“Vidas secas”, a triste sina do vaqueiro Fabiano, de Sinha Vitória, do menino mais velho, do menino mais novo e da cadela Baleia, que simbolizam milhares de retirantes da miséria da seca no Nordeste, é um dos grandes clássicos da literatura brasileira, publicado em 1938 pelo escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953). Adaptado para cinema e teatro, “Vida secas” agora ganha bela versão em cordel pelo escritor recifense Josué Limeira, que leva ao leitor a grandeza da oralidade da cultura brasileira, com impactantes ilustrações do designer visual Vladimir Barros, seu conterrâneo, inspiradas no movimento armorial, fundado por outro gigante da literatura brasileira, o paraibano Ariano Suassuna (1927-2014), criador de “Auto da compadecida”.
DEDICATÓRIA
“Dedico de alma plena
Os versos que aqui estão.
A história, obra, memória
De quem amou o sertão.
Ao mestre Graciliano,
Divino alagoano.
Foi feito de coração.
Dedico com muito amor
Os versos que dão saudade
Da minha avó, meu avô
Que estão na eternidade.
Dois sertanejos arretados
Viveram essa verdade.
José Limeira e Chiquinha
Que cultivavam algodão
Nas terras da Paraíba
Num sítio lá no sertão.
Traziam sorrisos largos,
Dedico a cada leitor
Que possa, enfim, entender
Que aqui tem mais que um livro,
Um reino para viver.
Que as vidas podem ser secas
Até que venha a chover.”
(Josué Limeira)
BALEIA
“Baleia estava doente,
Andava muito a sofrer.
O pelo estava caindo,
Só fazia emagrecer.
As costelas apareciam,
Manchas escuras surgiam,
Ela estava para morrer.
As moscas a perturbavam,
era grande o sofrimento.
A boca estava inchada,
Mal passava o alimento.
Pouca água bebia,
Vivia grande agonia
Em busca de alento
Fabiano até pensou
No mal da hidrofobia,
Amarrou-lhe no pescoço
A crendice que sabia:
Um rosário de sabugos,
Milhos queimados, refugos,
Para ver se curaria
(…)
Fabiano decidiu,
Foi buscar a espingarda.
Limpou sua pederneira,
Pois estava empoeirada.
Pra Baleia não sofrer,
Tinha agora o dever
De levá-la carregada.
(...)
Ela queria dormir
Para feliz acordar.
Num mundo com Fabiano,
Com ele a lhe chamar.
Lamberia sua mão,
O rebanho escoltar.
Acordaria num mundo
Com preás gordos ao lado.
Com as crianças brincando
E com o sertão florado
Rolariam no chiqueiro...
Era o sonho derradeiro,
Num dia mal-acabado.
“vidas secas em cordel”
• Josué Limeira (versos)
• Vladimir Barros (ilustrações)
• Editora Yelllowfante
• 160 páginas
• R$ 51,92 (impresso)
• R$ 45,90 (digital)