“Eu sou a Perla. Quando era filhote, queria ser chamada Gigi. Mas ouvi dizer que as pérolas são as joias do oceano preferidas dos piratas, então passei a amar meu nome. Tenho dois superpoderes. Número um: Faço qualquer pessoa me amar. Número dois: Sei rugir como um leão.”

 

Logo na primeira página, a cachorrinha Perla – Pérola em português – já se apresenta ao pequeno leitor, antes de contar suas peripécias na família do menino Rico, depois de ser adotada. “Quando era pequenina, fui levada para um abrigo. Um dia, a família Rico me escolheu dentre os muitos cães que havia por lá. Foi o menininho, Nico Rico, quem me viu primeiro. Usei o superpoder número um: abanei o rabo, dei uns ganidos e lambi a mão dele pela grade. Ele caiu de amores por mim.”

 

Contrariando inicialmente os pais, que queriam um cão de guarda, o garoto levau Perla para casa e ela passa a conviver, além dele e de mamãe e papai, com a adolescente Liz e a gatinha Lucy. Mas entre uma estrepolia e outra, Perla percebe que Nico tem um problemão: sofre bullying na escola de outro menino, que está sempre o empurrando e xingando. Ela então precisa agir para ajudar o irmão humano. Mas como fará?

 




Este é o fio da meada de “Perla, a cachorrinha poderosa” (“Perla, the mighty dog”), a estreia na literatura infantil da consagrada escritora chilena Isabel Allende, pela editora Reco-Reco (selo infantil da editora Record), em parceria com a ilustradora mexicana Sandy Rodríguez.

 

A escritora consegue inserir diversão nas peripécias da cachorrinha para chegar ao sério tema central da história, que é bullying, um problema de difícil solução que inferniza a vida de crianças e adolescentes, famílias e escolas. Nessa historinha, entretanto, há uma solução inusitada. E esse primeiro livro infantil parece que não será o único de Isabel Allende, se for observado o que a cachorrinha diz no fim: “Tenho outras histórias para contar, mas está ficando tarde...”

 


Perla é também o nome de uma cachorras que a escritora tem em sua casa na Califórnia. Isabel Allende, que fez 82 anos nesta sexta-feira (2/8), nascida no Peru e naturalizada chilena, é uma das escritoras mais lidas do mundo, já publicou 26 livros, traduzidos para 42 idiomas, que já venderam 77 milhões de exemplares.

 

Além de escritora, é ativista feminista e filantropa, tem vários prêmios internacionais e faz tempo que merece o Nobel de Literatura, já concedido aos seus conterrâneos Pablo Neruda e Gabriela Mistral. O grande atrativo dos romances de Isabel Allende é entrelaçar a vida de protagonistas com contextos históricos.

 


É o caso, por exemplo, de uma de suas melhores obras, “Longa pétala de mar” (2019). O título remete a Neruda, que se refere ao Chile em um poema como “longa pétala, de mar e vinho e neve”. O poeta chileno, inclusive, é um dos personagens do livro, cuja trama conta a história de um homem e uma mulher que vai da Guerra Civil Espanhola, no fim da década de 1930, ao golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende, no Chile, na década de 1970.

 

Em 1939, cerca de 2 mil espanhóis fugiram de navio para Valparaíso, no Chile, com o ajuda do governo do país latino-americano e de Neruda, que era diplomata e viabilizou a complexa fuga das tropas fascistas do general Francisco Franco, já no início da Segunda Guerra Mundial. Essa história espetacular faz parte de “Longe pétala de mar”!


Recentemente, depois de “Longa pétala de mar”, a escritora chilena lançou “As mulheres de minha alma” (2020), “Violeta” (2021) e “O vento sabe seu nome” (2023), novamente como mulheres marcantes como protagonistas. Mas o principal livro da escritora ainda é o seu primeiro, a obra-prima clássica “A casa dos espíritos”, de 1982, que mistura realismo mágico e trama política para contar a saga de três gerações da família Trueba numa narrativa também conduzida, com maestria de Isabel Allende, por espíritos entre laços humanos de amor e ódio, lealdade e traição. O livro foi levado ao cinema em 1983, com interpretações marcantes de Meryl Streep e Jeremy Irons.

 

'Perla - a cachorrinha poderosa'

 

Isabel Allende

Sandy Rodriguez (Ilustrações)

Tradução: Adriana Falcão

Editora Reco-Reco (Grupo editorial Record)

32 páginas

R$ 74,90

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