Faustino Rodrigues

Especial para o EM

 

“Meia Ponte”, novo livro de Luiz Clavis, será lançado neste sábado, na Livraria Scriptum, na Savassi, a partir de 11h. A obra de 416 páginas, mescla de romance histórico e contos, passeia pelo século 20 remontando a alguns de seus principais acontecimentos, ecoados na cidade que dá nome ao título, situada entre o Alto do Paranaíba e o Triângulo Mineiro.

 

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Em “Meia Ponte”, o destaque fica por conta de Zeca, o “macunaímico protagonista”, conforme descrito pelo narrador. Sua estrutura remete a personagens, claro, de Mário de Andrade e até de Dias Gomes. Através dele, dimensionamos os impactos dos fatos históricos enunciados por Clavis, podendo ser lidos em uma sequência ou como capítulos independentes, mantendo uma surpreendente coesão na leitura.

 




Oralidades e regionalismos marcam a narrativa. Meia Ponte é como um microcosmos de Minas Gerais. Zeca, anti-herói, é repleto de contradições, visíveis, por exemplo, na ausência de unanimidade quanto à figura de JK – grosso modo, algo pouco discutido no imaginário mineiro. O artifício nos distancia do essencialismo panfletário, deixando-nos mais próximos de algo real.


Em sua prosa, Clavis consegue dimensionar o impacto de acontecimentos históricos, como os questionamentos quanto à suposta necessidade de ocupação do interior do Brasil, simbolizado por Brasília. A sutileza das perguntas vem na forma das detalhadas descrições de ações e reações de seus personagens: como, em novo exemplo, no entusiasmo de Zeca diante d’O Pasquim em tempos e AI-5.

 


Se Minas Gerais é associada ao imaginário rural brasileiro, Clavis consegue promover questionamentos divertidos e até mesmo comoventes ao trazer para um primeiro plano o crescimento de Meia Ponte ante às transformações urbanas. O autor transcende o senso comum, sem, contudo, desprezá-lo: pelo contrário, valoriza-o, reposicionando-o.


Clavis não é um estreante na literatura. Publicou “Um país no espelho” e “Os fantasmas dos Inconfidentes”, lançados pela Alma de Gato, selo da Scriptum. Como notamos ao ler os títulos, todos remetem ao nosso país. Aliás, é difícil olhar para a história nacional sem olhar para a história de Minas Gerais. E com “Meia Ponte”, fica evidente como também é difícil olhar para a história de Minas Gerais, para o mineiro em si, sem olhar para o Brasil.

 

 

Capa do livro "Meia Ponte"

reprodução

 

“Meia Ponte”
• De Luiz Clavis
• 416 páginas
• Editora Scriptum
• Lançamento neste sábado na Livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, BH)

 

 

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