Jacques Fux

Especial para o EM

 

“Dois judeus russos estavam desesperados de fome. Já não podendo mais continuar, viram um anúncio numa igreja ortodoxa com os dizeres: ‘30 rublos pela conversão.’ Jacob e Abrão se entreolharam e, sem outras alternativas, Jacob decidiu entrar na igreja. Ao sair, Abrão foi logo perguntando: ‘E os 30 rublos?’. Jacob, com um olhar de desdém, contestou: ‘Vocês judeus só pensam em dinheiro’”.

 

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Nesse pequeno chiste, em que o gostar do verdadeiro no falso se apresenta como uma amizade com ilusão de desilusão, há ainda tantas outras ilusões, desmisturas e desilusões: a ilusão do “convertido”, de sua possível assimilação a uma outra cultura diferente e estranha; a desilusão do amigo, que aguardava ansioso pelo dinheiro fictício que lhe traria a suspensão momentânea da fome física, mas jamais a suspensão da fome latente na alma; a ilusão da inclusão, do fim das inúmeras diásporas, da resignação ante aos desígnios inapreensíveis de um deus... gozador. E, claro, o fim dessa eterna ilusão diante do fantasma do “estrangeiro”.

 




Freud já havia enunciado, lá em Moisés, que o ódio ao outro repousa justamente na ilusão paradigmática da figura do judeu – essa representação ancestral do unheimlich das massas. O judeu, a judeidade, o povo judeu personificando a experiência de estrangeireidade, introjetando uma relação conflituosa, dolorosa e paradoxal de ser estrangeiro tanto para si quanto para o outro. Freud também já havia refletido sobre as desilusões e morte ao pensar na Primeira Guerra e na decepção do homem em relação à sua capacidade de resolver conflitos de modo pacífico.


O tempo passou, o mundo foi novamente se iludindo, criou-se um Estado Judeu com a fantasia de inclusão e aceitação do outro e também de si. Mas guerras foram ressurgindo junto com o aumento dos refugiados, das migrações e do ódio estrangeiro.

 


Então, no nascer do dia 7 de outubro de 2023, Freud foi revisitado. Assim, com a barbárie instaurada, com a vingança perpetuando um futuro sem esperança, com a figura do unheimlich das massas escancarando todo o ódio e toda estrangeireidade do outro em si, o presente se tornou desilusão.


Fica, pois, o convite deste livro: voltar a Freud e refletir nossas inquietações, ilusões e desilusões de pertencimento, (des)encontro e desesperanças.

 

JACQUES FUX é escritor, autor de livros como “Nobel”, “Meshugá” e “Antiterapias”

 

Sobre o livro

 

Terceira parte de trilogia, “Da desilusão” é um lançamento da Conceito Editorial e sucede “Da solidão” e “Da diferença”. Com 11 artigos, o livro tem organização de Ana Maria Portugal, Gilda Vaz, Maria Auxiliadora Bahia e Regina Beatriz Simões. Além das organizadoras, participam da publicação as psicanalistas Ana Lúcia Bahia, Carla Derzi, Cidléa Barbosa, Regina Pachêco, Regina Teixeira da Costa, Rosely Gazire Melgaço e Thaïs Gontijo. Além do prefácio de Jacques Fux, o livro tem orelha do psicanalista Fábio Borges e posfácio da também psicanalista Márcia Rosa.


“Da Desilusão”


• De Ana Lúcia Bahia, Carla Derzi, Cidléa Barbosa, Regina Pachêco, Regina Teixeira da Costa, Rosely Gazire Melgaço e Thaïs Gontijo

• Organização de Ana Maria Portugal, Gilda Vaz, Maria Auxiliadora Bahia e Regina Beatriz Simões

• Conceito Editorial

• 134 páginas

• R$ 60

• Lançamento no Centro Cultural Unimed BH Minas (Rua da Bahia, 2244), na próxima quinta-feira (31/10), das 19h às 21h

 

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