Chimamanda Ngozi Adichie, escritora -  (crédito: Juan BARRETO / AFP)

Chimamanda Ngozi Adichie, escritora

crédito: Juan BARRETO / AFP

 

Chimamanda e os dez anos de “Americanah”

 

“Posso dizer que ‘Americanah’ não foi o primeiro romance que eu escrevi na minha América – tinha publicado dois outros, ‘Hibisco roxo’ e ‘Meio sol amarelo’ –, mas foi, acho, o primeiro cuja semente foi plantada. Quando finalmente me senti preparada para escrevê-lo, algo estava sendo fermentado dentro de mim, uma espécie de rebelião literária. Eu queria uma libertação da imaginação, não estar presa às regras convencionais da ficção, que tinham se tornado inadequadas diante de minha urgência.

 

E que urgência era essa? Escrever um livro diferente daqueles do passado. Meus romances anteriores tinham sido tão importantes pra mim emocionalmente, em especial ‘Meio sol amarelo’, e eu sentira que apenas sendo a filha obediente da literatura, apenas me curvando à bela e muito testada tradição do realismo literário, como Balzac e Trollope, poderia honrar a história da guerra Nigéria-Biafra. Eu me sentia diferente em relação a ‘Americanah’.

 

Queria escrever sobre uma perspectiva americana que não tinha visto em nenhum outro lugar, sobre a negritude e os cabelos das mulheres negras, sobre a imigração e a saudade. De que maneira iria conseguir retratar uma sociedade que parecia estranhamente indiferente à História, como se, a cada nova história, a História recomeçasse do zero?

 

 

Queria escrever um romance permeado por ideias e até pela exortação, que pudesse, ao mesmo tempo, nos ajudar a falar sobre coisas difíceis. Um romance com uma personagem feminina que não existisse principalmente para cativar o leitor – e esperava que meus leitores pudessem ser gentis com ela, assim como nós esperamos pela gentileza sem a condição de sermos perfeitos (quando as pessoas presumem que Ifemelu sou eu, considero isso um elogio, já que ela é muito mais interessante do que eu jamais poderia ser. Ainda assim, ela sou eu da maneira como todos os meus personagens são eu. Obinze, com seu jeito questionador e sonhador, talvez esteja mais próximo do meu eu interior.)”

 

Capa do livro "Americanah (Edição comemorativa de 10 anos)"

Capa do livro "Americanah (Edição comemorativa de 10 anos)"

Reproduação

 

“Americanah (Edição comemorativa de 10 anos)”
• De Chimamanda Ngozi Adichie
• Tradução de Julia Romeu
• Companhia das Letras
• 520 páginas
• R$ 129,90

 

Chimamanda Ngozi Adichie (foto), na introdução da edição comemorativa dos 10 anos de lançamento no Brasil do romance “Americanah”, que chega às livrarias em edição de capa dura da Companhia das Letras e tradução de Julio Romeu. “O cabelo das mulheres negras era um tema bastante improvável para um romance.

 

 

Mas era sobre isso que eu queria escrever, o espírito do romance já estava me chamando, e eu estava preparada para a possibilidade de a maioria das pessoas não gostar dela. Abordar a negritude na América de maneira honesta é descartar o conforto, de qualquer maneira”, conta a autora nigeriana no texto inédito “Dez anos depois”.

 

Lançamentos

 

Capa do livro "30 anos do Real: crônicas no calor do momento"

Capa do livro "30 anos do Real: crônicas no calor do momento"

reprodução

 

“30 anos do Real: crônicas no calor do momento”
• De Gustavo H. B. Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha
• Editora História Real/Intrínseca
• 224 páginas
• R$ 69,90

 

Nas bodas de pérola do casamento entre o real e o povo brasileiro, os criadores da moeda reuniram suas reflexões de três décadas sobre a economia do país em um livro inédito. Em “30 anos do real: crônicas no calor do momento” (História Real/Intrínseca), Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda (1995-2003) e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, ex-secretário-adjunto de Política Econômica e ex-presidente do BC, e Edmar Bacha, membro da equipe que elaborou o Plano Real e ex-presidente do IBGE e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), contam a história do real ao longo dos seus aniversários.

 

 

A obra dedicada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) rebate o argumento de que a moeda teria sido criada apenas para controlar a hiperinflação, que com o cruzeiro real ultrapassava 3000% ao ano. Segundo os economistas, o Plano Real mostrou seu objetivo final ao conferir estabilidade à política econômica e fiscal, sobrevivendo às crises de 2008 e 2015. O grupo ainda reflete sobre os desafios políticos e sociais que causaram o ceticismo dos opositores do real. “A democracia é o nosso grande trunfo, como demonstra o sucesso do Plano Real – exemplo maior da união da boa técnica com a Política com P maiúsculo”, escreve Bacha.

 

Capa do livro "Conversas com economistas brasileiros"

Capa do livro "Conversas com economistas brasileiros"

Reprodução

“Conversas com economistas brasileiros”
• De Ciro Biderman, Luis Felipe L. Cozac, José Marcio Rego
• Editora 34
• 528 páginas
• R$ 119,00

 

Referência da literatura econômica, o livro “Conversas com economistas brasileiros” é relançado pela editora 34 em formato ampliado como edição comemorativa dos 30 anos do Plano Real (1994-2024). Desta vez, a obra de Biderman, Cozac e Rego conta com introdução de André Lara Resende e Pérsio Arida, além de prefácio e posfácio do ex-ministro Pedro Malan.

 

 

Concebido em 1994 e realizado entre 1995 e 1996, os autores entrevistaram os maiores nomes da teoria econômica brasileira no momento chave da virada da política macroeconômica e da busca por estabilização da inflação. Inspirado no livro homônimo de Arjo Klamer, que entrevista economistas norte americanos, a obra vai além ao mostrar a clara ligação entre economia e política, que por muitos anos ficou afastada das principais teorias. Neste caso, todos os nomes que constam na obra passaram pela vida pública, uma vez que “economia é a arte de persuasão”, como descreve Lara Resende.

 

Capa do livro "Histórias da Matemática: da contagem nos dedos à inteligência artificial"

Capa do livro "Histórias da Matemática: da contagem nos dedos à inteligência artificial"

Reprodução

 

“Histórias da Matemática: da contagem nos dedos à inteligência artificial”
• Marcelo Viana
• Editora Tinta da China Brasil
• 256 páginas
• R$ 84,90

 

Há muito tempo se acreditava que as teorias matemáticas não existiam de verdade. Céticos argumentavam que os números eram uma criação mental da humanidade, que desapareceriam com a nossa extinção. Outros teóricos acreditam que a disciplina é uma criação divina, que somente é descoberta pelos seres humanos conforme sua exploração e necessidade para subsistência. Em “Histórias da matemática” (Tinta da China Brasil), o matemático e cronista Marcelo Viana apresenta um texto leve, claro e bem-humorado para fazer uma linha do tempo dos números.

 

O autor convida o leitor a conhecer a matemática que rege a vida animal, desde como os peixes sabem identificar o maior cardume para se proteger até a capacidade de contar do chimpanzé. Ele também nos leva para a criação do calendário, e a conhecer o papa matemático, Silvestre II. Viana vai da Idade Média até a modernidade para mostrar que a matemática não é só um conjunto de equações, mas é a nossa própria história.