No projeto livro do mês da AML, palestra com Conceição Evaristo apresenta a obra

No projeto livro do mês da AML, palestra com Conceição Evaristo apresenta a obra "Macabéa, flor de mulungu"

crédito: Fabio Setimio/Divulgacao

No dia 27 de junho, quinta-feira, às 19h30, a Academia Mineira de Letras (AML) será palco de uma palestra especial com a renomada poeta, professora e acadêmica Conceição Evaristo. O evento faz parte do projeto "Livro do Mês" e contará com a apresentação da obra "Macabéa, Flor de Mulungu", um livro-conto que oferece uma nova perspectiva sobre Macabéa, personagem central do romance "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector.

 

 

A palestra contará com as presenças do presidente da AML, Jacyntho Lins Brandão, e da pesquisadora Constância Lima Duarte. Após a apresentação, haverá o lançamento oficial do livro no auditório da AML. A entrada é franca e o evento terá interpretação em Libras.

 

Uma Nova Macabéa

"Macabéa, Flor de Mulungu" começa na trágica cena em que Macabéa é atropelada, utilizando a metáfora da flor de mulungu para representar a nordestina acidentada e agonizante. A narrativa oferece ao leitor uma nova Macabéa, em um estado de floração, que renasce com direito a história, memória e futuro.

 

 

Em um artigo conjunto, Aline Arruda e Cristiane Côrtes destacam que Conceição Evaristo, ao recriar Macabéa, dá visibilidade às mulheres negras, retirando-as dos estereótipos e silenciamentos recorrentes na literatura.


 

Em entrevista ao Estado de Minas, Conceição Evaristo conta sobre a nova Macabéa. Confira:

 

EM: Qual é o sentimento de trazer um novo olhar sobre essa obra? Como foi o processo de escrita do livro “Macabéa: flor de mulungu”?

Conceição Evaristo: Lembrar como foi o processo de escrita do livro “Macabéa: flor de mulungu” é um pouco difícil, porque esse conto foi escrito em 2012, a convite da editora Oficina Raquel. Eles quiseram fazer uma homenagem a Clarice Lispector e convidaram alguns escritores e escritoras para produzir um texto a partir de uma leitura, obra ou personagem criado por Clarice Lispector. Nesse momento, foram convidados Silviano Santiago, Vera Duarte, Godofredo de Oliveira Neto, Pedro Eiras e eu. Nós estávamos livres, então, para dialogar com a obra de Clarice Lispector. Eu escolhi dialogar com Macabéa, e Vera Duarte também.

 

Aos fãs de Clarice que forem adquirir a obra, qual mensagem gostaria de dizer a eles? E para as tantas “Macabéas” existentes pelo Brasil afora, mulheres silenciadas que precisam reconhecer suas origens para construir sua história, o que dizer a elas? Como o livro pode impactá-las?

Aos fãs de Clarice: continuem lendo Clarice, com toda a atenção que a obra merece, com toda a atenção que ela já vem sendo dada. Já para essas mulheres, eu diria que falar é poder. Exercer o direito à fala é se colocar no lugar de poder, no lugar de contar a sua própria história e não permitir jamais que o outro conte ou outro invente uma história sobre você. Às vezes as pessoas dizem que eu dou voz às mulheres negras. Porém, eu não dou voz às mulheres. Não dou voz à Macabéa. Eu falo com as mulheres, eu falo com a Macabéa. Eu falo como Macabéa.

 

No livro, você invoca a ancestralidade de Macabéa construindo uma nova trajetória para uma das personagens mais marcantes da literatura brasileira. Quais foram os desafios para encontrar o tom da escrita que empoderou a protagonista tão caprichosamente?

A linguagem é um desafio, poder falar é um desafio, poder escrever é um desafio. Empoderar a Macabéa é, de certa forma, também exercitar cada vez mais ações que empoderam as mulheres negras, pobres e indígenas. As mulheres, que por qualquer motivo, vivem em processos, em desafios para enfrentar uma vida marcada por interdição. Então empoderar Macabéa através da palavra é de, certa forma, também estar dentro de um exercício que eu experimentei e experimento ainda, o exercício de poder criar, de poder ser e de se afirmar, inclusive no campo da literatura. É poder ter uma linguagem própria, é poder ter a liberdade de criar e de ser, no meu exercício de criação literária.

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa