Raphael Montes faz duas sessões de autógrafos em Belo Horizonte de seu mais recente romance, “Uma família feliz”. Neste sábado, às 17h, o encontro com os leitores será na livraria Leitura do Pátio Savassi. Na próxima segunda-feira (29/7), às 19h30, o autor carioca participa do “Sempre um papo” na Biblioteca Pública Estadual, na Praça da Liberdade, e autografa seus livros na sequência. Lançado pela Companhia das Letras, “Uma família feliz” tem origem no roteiro que Montes escreveu e foi filmado por José Eduardo Belmonte. O longa- metragem protagonizado por Grazi Massafera foi exibido nos cinemas no primeiro semestre e está disponível para aluguel no Now. A seguir, a entrevista do escritor e roteirista ao Pensar.


Você escreveu o roteiro de “Uma família feliz” antes do romance. Quase sempre o processo acontece ao contrário. O que foi mais desafiador nessa inversão?


“Uma família feliz” é uma história que nasceu há cerca de 10 anos. Eu queria falar sobre essa vida de aparências sobre as pressões que as mulheres sofrem para exercer e ter uma visão positiva da maternidade, queria falar também desses condomínios perfeitos em que algumas famílias se isolam, cercada por muros e seguranças e câmeras. Vivem ali dentro naquele microcosmo uma vida aparentemente perfeita em que todos ‘te amam’, se cuidam, mas também se vigiam. Quando essa história nasceu, não sabia ainda se era um livro ou um filme.

 

Decidi escrever primeiro o roteiro, que ganhou várias versões ao longo dos anos. Quando fomos filmar o longa, participei como diretor assistente do José Eduardo Belmonte, que é o diretor. Ali, conversando muito com Belmonte, Grazi Massafera, que faz a protagonista, e com o [Reynaldo] Gianecchini, que faz o marido dessa família margarina, comecei a perceber como a força da história estava muito na cabeça da personagem. Boa parte da força está naquilo que se passa na cabeça dela e o audiovisual não permite explorar tanto. Filmando o longa, decidi expandir o universo e escrever o romance. E tenho de ser honesto e dizer que escrever o romance a partir do filme foi muito interessante e saboroso. Em geral, no processo inverso, fazer do livro um filme, precisamos fazer escolhas.

 



 

Porque o livro traz um universo muito mais amplo de personagens, acontecimentos, pensamentos, reflexões. E você tem de selecionar quais desses pontos merece entrar em um filme. Já fazer um livro a partir de um filme foi um processo de expansão. Criei personagens, novos acontecimentos, novas subtramas, novos desdobramentos. E pude acessar a cabeça da personagem [Eva]. Em geral, recomendo que as pessoas leiam primeiro o livro e depois vejam o filme.

 

Mas eu queria muito que as experiências de ler o livro e ver o filme fossem complementares. Ao escrever o livro, eu não consultei o roteiro. Escrevi com o que me lembrava da história. Claro que há acontecimentos em comum, como o fato de as duas histórias começarem pelo final, que faz parte do conceito. Mas o livro tem alguns aprofundamentos que não há no filme, que, por sua vez, tem, além da brilhante atuação dos atores, o clima criado pela direção. E os finais do livro e do filme são sutilmente diferentes.


Como aproximar os livros dos leitores no Brasil?


Eu tenho percebido que o leitor brasileiro cada vez mais encontra o prazer de ler romances brasileiros contemporâneos. Romances que falam dos nossos personagens, das nossas questões sociais, políticas e econômicas. Isso, a meu ver, se reflete não só nas vendas, mas na lista de mais vendidos que a gente vê hoje e é ocupada com frequência por autores brasileiros, mas também nas feiras literárias. Essa é a resposta. É uma maneira de aproximar. Com eventos como feiras, festivais, debates em livrarias. Antigamente, as Bienais atraíam multidões por causa dos autores estrangeiros. Hoje, autores brasileiros atraem esses leitores.


O que o leitor/espectador pode esperar ao ler/ver no livro/na tela a frase “Escrito por Raphael Montes”?


Depois de oito romances, posso dizer que há algumas características nas minhas histórias. Muito suspense, personagens complexos e dúbios, questões que levam o espectador, ou leitor, a refletir sobre imoralidade, ética, os limites do ser humano. Sempre é uma história com muitas viradas, um final surpreendente em que esses personagens complexos e dúbios vão se relacionando. Além disso, com discussões pertinentes de questões que me incomodam e acredito que incomodam os leitores também.

 

Capa do livro "DISSOLUÇÕES"

Reprodução

 

“DISSOLUÇÕES”
. Felipe Franco Munhoz
. Editora Record
. 160 páginas
. R$ 59,90

 

 

Transitando pela poesia e por texto dramatúrgico, Felipe Franco Munhoz faz, em “Dissoluções”, o leitor virar espectador de uma peça na qual protagonistas – nomodelo tradicional em que conhecemos – inexistem. São os sentimentos e desejos humanos que se encarnam ora como Suposto Mefistófeles, ora como Alma, para tratar de venturas e crises de uma vida conjugal, que desembocará no sugestivo título “Dissoluções”. Tais poemas dialogam com clássicos da literatura, mitos e música, tendo como referências que vão de Bach até a russa Sofia Gubaidulina. Conforme apontou José Luís Peixoto, ao mesmo tempo que mostra que a humanidade se dissolve, Franco Munhoz “levanta uma bandeira humana de esperança”.

 

Capa do livro "JUNTAS E MEDULAs"

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“JUNTAS E MEDULAS”
. Walter Kempowski
. DBA Editora
. 224 páginas
. R$ 74,90

 

Um jornalista polonês de meia-idade radicado na Alemanha que sobreviveu à Segunda Guerra Mundial é convidado por uma fábrica de automóveis a ir até a República Popular da Polônia para escrever sobre uma rota para rali construída no país. Deixando em Hamburgo sua namorada, ele parte em uma viagem intimista na qual memórias da diáspora polonesa em função do avanço dos russos e sentimentos controversos de culpa e afeição a respeito do comunismo no país tomam a mente do protagonista, fazendo da road novel uma espécie de crônica da vida cotidiana alemã durante e depois do regime nazista.

 

Capa do livro "CATÁSTROFE ANCESTRAL - EXISTÊNCIAS NO LIBERALISMO TARDIO"

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“CATÁSTROFE ANCESTRAL - EXISTÊNCIAS NO LIBERALISMO TARDIO”
. Elizabeth A. Povinelli
. Ubu Editora
. 304 páginas
. R$ 89,90

 

Se a existência na Terra está em risco hoje, é porque há cerca de cinco séculos os europeus deram início a um projeto colonizador que explorou riquezas naturais de diversos territórios. É isso que Elizabeth A. Povinelli aponta em seu livro-denúncia calcado no trabalho de nomes como Glissant, Deleuze e Guattari, Césaire e Arendt. A catástrofe em curso, defende Povinelli, tem origem na catástrofe ancestral, quando a riqueza e o bem-estar de alguns se fez em detrimento da miséria e poluição de outros. A autora também denuncia o que chama de “perversidade do liberalismo tardio”, que reconhece superficialmente as bases racistas e paternalistas das práticas coloniais, sem transformar o modus operandi do sistema.

 

Capa do livro "CAIXA-PRETA – ESCREVENDO A RAÇA"

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“CAIXA-PRETA –ESCREVENDO A RAÇA”
. Henry Louis Gates Jr.
. Companhia das Letras
. 248 páginas
. R$ 84,90

 

Na literatura afro-americana, o termo “caixa-preta” é metáfora para o aprisionamento do racismo, que tenta inviabilizar o alcance da liberdade do negro. Recorrendo à figura de linguagem, portanto, Henry Louis Gates Jr. joga luz na manifestação escrita de negros norte-americanos para desmentir ideias racistas que moldaram o senso comum no país. Por meio de personagens históricos como Phillis Wheatley, Frederick Douglass, W.E.B. Du Bois, Booker T. Washington, Zora Neale Hurston, Richard Wright, James Baldwin e Toni Morrison, primeira mulher negra a ganhar um prêmio Nobel de Literatura, Gates Jr. mostra como os negros nunca deixaram ninguém lhes dizer como exercer sua negritude.

 

Capa do livro "O OCIDENTE – UMA NOVA HISTÓRIA EM CATORZE VIDAS"

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“O OCIDENTE – UMA NOVA HISTÓRIA EM CATORZE VIDAS”
. Naoíse Mac Sweeney
. Editora Zahar
. 408 páginas
. R$ 119,90

 

A supremacia branca e o imperialismo, que cunharam o conceito de “ocidente”,são questionados neste livro por Mac Sweeney. Para ela, é necessário descentralizar o papel dos países europeus, mostrando histórias de, por exemplo, a rainha Njinga de Angola, a poeta escravizada Phillis Wheatley e o
intelectual palestino Edward Said. Todos inseridos no dito ocidente, mas ofuscados pelo eurocentrismo. No intuito de resgatar essas histórias apagadas – parcialmente ou em sua totalidade –, a autora apresenta 14 perfis que oferecem um retrato multifacetado de um espaço geográfico no qual o legado da antiguidade greco-romana passou por disputas, apropriações e intercâmbios por povos
não europeus.

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