guerra.

Os capítulos são divididos em textos curtos que trazem como título a cidade onde ocorreu o evento narrado. Mais uma vez, a estratégia é eficiente ao localizar o leitor e dinamizar a forma como os fatos se apresentam, evidenciando como em várias partes do globo estavam sendo tomadas decisões cruciais para a humanidade.

Essa estrutura organiza a obra e torna a leitura fluida. Mas o que cativa a leitura é a discussão de temas geopolíticos áridos intercalada por eventos e grandes personagens da cultura que viveram na época e se tornaram imortais. Enquanto é narrada a diáspora judaica à Palestina evidencia a periclitante situação dos judeus em uma Europa pós-Holocausto; o esfacelamento do império britânico; e a criação do Estado de Israel; também é contada a história do exílio de George Orwell na Escócia enquanto ele escrevia ‘1984’; e da saga do escritor judeu Primo Levi para publicar ‘É isto um homem?’; e a primeira gravação do pianista de jazz Thelonious Monk.


Questão palestina e a diáspora judaica

Mês a mês e dividindo a celeuma entre cidades como Jerusalém, Genebra e Nova Iorque, Åsbrink conta como a formação do Estado de Israel foi marcada por discussões no Comitê Especial da ONU sobre a Questão Palestina formado por Austrália, Canadá, Tchecoslováquia, Guatemala, Índia, Irã, Holanda, Peru, Suécia, Uruguai e Iugoslávia; a saída do império britânico da região; e a migração de centenas de milhares de judeus para o Oriente Médio.

Além de destacar a tensão entre os árabes com a hipótese da criação de Israel e a chegada em massa de judeus na Palestina pós-holocausto, o livro é profícuo em contar como o nazifascismo não desapareceu com o fim da guerra e a derrota do Eixo. Ao contrário, lideranças da extrema-direita articularam alianças e redes de distribuição de informações complexas a ponto de criar pontes entre Argentina, Inglaterra, Suécia, França e mais países.

Este cenário de manutenção do ódio aos judeus é exemplificado por eventos como o navio President Warfield, que zarpou do porto de Sète, no Sul da França, em julho com 4,5 mil pessoas em uma embarcação com capacidade para 400 tripulantes. Com destino a Palestina, os milhares de judeus contavam com a boa vontade de sionistas na Europa e esbarravam nas restrições de migração impostas pelo Reino Unido no Oriente Médio. Mesmo com a queda de Hitler, não havia espaço para a permanência judaica na Europa diante da permanência do horror e da contínua expansão do antissemitismo.

Com a minúcia de enfocar eventos específicos em recortes curtos de um ano e seus meses, “1947” evidencia como fatos que monopolizam o noticiário internacional nas últimas semanas, a exemplo do conflito Israel-Hamas, têm raízes profundas e refletem o impacto de ações deflagradas em décadas anteriores.

“1947”
• Elisabeth Åsbrink
• Tradução de Mariana Sanchez
• Âyiné Editora
• 280 páginas
• R$ 64,95 no site da editora

 

ENTREVISTA Elisabeth Åsbrink (escritora e jornalista sueca)

“Muitas questões com as quais lidamos hoje começaram em 1947”

Nascida em 1965 na cidade sueca de Gotemburgo, a jornalista e escritora Elisabeth Åsbrink é filha de um sobrevivente do Holocausto na Hungria e já recebeu diversas premiações, entre elas o Prêmio Ryszard Kapuscinski de Reportagem Literária, que leva o nome de um dos maiores autores contemporâneos de não-ficção. Em entrevista ao Pensar do Estado de Minas, a autora conta como se preparou para escrever “1947” e porque escolheu relatar os eventos deste ano específico no livro que foi traduzido para mais de 20 idiomas e premiado pela Academia Real Sueca de Ciências em 2017.

Na entrevista, feita por meio de chamada de vídeo, ela relatou o processo de construção da história, a escolha dos personagens culturais presentes na obra e como a permanência dos ideais nazifascistas no pós-guerra dialoga com a presença contemporânea de ideias extremistas ao redor do planeta.


A primeira pergunta pode parecer óbvia, mas é necessária: por que 1947? Como explicar o impacto deste ano específico nos dias atuais?
Uma das pessoas que eu sigo no livro é o líder fascista sueco Per Engdahl. Em um livro anterior, escrevi sobre um jovem garoto que veio como refugiado para a Suécia e se torna amigo do fundador da Ikea (empresa conhecida pelos móveis e utensílios domésticos). Esse fundador era um membro do movimento fascista da Suécia e um grande admirador de Per Engdahl. Fiquei curiosa com esse líder; como não havia ouvido falar muito sobre ele, estava planejando escrever um livro. Durante a pesquisa, encontrei em um livro de Stieg Larsson (autor da série de livros policiais “Millenium”) uma passagem que cita como Engdahl ajudou a criar um partido nazista na Dinamarca. Essa é uma frase realmente muito estranha porque, dois anos depois do fim da Segunda Guerra, os dinamarqueses odiavam os nazistas porque eles foram ocupados. Não fazia sentido um sueco ajudá-los a criar um partido nazista. Tentei confirmar isso. Falei com muita gente e pesquisei em muitos livros, mas não conseguia uma confirmação. Decidi vasculhar nos dois principais jornais da época, que eu li da capa de 1º de janeiro até a última página do ano e, vendo os acontecimentos dia após dia, eu pude acompanhar o que aconteceu. E foi surpreendente porque havia muitas questões com as quais lidamos hoje e que começaram em 1947. Mudei de ideia e pensei: ‘Tenho de escrever um livro sobre esse ano’. Pesquisei e ninguém o havia feito; 1947 é um ano meio esquecido.

Um dos temas centrais do livro é como o nazifascismo permaneceu vivo e sendo espalhado pela Europa mesmo após a derrota na Segunda Guerra. Você acredita que esse cenário dialoga com as recentes batalhas políticas lideradas por nomes da extrema-direita?
Há muito tempo as pessoas pensavam que, em 1945 (ano do fim da Segunda Guerra), o nazismo e o fascismo morreram, assim como o ódio aos judeus. Não, eles simplesmente afundaram como submarinos e mudaram um pouco o DNA, mas mantiveram as ideias mudando um pouco a linguagem. Então, sim, hoje estamos absolutamente imersos naquelas ideias que ficaram por alguns anos abaixo da superfície e depois ressurgiram e foram enxergadas como se fossem diferentes. São as mesmas ideias, como o conceito de que há uma pureza na branquitude e que as pessoas não deveriam se misturar. Após o Holocausto, você não podia mais falar sobre raça, dizer ‘minha raça e sua raça’, mas as ideias seguiram usando a ideia de cultura, ‘minha cultura e sua cultura não funcionam juntas, não podem viver juntas’. Mas nós sabemos que as culturas não são matérias fixas, elas mudam, se misturam. O Brasil é um lindo exemplo de culturas se fundindo e se tornando algo novo. Mas vivemos em um mundo onde a obsessão pela pureza está muito forte e isso acontece pela direita, pela esquerda, pelo extremismo religioso. Estão todos obcecados pela pureza. Em 1947 isso acontecia com uma linguagem diferente, mas as ideias são as mesmas e isso é terrível para a humanidade. Eu não acredito em pureza de jeito nenhum.


O livro traz uma visão múltipla para a questão da migração judaica para a Palestina após o terror do Holocausto, o presumido conflito com os árabes e a tensão ocidental que levou à criação do Estado de Israel. Com os conflitos mais recentes em Gaza, acha que o seu livro é agora uma leitura ainda mais importante do que quando foi lançado?
Infelizmente, eu diria que ainda é importante. Penso que o aspecto mais importante do que está acontecendo agora, se ampliarmos a perspectiva para além do Oriente Médio, é que, depois da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, uma parte do mundo estava muito ocupada em garantir que isso nunca mais aconteceria. Havia uma preocupação em melhorar a moral do mundo, foram estabelecidos o crime de genocídio e os direitos humanos universais. Assim, depois da guerra, os indivíduos tinham direitos mais garantidos, as minorias tinham direitos mais fortes, a democracia liberal tornou-se uma forma dominante de governar os países. Agora, tudo isso, direitos individuais, direitos das minorias, as liberdades que estão ligadas à democracia liberal, como a liberdade de expressão e das mulheres, todas as liberdades que são básicas estão sob grave ameaça. O que estamos vendo no Oriente Médio faz parte da mesma tendência. A Rússia está ganhando com o que acontece lá, assim como o Irã. Todas as forças poderosas do mundo que não querem a democracia liberal estão satisfeitas com o desenvolvimento da guerra, porque ela ajuda a criar extremistas e, de todas as partes, o extremismo é o exato oposto da forma de pensar, lidar e tomar decisões da democracia liberal.Vivemos numa época em que o ódio entre grupos se tornou explosivo, por exemplo no conflito Palestina/Israel. E o ódio gera ódio, dizem eles. Mas sobreviver ao pior da violência também pode criar sentimentos do tipo completamente oposto, uma convicção forte e quase infantil de que nada parecido deveria acontecer a mais ninguém.
Descrevo isto através do jurista polonês Raphael Lemkin e da sua tentativa de reparar o mundo. Ele era pobre, triste e solitário. Mas quando criou o crime de genocídio, elevou o moral do mundo – e isso traz esperança. Podemos aprender com isso, acredito.

Durante a pesquisa, o que você descobriu sobre 1947 que mais chamou sua atenção?
Na verdade, acho que é a parte sobre Per Engdahl e a rede de conexões que ele cria. Depois da guerra, todos estes movimentos nazifascistas são esmagados ou proibidos, mas ele os revive e os conecta. E, como muitos nazistas também se refugiam na Argentina e no Brasil, a América Latina e a Europa estão conectadas através de Per Engdahl. Eu não estava ciente de como isso, de fato, ocorreu.

Como foi pensada a ideia de narrar essa história usando cada capítulo durante um mês e dividindo-os por acontecimentos nas cidades?
Bom, cronologia é sempre uma boa forma de contar uma história. Se você tem isso bem estabelecido, o que eu tive pensando em janeiro, fevereiro, março… eu pude fazer uma grande pausa como faço no meio do livro e mudo a concepção do tempo. Volto e avanço e movo nesse intervalo. Como a ordem dos meses é uma maneira de pensar o tempo muito estabelecida, eu pensei que, quando a escolhesse, eu poderia ser livre. Foi assim que decidi pelo formato.

Um dos pontos que tornam a leitura tão cativante é a forma como você insere alguns artistas e escritores em meio a um tenso debate geopolítico. Como escolheu nomes como Billie Holiday, George Orwell, Simone de Beauvoir, Nelson Algren, Thelonius Monk e outros para contar a história de 1947? Existem nomes que você achou importantes, mas teve de deixar para trás?
Com certeza, existem vários nomes. Eu estava pensando em Hannah Arendt, em várias outras pessoas, mas era uma questão de equilíbrio. Qualquer obra de arte precisa ser equilibrada de alguma forma. Acho que se eu tivesse escrito o livro hoje, teria mais sobre Thelonius Monk e Billie Holiday, porque eu gostaria de falar um pouco mais sobre o racismo americano, já que as coisas que aconteceram naquela época ainda impactam muito a América nos dias de hoje.
Mas eu percebi que é impossível cobrir tudo. De várias maneiras, trabalho como um historiador, mas eu sou uma escritora O trabalho é similar, eu vou às fontes, eu tento verificá-las, busco por documentos antigos. Mas não sou uma historiadora, o que significa que posso ser poética. Os historiadores quase nunca escrevem sobre emoções humanas, como amor, ódio, paixão ou sexo, mas são emoções que realmente impulsionam as pessoas e criam eventos. Eu queria escrever sobre música, arte, literatura, sexo e amor porque tudo isso faz parte da humanidade. Então, tentei me divertir e escolhi as pessoas pelas quais eu me interesso. Mas claro que poderiam ter muitos outros personagens.

Trechos
SOBRE OS JULGAMENTOS DE NUREMBERG (FEVEREIRO)

“Ao longo de todo esse processo, forças políticas se põem em movimento. São os políticos que se encarregam de alocar dinheiro para o complicado trabalho de contratar equipes jurídicas competentes, reunir provas, coordenar as investigações entre as quatro potências vitoriosas, garantir a igualdade de tratamento em suma, criar uma base jurídica comum para advogados de quatro nações distintas. E são essas mesmas forças políticas que em breve, muito em breve, anularão esses julgamentos. Aspectos ideológicos imprimem sua marca tanto nas acusações quanto na tipificação dos crimes. Como uma marca d'água, visível apenas sob certa luz, eles estigmatizam os juristas de cada país. Os soviéticos acusam os guardas do campo de Sachsenhausen de serem instrumentos do monopólio capitalista. [...] A França se concentra nas vítimas da Resistência e evita mencionar os muitos franceses que colaboraram com os nazistas” -

SOBRE A DECISÃO DA ONU NA QUESTÃO PALESTINA (NOVEMBRO)
“A maioria dos Estados-membros da ONU agora é favorável à proposta. Trinta e três votam a favor, dezenove contra e dez se abstêm. Pela decisão, a Palestina é dividida em dois Estados, um árabe independente e um judeu independente, com o governo conjunto de Jerusalém. As tropas britânicas devem se retirar. Até 1.º de outubro de 1948 os dois países devem coexistir, cooperar economicamente e assegurar os direitos religiosos das minorias. Júbilo e pesar, profundos e simultâneos. O 29 de novembro ainda está em curso”.

As peças-chave do mosaico
Cinco pontos comentados
A pedido do Pensar, a escritora sueca Elisabeth Asbrink elegeu – e comentou – os cinco pontos mais importantes de seu livro sobre o ano de 1947. Diante da profusão de eventos do período, ela ressalta: “O livro é construído como um mosaico com várias pequenas peças. Existem muitos temas importantes nesse mosaico, mas destaco estes”.


1 A alteração no conceito de ‘Jihad’ “A mudança do conceito de Jihad (originalmente uma ideia de luta ou empenho para o próprio bem ou o bem coletivo) que aconteceu dentro da Irmandade Muçulmana. Aconteceu em conexão com um domínio britânico muito manipulador sobre a Palestina que colocou os palestinos e os judeus uns contra os outros para a manutenção deste poder. Este é o começo das coisas que vemos ainda hoje. E, como reação a isto, partes da Irmandade Muçulmana mudaram a definição de Jihad e inseriram a morte na Jihad. Torna-se uma coisa boa morrer pela causa muçulmana. Isso era novo, não existia antes. É um conceito com o qual ainda convivemos muito e, como todos sabemos, o Hamas saiu da Irmandade Muçulmana. Então é uma história de ideias que ainda estão aqui”.


2 Comitê de fundação do Estado de Israel “Outro ponto é o pano de fundo da fundação de Israel, que aconteceu em 1947. Há um comitê, eles estão muito estressados e não são muito bons em seu trabalho. Eu acompanho o seu trabalho até ao ponto em que apresentam a sugestão das duas nações (para o território palestino), que ainda temos como única alternativa ao que vemos hoje. Então eu achei isso muito surpreendente e interessante”.


3 O romance de Beauvoir e Algren e o nascimento de “O Segundo Sexo” “Em 1947, Simone de Beauvoir, a filósofa francesa, vivencia o amor de sua vida ao conhecer o escritor norte-americano Nelson Algren. Eles têm uma história de amor, erótica e muito apaixonada e também eram muito próximos intelectualmente. Portanto, conhecê-lo levou-a a escrever o livro que consideramos a Bíblia do feminismo atual, o livro chamado ‘O Segundo Sexo’. É o início do feminismo como o conhecemos hoje. Uma reviravolta muito importante”.

4 Raphael Lemkin e o conceito de genocídio “Em 1947, após precisar escapar da Polônia diante da ocupação nazista, o advogado judeu Raphael Lemkin está obcecado por uma questão: por que é crime matar uma pessoa, mas se você matar mil, ou dez mil, ou cem mil, não? E ele decide, enquanto está refugiado, que deve criar o conceito desse crime e ele faz exatamente isso. Então ele cria o crime de genocídio. Em 1947, ele trabalhou dia e noite sozinho, bastante deprimido e muito pobre, para conseguir que a ONU aceitasse isto como um crime internacional e finalmente o fez. Ele morre apenas alguns anos depois, de exaustão. Ele está doente, pobre e cansado, mas contribui para transformar o mundo em um lugar melhor. O genocídio é hoje um crime muito importante em nosso senso moral comum”.


5 A história da própria família “Devo dizer que o quinto tema é, obviamente, o meu pai e a minha história familiar privada. Meu pai era criança na Hungria, em Budapeste, quando os nazistas chegaram e ele quase não sobreviveu. O pai e a avó dele foram assassinados. Então o livro também é sobre como descobri que 1947 foi um ano decisivo na minha história pessoal, porque algo aconteceu com meu pai naquele ano e isso o afeta e me afeta hoje”.