Ronald Polito
Especial para o EM

 

A reedição de um livro de literatura infantil é sempre um fato a ser comemorado, principalmente quando a reedição não simplesmente reproduz a anterior, mas é inteiramente refeita tanto em seu projeto gráfico quanto por alterações textuais. É o caso de “Formigas”, de Mário Alex Rosa, cuja primeira edição, há muito esgotada em razão de seu sucesso, foi publicada pela prestigiosa Cosac Naify, em 2013, com um projeto gráfico singular, como tantos outros dessa casa editorial: um pequeno livro-sanfona encapsulado em uma luva verde.


O novo projeto gráfico, da editora Impressões de Minas, não deixa por menos. A Impressões de Minas também prima por projetos ousados, inovadores, seu catálogo é brilhante pela valorização e inovação do design do objeto livro, coisa rara em nosso meio editorial. O livro cresceu de tamanho, é agora um “livrão” de capa preta com texto e formigas em branco, sendo o design e as ilustrações assinados por Mário Vinícius.

 

Agora as formigas têm muito mais espaço para andarem por aí. E há muitas páginas negras sem texto e sem formigas, o que cria diversas respirações no miolo e amplifica a curiosidade pelo desdobramento do percurso. O miolo, ora com páginas pretas, ora brancas, com texto e formigas intercambiáveis em preto e branco, ainda contém o luxo de uma página em papel vegetal e outra solta, uma cartela repleta de formigas dispostas em pequenos adesivos para colarmos onde quisermos.

 

Até o colofão é inventivo: ele mimetiza fragmentos de percursos possíveis das formigas. Em suma: o livro é um objeto do desejo. Quem tem a primeira edição agora não poderá não ter a segunda. Ainda mais com as sutis mudanças textuais realizadas pelo autor. Em vez do menino da primeira edição, agora é uma menina que sela com seu dedinho o caminho das formigas.

 




Sua impressão digital, que se sobrepõe a um pequeno amontoado de formigas, está na página de papel vegetal. Arrisco dizer que essa presença feminina torna ainda mais delicado o percurso das formigas, agora desbaratas mesmo, cada vez em maior número, andando em círculos tal como o texto, e ficamos sem saber se foram para Atenas ou Barbacena… É essa abertura para o desconhecido o que talvez seja o mais atraente na proposta textual: em vez de um fim fechado, o que temos é um enredo em aberto, um convite para que o leitor imagine todos os fins possíveis e, assim, torne-se coautor da estória.

 

 

 

capa do livro "Formigas"

reprodção

 

“Formigas”
• De Mário Alex Rosa
• Projeto gráfico e ilustrações de Mário Vinícius
• Impressões de Minas
• 73 páginas
• R$ 60


Lançamento neste sábado (18/5), das 16h às 19h, no Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2048 – Santa Tereza, BH), com carrinho de pipoca, contação de história com Pierre André, exposição e venda de gravuras de Wallison Gontijo.

 

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