“A vegetariana”
Han Kang
Tradução de Jae Hyung Woo
Descrito pelo inglês Ian McEwan como “um pequeno romance sobre sexualidade e loucura que merece seu grande sucesso”, “A vegetariana” é o livro mais conhecido de Han Kang, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura. Vencedor do Man Booker Prize em 2016, “A vegetariana” foi publicado em 2018 no Brasil pela editora Todavia, que também lançou “Atos humanos” e “O livro branco”.
Na divulgação do Nobel, na última quinta-feira, a Academia Sueca justificou a escolha pelo fato de a autora sul-coreana possuir “percepção única das conexões entre corpo e alma, entre os vivos e os mortos, e por seu estilo poético e experimental, que se tornou inovador na prosa contemporânea”. Nascida em 1970 em Gwangju, Han Kang mora em Seul desde os dez anos. Seu livro mais recente, “We do not part”, será lançado pela Todavia no Brasil em 2025.
Trechos
Já não consigo dormir mais que cinco minutos. Assim que caio no sono começo a sonhar. Não, nem sequer posso chamar de sonho. Não passam de cenas curtas que me assaltam de forma intermitente. Olhos ferozes de alguém animal. Imagens sangrentas.
Um crânio aberto de alguém e, de novo, os olhos ferozes de algum animal. Olhos que parecem ter nascido de minhas entranhas. Quando desperto, tremendo, verifico minhas mãos, para ver se as unhas estão normais. Se meus dentes estão inteiros.
Só confio nos meus peitos. Gosto dos meus peitos, porque com eles não posso matar nada nem ninguém. Afinal, mãos, pés, dentes e língua, qualquer coisa com apenas três centímetros, tudo pode servir de arma, é capaz de matar e machucar. Até mesmo o olhar. Os peitos, não. Enquanto eu tiver esses seios redondos, estarei bem. Ainda estou bem. Mas porque será que meus peitos estão diminuindo? Já nem são mais arredondados. Por quê? Por que estou emagrecendo? Estou ficando tão afiada; será para cortar o quê?
***
Ela pensa na irmã de ponta-cabeça, ereta. Será que Yeonghye achou que estava em algum lugar da floresta, em vez do chão de concreto? Brotaram de fato caules pretos e fortes de seu corpo e raízes brancas de suas mãos, agarradas ao solo escuro? Será que suas pernas se esticariam rumo ao céu e os braços, ao núcleo da Terra? Teria aguentado ter a cintura puxada pelos dois polos extremos? Quando a luz descesse do céu e a atravessasse e a água emanada da terra a molhasse, nasceria mesmo uma flor de seu púbis? Flores nasceriam da sua pele? Será que aconteciam todas essas coisas com sua alma quando ela punha o corpo de cabeça para baixo?
Serviço
“A vegetariana”
De Han Kang.
Tradução de Jae Hyung Woo
Todavia
176 páginas
Descrito pelo inglês Ian McEwan como “um pequeno romance sobre sexualidade e loucura que merece seu grande sucesso”, “A vegetariana” é o livro mais conhecido de Han Kang, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura. Vencedor do Man Booker Prize em 2016, “A vegetariana” foi publicado em 2018 no Brasil pela editora Todavia, que também lançou “Atos humanos” e “O livro branco”.
Na divulgação do Nobel, na última quinta-feira, a Academia Sueca justificou a escolha pelo fato de a autora sul-coreana possuir “percepção única das conexões entre corpo e alma, entre os vivos e os mortos, e por seu estilo poético e experimental, que se tornou inovador na prosa contemporânea”. Nascida em 1970 em Gwangju, Han Kang mora em Seul desde os dez anos. Seu livro mais recente, “We do not part”, será lançado pela Todavia no Brasil em 2025.