Dizem que eles são loucos por pensar assim. Os personagens-narradores de “Vento vazio”, terceiro romance da mineira Marcela Dantés, não são o que consideramos normais (se é que somos). “Eu sou muito encantada por pessoas que operam num registro diferente do que a gente costuma chamar de normal, de racional”, conta a escritora.
Nascida em Belo Horizonte em 1986, ela chega ao quarto livro, o primeiro pela Companhia das Letras, novamente com a instabilidade mental como tema e o desejo de estabelecer conexão mais forte com Minas (“Minha terra, o chão onde eu piso”) como objetivo.
O vento que nomeia o livro e desorienta os personagens sopra em um lugar imaginário na Serra do Espinhaço, cadeia montanhosa na região central do estado.
“A vida no interior de Minas carrega muitos costumes e tradições que foram indispensáveis para a construção das minhas personagens. Há ainda características geográficas e ambientais que foram essenciais para se construir um espaço como a Quina da Capivara. O paredão de pedra, as sempre-vivas, os cactos todos e o vento – que ali é intenso, quase absurdo”, acredita.
E é nesse lugar intenso, “quase absurdo”, que Marcela Dantés ergue moinhos de ventos capazes de virar a cabeça, mudar comportamentos, perturbar juízos após o fechamento de uma usina eólica.
Ventos que enlouquecem Miguel Sem-fim, Cícera, Alma e Maura.
Ainda soprava o shhhhhhhhhhh do Vazio, o shhhhhhh do Vento Vazio é diferente de qualquer outro vento chiando é uma coisa que entra pelo ouvido fininho e atravessa tudo e se instala dentro da nossa cabeça no lugar mais importante que é o lugar do juízo e continua chiando lá dentro shhhhhhhhhhhh shhhhhhhhh e a cabeça dói mas a pessoa fica acometida e nem percebe que tá doendo e não percebe que tá conturbada porque isso é a coisa principal dos doidos, não saber que são doidos...
Ela cita os ventos Norte, no Sul do Brasil, de Santa Ana, na Califórnia, Föhn, nos Alpes Suíços, “entre tantos outros”, como exemplos do que buscava para impulsionar os desacertos de suas personagens. “As histórias são fascinantes e pesquisando e me aprofundando no tema, me pareceu que Minas Gerais seria o cenário perfeito para receber um vento com a força de enlouquecer as pessoas”, revela.
Em narrativa vertiginosa e destemida, Marcela Dantés não tem medo de guiar o leitor para caminhos cada vez mais sinuosos até o assombro final. Até lá, somos brindados com diversas frases de impacto (“Quando a gente não tem mais coisa nenhuma, um lugar sem medo é tudo o que a gente precisa, tirando todo o resto”), algumas plenas de afeto (“A mãe da gente tem a calma mais bonita do mundo”), outras desconcertantes (“Corpo morrido é bonito”). E, sempre, a loucura a pairar nas diferentes vozes narrativas e a provocar instabilidade até mesmo nas frases e parágrafos do próprio livro.
“A loucura, a fragilidade mental, as situações de sofrimento mental são a minha grande obsessão”
Como nasce “Vento vazio”?
Este livro nasce de um desejo profundo de continuar investigando alguns temas que me interessam e me acompanham há algum tempo, como a loucura e as relações humanas. Vem, também, de uma necessidade urgente de me conectar mais com a minha terra, o chão que eu piso, os costumes e particularidades de Minas Gerais, que sempre foi minha casa, minha raiz.
Tudo isso é arrematado por uma curiosidade e uma fascinação que eu tenho por superstições, lendas, crendices ou manias que são passadas de geração em geração sem que se tenha certeza de sua origem, mas que são repetidas e transmitidas com uma convicção quase científica. É justamente aí que entram os ventos que enlouquecem: várias culturas acreditam que certos ventos têm o poder de virar a cabeça das pessoas, de mudar comportamentos, de bagunçar comunidades.
Existe o Vento Norte, no Sul do Brasil, o vento de Santa Ana, na Califórnia, o Föhn nos Alpes Suíços, entre tantos outros. As histórias são fascinantes e pesquisando e me aprofundando no tema, me pareceu que Minas Gerais seria o cenário perfeito para receber um vento com a força de enlouquecer as pessoas.
Como a leitura de notícias insólitas reais acaba ativando a sua imaginação? Isso aconteceu em “Vento vazio”?
É interessante. Acho que sempre tive muita curiosidade e um olhar atento às notícias, e principalmente a essas notícias insólitas, singulares. Sempre acreditei e defendi que enquanto escritores, temos que estar de olhos bem abertos para a realidade no que ela carrega de mais improvável, porque é um material muito rico para construir a ficção.
O meu primeiro romance, “Nem sinal de asas”, é completamente baseado numa notícia e talvez este seja o vínculo mais explícito. Mas isso sempre esteve presente no meu trabalho, essa transformação das realidades mais estapafúrdias e surpreendentes em literatura, desde os meus primeiros contos. E então, começou a acontecer uma coisa muito curiosa: outras pessoas, ao se depararem com notícias insólitas, compartilham comigo.
E eu adoro. Foi exatamente o que aconteceu em “Vento vazio”. Ainda que o argumento central não venha de uma notícia, o destino de uma das personagens, a Cícera, sim. A história dela nasceu de notícia que recebi de um grande amigo e grande escritor, o Marcelo Labes. Em 2021, ele me encaminhou a notícia de duas senhoras que passaram anos cavando um buraco gigantesco em volta da sua casa com uma colher de pedreiro.
Ele me disse: “Isso é sua cara”. E, claro, eu fiquei obcecada com a história, com a imagem chocante daquela casa solitária em volta de um buraco imenso. E isso é encantador. Encontrar o insólito na vida real sempre dá uma sacudida na gente, e acho que isso é muito importante para quem escreve. E aí tem uma coisa genial que são os detalhes, as minúcias, porque as notícias trazem informações preciosas para quem cria mundos.
Por que ambientar uma história “na quina do fim do mundo” e situar esse povoado imaginário na Serra do Espinhaço?
Eu quis trazer Minas Gerais para o romance. A Serra do Espinhaço tem características que são muito importantes para esta narrativa. Minas e, principalmente a vida no interior de Minas, carrega muitos costumes e tradições que foram indispensáveis para a construção das minhas personagens.
Tem ainda características geográficas e ambientais que foram essenciais para construir um espaço como a Quina da Capivara. O paredão de pedra, as sempre-vivas, os cactos todos e o vento – que ali é intenso, quase absurdo.
Como se deu o seu contato com uma usina de ventos?
Eu sempre soube da existência da Usina do Morro do Camelinho, em Gouveia, perto de Diamantina. E assim que comecei a trabalhar no livro e a tomar decisões como localização do vilarejo, arco narrativo dos personagens, eu soube que precisava de um lugar assim. E a Usina foi crescendo em importância na narrativa – nos meus esboços iniciais, ela estava ali quase que apenas para justificar a existência e a intensidade do vento, mas à medida que eu mergulhava na obra, ela foi crescendo.
Ela carrega muitas expectativas, permite que as personagens se mostrem, justifica muitos dos acontecimentos do enredo. E a história da sua construção e posterior desativação é, também, muito interessante. O parque eólico do Morro do Camelinho, construído em 1994, foi o primeiro do Brasil a ser interligado ao Sistema Integrado Nacional de Energia.
A força e a constância dos ventos naquela região foram determinantes para a escolha do local e havia muita expectativa na geração de energia ali. Mas, em 2015, a Usina foi desativada, pois os desafios impostos pelo relevo e pela topografia se tornaram grandes demais – o que temos hoje é uma paisagem insólita (para continuarmos nessa palavra que você trouxe e eu tanto gosto): um espaço com ventos que ultrapassam os 40km/h e quatro torres imensas, com as pás absolutamente estáticas.
Estar ali, olhar aquelas torres, o espaço abandonado, sair mais ou menos fugida do único funcionário da Cemig que toma conta do lugar até hoje, depois de investigar cada canto, tudo isso foi fundamental para o desenvolvimento do livro.
Como encontrou as diferentes vozes narrativas do romance? O que foi mais difícil nesse processo?
Eu sempre tive em mente, desde o começo da estruturação desse romance, que eu trabalharia com quatro narradores com vozes muito distintas, mas que dividiam algumas características em função do espaço em que viviam, quase como se eles tivessem um dialeto próprio.
Precisava encontrar o equilíbrio entre o que eles têm de comum no discurso e o que é específico e particular de cada um deles. Foi um processo longo, marcado pela tentativa e pelo erro, pela busca da voz exata de cada um desses personagens.
Este livro tem uma marca muito importante, a oralidade, são quatro narradores presos em um fim de mundo, ávidos por contarem suas histórias. Então, o processo contou com muitas (muitas mesmo) leituras em voz alta e, inclusive, me gravei diversas vezes lendo os textos, para ouvir alguns dias depois, já com certo afastamento, e entender melhor como cada um daqueles personagens estava soando. Foi uma construção do detalhe, da minúcia, a escolha de cada palavra, cada cacoete, cada repetição.
“Encontrar o insólito na vida real sempre dá uma sacudida na gente’’
A loucura é citada em diversas passagens do livro, seja como advertência, seja como sina inescapável, seja como constatação de um diagnóstico. Por que a saúde mental, já um dos temas de “João Maria Matilde”, é ainda mais presente em “Vento vazio”?
A loucura, a fragilidade mental, as situações de sofrimento mental, são a minha grande obsessão. Meu primeiro livro, lançado lá em 2016, foi uma coletânea de contos que retratavam pessoas em situações muito extremas ou com respostas muito extremas, improváveis ou idiossincráticas, às situações que se colocavam.
E a partir daí, nos romances que se seguiram, eu fui tratando do tema com cada vez mais interesse. “Nem sinal de asas” já apresenta uma personagem em uma situação de fragilidade mental. Depois, desenvolvo isso de uma forma mais estruturada no “João Maria Matilde”, com personagens diagnosticadas, com uma abordagem mais sistematizada do transtorno de ansiedade, da síndrome do pânico e da esquizofrenia.
E a cada trabalho, eu sentia vontade de mais, eu queria explorar a insanidade, a loucura em sua forma mais pura, com mais liberdade e menos amarras. Eu sou muito encantada por pessoas que operam num registro diferente do que a gente costuma chamar de normal, de racional. E este é um assunto que eu venho investigando, para tentar trazer para a literatura.
Em “Vento vazio”, chego nesse conjunto de quatro narradores que são reconhecidamente, declaradamente loucos. E em cada um deles, a loucura se manifesta de uma forma diferente, e é através dela que eles têm a possibilidade de contar sua vida.
E isso me deu uma liberdade, no discurso e mesmo na forma, porque são narradores que não respondem a certas obrigações e expectativas da sociedade. São enlouquecidos pelo vento, afinal. Talvez não seja exagero dizer que o que até hoje tem pautado a minha criação literária passe em grande medida pelo desejo de dar voz à loucura.
“Quem entra em fogueira não sai.” Essa frase se aplica também à literatura?
Essa é uma frase da Cícera, uma das narradoras de ‘Vento Vazio’, e eu acho que ela é uma frase que simboliza o livro e, principalmente, a Quina da Capivara, lugar de onde as pessoas não conseguem sair e vão ficando numa dinâmica muito específica. Eu vejo um paralelo com a literatura, que é, em alguma medida, um vício, algo que me consome.
Eu digo isso com um sentido positivo, de algo que me demanda muita energia, muita dedicação e de uma forma que não acaba, como um ciclo, porque a gente sempre quer mais da literatura. A gente sempre quer tirar mais dela, conhecer novos autores, encontrar o grande livro que vai mexer com você naquele momento, mas a gente também quer sempre entregar mais para a literatura.
Escrever cada vez melhor, de uma forma mais consistente, por novos caminhos. Então sim, uma vez dentro, é impossível sair. E é uma sensação muito boa, ainda que muitas vezes seja um processo complexo.
Qshhh é o barulho da tesoura correndo a minha pele...
Apesar de ser um livro centrado em personagens, “Vento vazio” também traz reflexões sobre as consequências do “progresso”: “Prometeram pra gente tudo o que você pode imaginar e só pagaram com desgosto”. Como se dá no livro o embate entre a tradição e as transformações provocadas pela ação do homem?
É um ponto de vista muito interessante sobre o livro, a promessa de progresso que nunca chega. A Quina da Capivara é um lugar muito fechado, muito isolado e as descrições do espaço foram feitas na tentativa de deixar isso claro para o leitor. São poucas casas e um enorme paredão de pedra, que não deixa nada entrar e nada sair.
É um lugar que está parado no tempo, com uma dinâmica muito própria. E, absolutamente de repente, essas pessoas se deparam com a construção de um parque eólico que é, antes de tudo, uma grande promessa. O que é dito, pelas pessoas que vêm de fora, é dito com o apelo do progresso, da transformação, e quem está ali nem sabem se quer isso.
E a promessa nunca se concretiza. A usina funciona por alguns anos, mas da mesma forma que chega, ela desaparece, deixando a terra arrasada e uma completa mudança na dinâmica do vilarejo. O livro mergulha nisso, nessa terra sendo paulatinamente transformada pela ação do homem estrangeiro, por pessoas que vieram de fora e que não vão ficar.
Elas chegam, sobem as torres, ditam os salários que o outro deve receber, alteram para sempre uma paisagem e vão embora – e este embate é um dos alicerces do livro.
Podemos considerar que “Vento vazio” também é um livro que promove acerto de contas entre relações amorosas e familiares? Como estas relações se estabelecem e se dissolvem no livro?
As relações são essenciais para a dinâmica de ‘Vento vazio’. É um espaço com pouquíssimos moradores, pessoas que precisam conviver intensamente e isso cria uma dinâmica quase familiar. Ali, todo mundo vigia todo mundo e todos têm uma opinião sobre a vida alheia. São pessoas que estão intimamente ligadas e essas relações são importantes até para que o enredo seja compreendido, porque as quatro vozes vão se complementando nos fatos e nas visões de mundo.
Gosto de pensar na imagem de um quebra-cabeças, um mosaico de impressões, de relações, de trocas, de conflitos e de apoio. Porque apesar de tudo, eles se cuidam, se protegem, já que as relações ali são basicamente tudo o que aquelas pessoas têm. Então, sim, existe ali um acerto de contas entre relações amorosas e familiares, porque existe um vínculo muito forte entre as pessoas. As relações ali são consistentes, duradouras, determinantes para cada um.
Eu cito a figura da Theodora, que é uma personagem que aparece no relato de cada um dos narradores. É uma mulher que já está morta, mas que une tudo o que acontece na Quina da Capivara. A relação que ela construiu com cada um dos personagens e a relação que ela tem com o espaço é determinante para como a Quina da Capivara vai existir e como as pessoas vão existir ali dentro.
Como vê a sua trajetória como escritora desde o lançamento do primeiro livro de contos, “Sobre pessoas normais”? E o que representam as sucessivas mudanças de editora?
É uma trajetória feliz, consistente e coerente. Desde o lançamento do meu primeiro livro, em 2016, por uma editora independente, a Patuá, eu me vejo tendo excelentes oportunidades e muitas portas abertas – e tenho plena consciência de como isso pode ser difícil no Brasil.
Sobre as mudanças de editora, eu vejo como parte do processo, como um caminho natural e até esperado. Em uma conversa importante com o Eduardo Lacerda, da Patuá, ele me disse que quer ver os autores que começaram em sua editora tendo a oportunidade de publicar em casas maiores, com tiragens maiores e alcançando cada vez mais leitores.
Eu sempre disse que estar na Companhia das Letras era um sonho. Um sonho da menina que perdia horas e horas escrevendo as redações de escola (dela e dos outros), da mulher que disse pro Luiz Antônio de Assis Brasil, na última aula de oficina, que estava escrevendo um livro (sem de fato estar), de quem eu sou hoje. É uma conquista, uma chancela, o resultado de quase dez anos de trabalho.
Você chega ao terceiro romance. O que os une e o que os separa, em sua opinião?
Cada romance é um mundo em si. E o “Vento vazio” é o que mais carrega isso, de ser um mundo, quase um microcosmo muito particular, enquanto os anteriores “Nem sinal de asas” e “João Maria Matilde” são personagens inseridas num mundo muito maior, num contexto muito mais amplo.
Claro, eles têm em comum um registro muito marcado das obsessões da autora. A loucura, as relações familiares, a solidão. Acho que os romances apresentam diferentes concepções de família, como as famílias são construídas e o que elas carregam que unem e desunem as personagens. Cada livro acaba sendo um reflexo disso, é óbvio que a partir de temas diferentes, de abordagens diferentes, mas eles têm essa cola.
“Nem sinal de asas” nasce de uma urgência, de uma notícia de jornal que me tocou profundamente. Eu precisava contar aquela história, então, foi um livro que foi escrito e publicado em um tempo muito curto. Já “João Maria Matilde” foi um livro que começou a ser trabalhado em 2016 em Portugal e só foi lançado em 2022. Tem um grande trabalho de pesquisa, escrita, reescrita, um tempo de gaveta até eu sentir que de fato ele estivesse pronto para ser lançado.
“Vento vazio” acaba sendo uma mistura dos dois. Ele nasce de uma urgência de contar desse espaço, de contar desse vento, mas com uma autora um pouco mais experiente, mais consciente dos seus processos. É um livro que foi mais trabalhado e que me permitiu experimentar mais: quatro narradores não confiáveis, quatro vozes muito diferentes, pouquíssimas respostas, um discurso muitas vezes fragmentado, contraditório.
Vejo um distanciamento entre “Vento vazio” e os livros anteriores, porque a história pedia isso, uma experimentação, um caminho menos óbvio. Mas ele mantém algo que permeia o meu trabalho, que é um cuidado com a frase, com a palavra, um lapidar das estruturas.
Para citar uma passagem do livro: Sua cabeça já ‘virou de vento’ alguma vez com a literatura? Quais livros ou autores provocaram esse efeito? E a escrita é capaz de provocar essa sensação?
A minha cabeça vira de vento com a literatura todos os dias, a literatura me impacta, me sacode e me abala. Há algumas semanas comecei a leitura de um livro no avião, “Você me espera para morrer”, da Maria Fernanda Elias Maglio. Eu abri o livro e já nas primeiras páginas comecei a chorar, profundamente tocada pela narrativa, emocionada não só pela história, mas pela beleza do livro, pela beleza da construção e beleza do trabalho da Maria Fernanda.
E eu chorei a ponto de uma aeromoça vir me perguntar se estava tudo bem e eu disse que estava, mas que ela devia pegar o alto-falante do avião e dizer pra todo mundo ler “Você me espera para morrer”. Foi uma coisa completamente incontrolável, todas as sensações que aquele livro estava me provocando e como ele seguiu me incomodando e mexendo com a minha cabeça depois e até hoje.
Eu me lembro do assombro de ler Lygia Fagundes Telles, de como isso virou minha cabeça. Eu mergulhei ali na literatura dela e fui investigar e conhecer sua obra e eu queria absorver, engolir, nunca esquecer tudo o que eu lia. A literatura pra mim é essa coisa imensa, que me toca profundo.
A mesma coisa quando eu descobri “Grande sertão: veredas”, eu tive a dimensão do que a palavra pode fazer. E eu quis carregar aquilo para sempre. Cito “Uma vida pequena” e “Precisamos falar sobre Kevin”, dois livros fortíssimos de norte-americanas que eu admiro demais. E a literatura brasileira contemporânea, que vive um momento apaixonante. Só não vira a cabeça quem não está acompanhando. Um país que tem Nara Vidal, Natércia Pontes, Lilia Guerra e Mar Becker, entre tantas outras mulheres incríveis, é de enlouquecer.
Outros livros da autora
- “Sobre pessoas normais” (Patuá, contos, semifinalista do Prêmio Oceanos, 2016)
- “Nem sinal de asas” (Patuá, romance, finalistas dos Prêmios São Paulo e Jabuti, 2020)
- “João Maria Matilde” (Autêntica Contemporânea, romance, 2022)