Um exercício de imaginação e criatividade com múltiplos recortes de papel coloridos para a protagonista e também para a criança leitora é um dos caminhos apontados para a diversão educativa em “A menina Cláudia e o rinoceronte”. A obra infantil foi lançada pelo poeta maranhense “imortal” Ferreira Gullar (1930-2016), pseudônimo de José Ribamar Ferreira, em 2013 (editora José Olympio, do grupo editorial Record).

 

Agora, acaba de ser lançada em segunda edição (editora Reco-Reco, selo infantil da Record) com novo design para as ilustrações também criadas pelo autor. A garota se diverte tentando inventar um bicho com os recortes. “A menina Cláudia, de tanto brincar com restos de papéis coloridos que recortava inventou um rinoceronte. Mas não foi logo nem lógico. Foi por acaso e assim de repente uma cabeça e um corpo de rinoceronte se insinuam de entre os retalhos de cores”.


Mexe aqui, mexe lá, surge o rinoceronte inteiro, que vai mudando de cor e avisa à menina que não é um rinoceronte, é uma rinoceronte e quer ter um filhote. Cláudia volta a misturar os recortes, mas são outros animais selvagens que surgem, até uns bem estranhos e sem nome. E agora, como achar um filhote?. A atividade lúdica de Cláudia também pode levar a criança leitora ao caminho da conscientização para preservação, porque são animais selvagens que vão surgindo dos recortes, que, em maior ou menor risco, estão ameaçados de extinção pela ação predatória do ser humano no planeta.

 




Curiosamente, o trabalho com recortes de colagens em relevo veio por acaso, como contou Ferreira Gullar. “Estas colagens em relevo (…) nasceram por acaso. Na verdade, há muito tempo venho fazendo colagens. Inicialmente, desenhava garrafas, bules e cálices, recortava papéis coloridos e colava em cima. Um dia, porem, já havia posto os recortes sobre o desenho para em seguida colá-los, quando meu gato deu um tapa na folha de papel e desarrumou os recortes. Colei-os tal como estavam: disso resultou que o desenho era a ordem e os recortes coloridos, a desordem”, revelou o poeta, que fez exposições com esse tipo de arte.

 


Mesmo com todas essas criações diversificadas e muitas outras obras infantis, inclusive poemas (“Bichos do lixo”, “ Zoologia bizarra”, “Dr. Urubu e outras fábulas”, “Um gato chamado gatinho”, “O menino e o arco-íris”, “A estrela e o gatinho”...), e sendo ensaísta, crítico de arte e teatrólogo, Ferreira Gullar é mais conhecido como um dos maiores poetas brasileiros. A maior referência é “Poema sujo”, de 1976, criado quando estava exilado na Argentina, longe da ditadura militar no Brasil, um grande e contundente contraponto – inclusive com palavras chulas – ao mundo infantil, o que evidencia a sua grande versatilidade criativa.

 

 

'A menina Cláudia e o Rinoceronte'

 

Ferreira Gullar

Editora Reco-Reco

Grupo editorial Record

48 páginas

R$ 49,90

 

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