Máquina de escrevers mith-corona usadapor garcía márquez  está exposta na biblioteca nacional da colômbia, em bogotá -  (crédito: EITAN ABRAMOVICH/afp)

Máquina de escrevers mith-corona usadapor garcía márquez está exposta na biblioteca nacional da colômbia, em bogotá

crédito: EITAN ABRAMOVICH/afp

“Ninguém acredita que não inventei nada; não passo de um simples escrivão”, disse várias vezes ao longo de sua vida, com estas e outras palavras, o escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) sobre sua obra máxima, “Cem anos de solidão”, e outras também memóraveis que lhe deram fama mundial e o Nobel de Literatura. Em longa entrevista ao amigo Plinio Apuleyo Mendoza, transformada no livro “Cheiro de goiaba”, lançado em 1982, o escritor dá duas respostas cruciais a respeito.

 

Perguntado sobre qual foi o propósito quando se sentou para escrever “Cem anos de solidão”, ele respondeu: “Dar uma saída literária, integral, para todas as experiências que de algum modo me tivessem afetado durante a infância”. E sobre a observação de muitos críticos que viam no livro uma parábola ou alegoria da história da humanidade, ele relativizou o realismo mágico e rebateu: “Não, eu só quis deixar um testemunho poético do mundo da minha infância, que transcorreu numa casa grande, muito triste, com uma irmã que comia terra e uma avó que adivinhava o futuro, e numerosos parentes de nomes iguais que nunca fizeram muita distinção entre a felicidade e a demência”.


Agora, 10 anos após a morte de García Márquez – em 17 de abril de 2014 – é lançada uma antologia que reúne todos os textos publicados pelo escritor nos quais Macondo vai tomando forma como um prelúdio, como caminhos para “Cem anos de solidão”, lançado em 1967. Evidencia as convicções do escritor sobre a influência de sua infância em Aracataca – o povoado do interior da Colômbia onde ele nasceu e que se tornou Macondo – em sua obra e também como foi o processo de criação do universo mítico de “Cem anos de solidão”.

 

 

“A caminho de Macondo: Ficções – 1950-1966”, que acaba de ser lançado pela editora Record, reúne sete textos e quatro obras já bem conhecidas dos leitores (“A revoada” – ou “O enterro do diabo” –, “Ninguém escreve ao coronel”, “Os funerais de Mamãe Grande” e “O veneno da madrugada” – ou “A má hora”).


Os sete textos (“A casa dos Buendía”, “A filha do coronel”, “O filho do coronel”, “O regresso de Meme”, “Monólogo de Isabel vendo chover em Macondo”, “Um homem vem na chuva” e “Um dia depois do sábado”) foram publicados inicialmente em jornais e revistas, entre 1950 e 1954, alguns com a observação “Apontamentos para um romance”, como complemento do título. E em alguns também já é citado o coronel Aureliano Buendía, o protagonista da abertura de “Cem anos de solidão”: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

 

 

Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos”.

 

Gabriel García Marquez recebeu o prêmio nobel de literatura em 1982, consagrado pelo sucesso mundial de "Cem anos de solidão"

Gabriel García Marquez recebeu o prêmio nobel de literatura em 1982, consagrado pelo sucesso mundial de "Cem anos de solidão"

RONALDO SCHEMIDT/afp

 

Desbravador

 

Em “Nota da edição original”, Conrado Zuluago, organizador de “A caminho de Macondo”, afirma: “Gabriel García Márquez argumentou em várias ocasiões que primeiro era preciso aprender a escrever um livro e só depois encarar a página em branco. Foram quase vinte anos 'vivendo' em Macondo para que aprendesse a escrever sua obra-prima 'Cem anos de solidão'. (…) Assim como um desbravador, ele precisou abrir um caminho, apropriar-se de um espaço e delinear, pelo menos, traços das personagens que o habitariam. Por isso, esta antologia de textos completos – mas de dimensões muito diversas – tem como título 'A caminho de Macondo'”.

 


Um primeiro exemplo desse caminho é de 1950, 17 anos antes do lançamento de “Cem anos de solidão”. No “apontamento para um romance” “A casa dos Buendía”, publicado em 6 de junho, no número 6 da revista “Crónica” – que ele fundou com amigos – já aparece o coronel Aureliano Buendía, que volta ao povoado com o término da guerra civil com apenas “o título militar e uma vaga inconsciência de seu desastre”. García Márquez escreve: “Quando o coronel Aureliano Buendía voltou ao povoado, a guerra civil já havia terminado.

 

Ao novo coronel talvez nada tivesse restado da áspera peregrinação. Restava-lhe apenas o título militar e uma vaga inconsciência do seu desastre. Mas também lhe restava metade da morte do último Buendía e uma ração de fome inteira. Restava-lhe a saudade da domesticidade e o desejo de ter um casa tranquila, pacata, sem guerra, que tivesse jamba alta para o sol e uma rede no quintal, entre dois mourões.

 

No povoado onde ficava a casa de seus ancestrais o coronel e a esposa encontraram apenas as raízes dos mourões incinerados e o alto terrapleno, varrido já pelo vento de todos os dias. Ninguém teria reconhecido o lugar onde antes houvera uma casa. 'Tão claro, tão limpo era tudo isso', disse o coronel, recordando. Mas, entre as cinzas onde estivera o quintal, já reverdecia a amendoeira, como um Cristo entre os escombros, junto ao quartinho de madeira da privada. A árvore, de um lado, era a mesma que havia lançado sombra sobre o quintal dos velhos Buendía”.

 


Hotel Macondo


Macondo, antes de ser a Aracataca natal de García Márquez, foi hotel, conta Zuluago: “A primeira menção a Macondo pode passar despercebida. No conto 'Um dia depois do sábado', que foi publicado pela primeira vez em 1954 e faz parte do livro “Os funerais da Mamãe Grande” (1962), um jovem desce do trem que chega ao povoado e, vendo o padre, pensa, sem nenhuma lógica aparente, que se há um padre naquele povoado, também deve haver um hotel, e entra num estabelecimento sem olhar a placa que anuncia: 'Hotel Macondo'”.

 

Assim, de formas diversas, todas as 11 obras de “A caminho de Macondo” remetem a “Cem anos de solidão”, seja pelas citações de Macondo ou povoados similares, seja pelos personagens emblemáticos, como Aureliano e José Arcádio Buendía. Certa vez, García Márquez declarou em entrevista: “Macondo não é um lugar, mas um estado de ânimo que permite ver o que queremos e como queremos”.


No prefácio de “A caminho de Macondo”, a jornalista mexicana Alma Guillermoprieto lembra que García Márquez diz que nada mais de importante aconteceu em sua vida depois dos 8 anos de idade. Exagero ou extravagância à parte, o escritor não deixava de ter razão.

 

“Aqueles primeiros oito anos que ele passou na casa dos avós maternos em Aracataca, no departamento de Magdalena, Colômbia, vulgo Macondo, deram-lhe material para toda uma vida inteira”, lembra Alma. De fato, a história do menino Gabo é muito conhecida. Ele nasceu em 6 de março de 1927 em Aracataca. Logo aos 2 anos de idade é deixado no casarão dos avós maternos pelos pais, Gabriel Eligio e Luisa Santiaga, que saem em busca de uma vida melhor.


Ana Guillermoprieto relembra: “O avó, Nicolás Márquez, havia lutado do lado liberal, com grau de coronel, na guerra conhecida como dos Mil Dias, que ensanguentou o país quando o século 19 engrenava no 20. Seu maior segredo é que ele, que tanto combateu e exterminou em seus anos de militar, vive atormentado pela morte do homem que matou depois da guerra por uma questão de honra.

 

Convive com o fardo daquela morte única como um fantasma e abandona o povoado onde cometeu o crime com a esperança de deixar o morto para trás. Vivem em itinerância por vários anos, ele e Tranquilina Iguarán, sua esposa com os dois filhos mais velhos e a pequena Luisa Santiaga, que um dia será a mãe de Gabriel (…) Tentam fincar raízes em cidades e povoados ao redor da Ciénaga Grande de Santa Marta até arribarem, enfim, em Aracataca, povoado bananeiro que se consome entre o calor e os aguaceiros bíblicos do trópico.”

 

A cidade de aracataca, no departamento de magdalena, na colômbia, onde garcía márquez nasceu em 1927 e passou parte da infância, inspirou contos e romances do escritor

A cidade de aracataca, no departamento de magdalena, na colômbia, onde garcía márquez nasceu em 1927 e passou parte da infância, inspirou contos e romances do escritor

alvaro delgado/fnpi - 25/3/2024

 

Massacre no povoado

 

A “febre” da banana havia chegado com a companhia norte-americana United Fruit Company após a guerra e com ela incontáveis aventureiros, charlatães, caçadores de fortuna e prostitutas que no futuro comporiam o cenário de “Cem anos de solidão”. A exploração desenfreada dos trabalhadores levou a uma greve em 1928, que terminou com um massacre praticado pelo exército da Colômbia, cujo governo conservador do presidente Miguel Mendéz atendeu aos interesses dos EUA e da companha bananeira.

 

Nunca se soube o número certo de grevistas, chamados de “subversivos” e “comunistas”, mortos. Teriam sido cerca de 3 mil. Por causa do massacre, a companhia acabou abandonando Aracataca, o que arruinou o povoado. Sobre isso, García Márquez escreve em seu livro de memórias “Viver para contar”: “O dinheiro, as brisas de dezembro, a faca no pão, o trovão das três da tarde, o aroma dos jasmins, o amor. Só ficaram as amendoeiras empoeiradas, as ruas reverberantes, as casas de madeira e tetos de zinco enferrujado com sua gente taciturna, devastadas pelas recordações”.


Naquela época, García Márquez era então o menino que vivia com os avós numa casa de muitos quartos e grandes corredores, onde também moravam muitas mulheres da família. O coronel conta ao garoto o seu passado na guerra, o homem que matou por honra, enquanto a avó aguça a imaginação dele com histórias de fantasmas e assombrações.

 

Daí, a constatação de García Márquez de que tudo de interessante na sua vida aconteceu até os 8 anos de idade. Alma Guillermoprieto analisa então no prefácio de “A caminho de Macondo”: “O exorcismo de Aracataca, que se conclui em 'Cem anos de solidão' – a história dos avós, um que mata homens e a outra que vê fantasmas em cada canto; a história da arrevesada corte do seu pai, Gabriel Eligio García, à sua mãe, Luisa Santiaga; a origem de Aracataca e seu final; a história de sua avó, mãe de Gabriel Eligio, mulher jovial que tem filhos sem se preocupar em se casar com os diversos pais e que, definitivamente, não confunde alhos com bugalhos, o massacre, os padres, a chuva de pássaros [mortos], o descobrimento do gelo – tudo, tudo está naqueles oito anos e nas modestas cento e tantas páginas que o autor gastas em suas memórias para narrar os primeiros e definitivos anos de sua infância e as consequências. (…) Fantasma se exorciza escrevendo, e os textos [de 'A caminho de Macondo'] são precisamente isso: a oferenda ao passado de um talentoso jovem que, como tantos outros aspirantes a escritor, passara o tempo em busca de temas extravagantes para relatos únicos e geniais”.

 

Gabriel García Márquez e sua mulher, mercedes barcha, chegam a aracataca em 2007. escritor dizia que tudo de importante em sua vida aconteceu até os seus 8 anos de idade

Gabriel García Márquez e sua mulher, mercedes barcha, chegam a aracataca em 2007. escritor dizia que tudo de importante em sua vida aconteceu até os seus 8 anos de idade

ALEJANDRA VEGA/afp

 

Trecho de “Os funerais de Mamãe Grande” *

“A ninguém teria ocorrido pensar que a Mamãe Grande fosse mortal, salvo aos membros de sua tribo, e ela mesma, aguilhoada pelas premonições senis do padre Antonio Isabel. Ela acreditava, porém, que viveria mais de cem anos, como sua avó materna, que na guerra de 1875 enfrentou uma patrulha do coronel Aureliano Buendía, entrincheirada na cozinha da fazenda. Só em abril deste ano, a Mamãe Grande compreendeu que Deus não lhe concederia o privilégio de liquidar pessoalmente, em franca refrega, uma horda de maçons federalistas.


Na primeira semana de dores, o médico da família entreve-a com cataplasmas de mostarda e meias de lã. Era um médico hereditário, laureado em Montpellier, contrário por convicção filosófica aos progressos de sua ciência, a quem a Mamãe Grande havia concedido a prebenda de que se proibisse o estabelecimento de outros médicos em Macondo. Houve uma época em que percorria o povoado a cavalo visitando os lúgubres enfermos do entardecer, e a natureza concedeu-lhe o privilégio de ser pai de numerosos filhos alheios.

 

O artritismo, porém, ancilosou-o numa rede e acabou por atender os seus pacientes sem visitá-los, por meio de suposições, mexericos e recados. Solicitado pela Mamãe Grande, atravessou a praça de pijama, apoiado em duas bengalas, e se instalou no quarto da doente. Só quando compreendeu que Mamãe Grande agonizava, mandou trazer uma arca com fascos de porcelana com inscrições em latim e durante três semanas besuntou a moribunda por dentro e por fora com todo tipo de emplastros acadêmicos, julepes magníficos e supositórios magistrais. Depois aplicou-lhe sapos defumados defumados no lugar da dor e sanguessugas nos rins, até a madrugada daquele dia em que teve que enfrentar a alternativa de fazê-la sangrar pelo barbeiro ou exorcizar pelo padre Antonio Isabel.”

 

* “Os funerais de Mamãe Grande” é um dos sete contos do livro homônimo de Gabriel García Márquez, lançado em 1962, no qual Macondo já aparece cinco anos antes de “Cem anos de solidão”

 

“A FILHA DO CORONEL” *

 

“Na igreja uma cadeira reservada para o coronel Aureliano Buendía atrás dos últimos bancos, exatamente debaixo do coro. Ao lado da cadeira, um lugar desocupado, onde a pequena Remédios colocava sua almofadinha para se ajoelhar quando o pai se ajoelhasse. O coronel só usava a cadeira durante o sermão. No primeiro domingo, Remédios não soube o que fazer quando o pai se sentou. Continuou de pé durante todo o tempo, sem se mexer, até que seus pés adormeceram e seus joelhos começaram a doer. Depois, quando o padre desceu do púlpito, o coronel ficou de pé, e a menina deixou de sentir o adormecimento e as dores, não por ter saído de seu lugar, mas porque, quando o padre parou de falar e seu pai ficou em pé, a menina acreditou que a missa tivesse acabado. Nas missas seguintes, Remédios já sabia, sem ter perguntado, que durante o sermão precisava se sentar no banco que ficava na frente, mas sem levar a almofadinha.


Naquela época sua consciência começou a se encher com as coisas do povoado, a compreender por que precisava viver na mesma casa onde várias vezes havia reaparecido o medo. Na escola aprendeu a costurar. Aprendeu a fazer enfeites para a roupa e até é possível que então tivesse começado a acreditar que tudo aquilo era a vida, quando o ano terminou, antes que sua irmãzinha aprendesse a se sustentar em pé. No ano seguinte, não voltou para a escola. Remédios não saberia por que, mas quatro anos depois se lembrava de que estava de férias quando tido ido à igreja em companhia das mulheres, sem ainda ter falado diretamente com seu pai e sem tê-lo olhado no rosto por cerca de quatro anos.


Com as muheres, sentou-se nos bancos da frente, perto do padre. Foi quando ouviu pela primeira vez cantarem na igreja. Remédios não estranhou a mudança de lugar no templo. Possivelmente nem estava em idade de se preocupar com o que significva uma mudança de companhia durante a missa. Mas, quando ouviu cantarem pela primeira vez, assustou-se com as vozes iniciais; desconcertou-se. Na sua frente, o Arcanjo Gabriel, com uma das mãos no alto e as asas fechadas, também deve ter sentido a voz dos cantores, porque Remédios viu a túnica diluída nos espaços totais da música e viu as pregas sacudidas por uma brisa tênue; pelo bafejo redimido e absoluto da nova criação. Ela sabe que voltou o olhar (porque a música soava às suas costas) e não viu os cantores, mas viu, no final da nave central, seu próprio pai erguido, esticado, junto ao lugar vazio onde sua própria almofadinha havia ficado durante um ano inteiro. E viu o pai, só humano, comovedor, com ar de completo abandono no final da nave. Só então teve vontade de estar lá junto ao pai, sentindo o adormecimento dos joelhos.


Talvez Remédios não se lembre de que foi essa a segunda vez que olhou o pai de frente e que seu rosto já não era parecido com o dos pássaros, mas exatamente igual ao que ela tinha desejado ver durante longos anos na ponta da mesa.


De repente o mundo de seu pai se tornou claro para ela. Foi como se a voz dos cantores tivesse arrancado um véu que durante toda a sua vida se interpusera entre o pai e ela. Então compreendeu por que seu pai nunca lhe dirigira a palavra. E compreendeu que um homem não precisa falar com sua filha mais nova quando a filha sabe fazer as coisas no tempo certo, corretamente, como o pai gostaria que as tivesse feito, caso a filha as tivesse feito de maneira diferente. 0E compreendeu por que, quando ia à missa das oito aos domingos, levada pela mão do pai, pôde achar que um pai não era mais que aquilo. Um homem que leva pela mão uma menina com a qual não deve trocar nenhuma palavra durante todo o tempo.


Isso aconteceu num domingo. Na segunda-feira, Remédios começou a crescer apressadamente.”


* Texto escrito como “Apontamentos para um romance”, em 1950, por Gabriel García Márquez, incluído agora na antologia “A caminho de Macondo”

 

Capa do livro A CAMINHO DE MACONDO:FICÇÕES 1950 – 1966

Capa do livro A CAMINHO DE MACONDO:FICÇÕES 1950 – 1966

Reprodução

 

A CAMINHO DE MACONDO: FICÇÕES 1950 – 1966
• Gabriel García Márquez
• Organização: Conrado Zuluaga
• Tradução: Ivone Benedetti, Édison Braga, Danúbio Rodrigues e Joel Silveira
• Editora Record
• 476 páginas
• R$ 79,90