divã
Ouviu o objeto caindo,
nada.
Sem entender,
acha-o tempos depois
no lado oposto do quarto.
microscópio
Enxergar é o milagre.
Sem o olhar, o mundo se reduz
ao tamanho que é.
Que pequeno ele fica!
A montanha, só montanha,
sem nome,
sem sequer essa explicação de não ser.
Reconhecer faz sentir.
A montanha, sentida, é grande,
cobertor rugoso,
paisagem distante,
fim para o horizonte,
borda trêmula a sustentar o céu.
Talvez a montanha,
sabendo-se vista,
seria menos montanha,
plana.
O olhar faz o visto
querer ser.
Solidão é desaparecer,
vivo.
Aquele dia,
na casa da avó da amiga,
bebi suco de tomate em um copo bonito.
Credo!
Como me senti importante!
SOBRE A AUTORA
Poeta estreante, Flávia Lamary decidiu se aventurar nas letras após ler Ana Martins Marques. “Ela me arrebatou com seu ‘Livro das semelhanças’”, conta a arquiteta e designer de formação. Com “à vontade”, ela explora temas como a fazenda, a cidade, a infância e a vida adulta. Nas palavras da escritora Ana Holanda: “Flávia percorre a palavra com mãos que percebem cada nervura. Aprecia e escreve. Sobre a poesia em si, as memórias, o tempo. Sem cair nas obviedades ou nas receitas prontas. Ela se atrasou no nosso primeiro encontro, penso agora, como demorou para admitir aquilo que já era grito: Flávia é poeta. A menina percorre, assim, as páginas seguintes com a força de quem já é. Mulher, poeta, escritora.”
"à vontade"
Flávia Lamary
Editora Miguilim
96 páginas
R$ 69