Tom Farias

 

(Trecho do posfácio para nova edição de “Moça deitada na grama”, de Carlos Drummond de Andrade)

 

“Me vejo diante deste ‘Moça deitada na grama’, livro de crônicas originalmente preparado por Drummond e publicado em 1987, logo após a sua morte. É um livro saboroso e que expõe a ternura da prosa do poeta, cujas crônicas são carregadas de lirismo e poesia. É um livro sentimental e perscrutador. Ao entrar por ele, nos deparamos com um Drummond andarilho, que espreita a cidade pela lente de um repórter, não profissional, diga-se de passagem, mas amador, que se permite licenças poéticas, ironias e humor.


A própria crônica que dá título a esta antologia está santificada no altar das melhores criações drummondianas. Uma moça deitada na grama, presa à vista de Drummond, talvez seja comparada às muitas moças deitadas pelas gramas ao alcance de seu olhar por seus muitos passeios, como um Chaplin andarilho e desengonçado, pelas ruas de Copacabana ou da Zona Sul.


E, pinçando grandes momentos aqui e ali pelo livro afora, impossível não mencionar “Novo poeta na praça”, onde há neologismos de fabricação combinados a termos ‘sabidos e consabidos’, ou o lirismo de “A visita da borboleta”, ou o engraçado “Telefone particular”, que segue na linha de “Os amáveis assaltantes”, que é bem próximo do que acontece com a cidade do Rio de Janeiro atualmente, retrato do que o cronista viu enquanto nela viveu.

 




Acompanhei bem de pertinho os textos de Drummond até sua derradeira crônica (“Ciao”), publicada em setembro de 1984, que é a quintessência de sua forma de escrever, o primado de sua escrita, onde expõe sua filosofia inventiva e reposiciona o legado literário, com leveza, humildade e um permanente diálogo com seus leitores, que de costume têm no jornal um elemento pesado do dia a dia, ‘um repositório de notícias tremendas’.


Drummond sempre teve consciência disso, pois acima de tudo, era um homem erudito, cuidadoso e aplicado em estudos e leituras. Em um de seus poemas, escreveu: ‘Não se deve xingar a vida’. Penso que ele era assim, certamente por isso se tornou essa grande personalidade da literatura, reconhecida em vida, megarreconhecida após sua morte.”


Sobre o livro

 

Coletânea com 60 crônicas, “Moça deitada na grama” foi o último livro em prosa organizado em vida por Carlos Drummond de Andrade e teve a primeira publicação em novembro de 1987, três meses antes da morte do autor. A nova edição, da Record, inclui posfácio do jornalista e escritor carioca Tom Farias, autor de “Carolina: uma biografia”, “Toda fúria”, entre outros livros.

 

“Moça deitada na grama”
• De Carlos Drummond de Andrade
• Posfácio de Tom Farias
• Editora Record
• 276 páginas
• R$ 74,90

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