Com presenças confirmadas de grandes nomes da literatura brasileira como Conceição Evaristo e Itamar Vieira Junior, o Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira) terá como destaque também o lançamento de uma biografia do poeta gaúcho Mário Quintana: “O passarinho do contra” (Editora Tordesilhas/Alta Books, 230 páginas), de Gustavo Grandinetti.
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“Lançar a biografia de Quintana na terra de Drummond é uma conspiração do destino. Eu jamais imaginei que lançaria a biografia do poeta gaúcho na terra natal do poeta mineiro!”, conta o autor. “Está certo que o destino recebeu uma boa ajuda de uns anjos (os curadores Afonso Borges, Tom Farias, Sérgio Abranches e Bianca Santana), além de outros anjos que pairam na obra do poeta gaúcho. Quem sabe o desengonçado Anjo Malaquias também ajudou? Fica comprovado o acerto do poema de Quintana: os anjos dão tudo de si sem jamais se despirem de nada”, complementa.
Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, a quarta edição do Flitabira convidou Grandinetti para uma roda de conversa com Pierre Ruprecht e Rogério Duarte, no dia 31 de outubro (quinta-feira), às 17h, seguida de autógrafos.
“Sempre gostei muito dos seus poemas e passei a querer entender sua personalidade e saber mais sobre a vida de Quintana. Me deparei com certas obscuridades, fatos desconhecidos do público, que tentei desvendar: a infância doente; a vida na caserna e a atuação na revolução de 30; a solteirice, os amores platônicos e verdadeiros; as críticas ácidas dos críticos literários; os meandros das três derrotas na Academia Brasileira de Letras; e o seu reconhecimento”, detalha o biógrafo.
Nascido no Rio de Janeiro, Grandinetti foi desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e é professor da UERJ, com diversos livros e artigos jurídicos publicados no Brasil e em Portugal. Publicou, pela Editora Chiado, o livro de crônicas “Por trás da venda” (2018); e o romance “Romances no Trem da História” (2021), pela Editora Lacre. Ele falou, ao Pensar, sobre a admiração que Drummond sentia por Quintana.
Quais conexões consegue estabelecer entre a vida e a obra de Quintana e Drummond?
Eles foram amigos e se admiravam reciprocamente. Enquanto os críticos literários desprezavam Quintana, achando-o um poeta menor, Drummond, Cecília Meireles e Manuel Bandeira o reconheciam um dos maiores poetas brasileiros. Drummond escreveu um texto (Quintana’s Bar, de 1951), transitando com sutileza por alguns temas caros da obra de Quintana.
Foi uma forma de homenageá-lo. E, assim, os críticos passaram e o poeta gaúcho continuou até hoje “passarinho”. Ambos levaram às alturas a liberdade do fazer poema, tratando, com complexidade, os meandros da alma humana e da vida. Quintana, porém, tinha uma veia humorística mais pronunciada: foi o modo que encontrou para transfigurar o inusitado do mundo.
A leitura de Belúzio
para Leminski
“Um dos principais encantos do livro é desvendar para o leitor os andaimes da arquitetura do poema”, afirma a professora universitária Viviana Bosi na apresentação de “Quatro clics em Paulo Leminski” (Editora UFPR), de Rafael Fava Belúzio. O lançamento em BH ocorre na próxima terça-feira, às 19h30, pelo projeto Sempre um Papo, no Teatro José Aparecido de Oliveira (Praça da Liberdade), com mediação de Jozane Faleiro. “Ao mergulhar na leitura, graças ao estilo de escrita de Rafael, vamos nos impregnando do tom e do jeito de ser do próprio Leminski”, afirma Viviana Bosi.
De Clarice para Fernando
Berna, 27/07/1946
“Não trabalho mais, Fernando. Passo os dias procurando enganar minha angústia e procurando não fazer horror a mim mesma. Tem dias que me deito às 3 da tarde e acordo às 6 para em seguida ir para o divã e fechar os olhos até asa 7 que é hora de jantar. Isso tudo não é bonito. Sei que é horrível. Caí inteiramente e não vejo um começo sequer de alguma coisa nascendo.”
De Fernando para Clarice
Old Greenwich, 03/08/1946
“Clarice, antes de tudo, como vai você? Ou antes ainda, como fica você? Porque você por dentro não vai bem não, Clarice Lispector, você por três vezes já se esqueceu de sorrir quando era preciso, e se alguma coisa acontecer bem engraçada, bem engraçadinha, por exemplo, a menininha de amarelo sair correndo atrás do passarinho e não pegar, você vendo é capaz de chorar. Isto não está direito, Clarice.”
Trechos da correspondência trocada entre Clarice Lispector e Fernando Sabino entre 1946 e 1969 e reunida no livro “Cartas perto do coração”, que acaba de ser reeditado pela Record. Com novo projeto gráfico, da designer Luciana Facchini, a edição em capa dura inclui prefácio inédito da professora da USP Nádia Battella Gotlib e fac-símiles de manuscritos dos dois escritores.