“Andorinha abre asas: abrigo.” Assim abre “ABCXYZ”, abecedário visual para crianças. Mas não apenas para elas. A tabelinha das palavras do escritor Sérgio Rodrigues – em seu primeiro livro infantil – com as ilustrações do artista gráfico Daniel Kondo pode interessar, entreter e enlevar todos que gostam de letras, palavras, traços, troças. “O maior desafio foi achar uma maneira de fazer as ilustrações combinarem bem com o texto, criando uma obra onde texto e imagem se complementassem perfeitamente”, define o ilustrador.

 

“Nossa ideia inicial era fazer um livro em que texto e imagem fossem tão ligados a ponto de serem inseparáveis”, conta Rodrigues, autor de livros de contos e de romances como o recente “A vida futura” e o premiado “O drible”. “Conversamos sobre alguns caminhos e acabamos chegando ao mínimo denominador comum do alfabeto, da caixa de ferramentas da língua, mas de um jeito em que a letra determinasse tanto as palavras que poderiam ser usadas no texto, à moda do Oulipo, quanto todo o grafismo da ilustração. O lúdico, a ideia de jogo, acabou desse modo sendo central”, complementa o mineiro de Muriaé, radicado no Rio de Janeiro.

 



 

Gaúcho de Passo Fundo, Daniel Kondo é um dos mais premiados autores de livros infantis do país. O artista gráfico conta que, em diversos momentos, se inspirou na poesia visual e na poesia concreta. “Muitas das soluções envolviam transformar letras em imagens, palavras em objetos e elementos gráficos. Isso trouxe resultados bem interessantes, como a letra D representando o dente que falta no Dudu, ou a letra B imitando o som que ela faz. Tem também a letra Z, que virou uma zebra inspirada no movimento futurista, em homenagem a Giacomo Balla”, revela.

 

Para Sérgio Rodrigues, fazer o livro foi divertido do início ao fim. “Tenho minhas letras preferidas, mas já mudei de ideia várias vezes. A letra D talvez seja uma que se mantém sempre na lista. As mais trabalhosas foram sem dúvida nenhuma as letras que o alfabeto do português incorporou há relativamente pouco tempo: o K, o W e Y”, afirma. Daniel Kondo complementa,lembrando que, para cada letra, produziu três opções que acabou descartando. “As que pareceram mais simples foram as mais complicadas de resolver, como a letra A, que ao mesmo tempo é a asa de uma andorinha e, invertida, o bico dela”, conta.

 

 

A literatura infantil esconde uma armadilha, na visão de Sérgio Rodrigues. “Justamente porque parece fácil, e a facilidade é uma grande inimiga da escrita de qualidade. Muito do que se escreve para crianças me parece apenas bobo, pouco rigoroso”, avalia. Por isso, decidiu trabalhar com limites e brincar com as restrições que ele mesmo se impôs. “Além disso, sempre escrevi tomando o meu próprio gosto de leitor como guia, quer dizer, escrevo o que eu gostaria de ler. Como não sou criança há algum tempo, fica mais difícil usar esse truque”, brinca.

 

ABCXYZ

Divulgação

 

 

Fonte própria na capa do livro


A fonte que aparece na capa do livro foi criada por Daniel Kondo especialmente para “ABCXYZ”. “A ideia surgiu da vontade de criar um alfabeto original, com uma marca autoral forte. Existem muitas fontes disponíveis na internet, mas como neste livro as letras são tratadas como imagens, pensei em desenhá-las e criar uma identidade visual única para o livro”, revela o artista gráfico. A fonte foi chamada de Reco-Reco para homenagear o novo selo da editora Record.

 

“ABCXYZ”

Daniel Kondo e Sérgio Rodrigues

Reco-Reco

Grupo editorial Record

64 páginas

R$ 59,90

 

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