Exposição

Exposição "A presença feminina na literatura brasileira: um caminho difícil",

crédito: divulgação

Imperdível a exposição “A presença feminina na literatura brasileira: um caminho difícil”, que pode ser vista somente até a próxima quarta-feira (6/11) na Academia Mineira de Letras. Entre os 70 títulos selecionados do acervo do Instituto Peck Pinheiro, há preciosidades, a exemplo das primeiras edições de livros de pioneiras como Júlia Lopes de Almeida.

 

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(“Traços e iluminuras”, de 1887, e “Memórias de Martha”, de 1899), uma das incentivadoras da criação da Academia Brasileira de Letras – e que, por machismo, ficou de fora da ABL para dar lugar ao marido, Filinto de Almeida (conhecido como “acadêmico consorte”). Outras escritoras que se lançaram na literatura no fim do século 19 também estão representadas na exposição, como a potiguar Auta de Souza (1876-1901), de vida breve e trágica, que teve o seu único livro, “Horto”, prefaciado por Olavo Bilac e publicado um ano antes de sua morte.


Também chama a atenção “Porão e sobrado”, estreia de Lygia Fagundes Telles com a reunião de 12 contos, obra lançada em 1938 e jamais reeditada por decisão da autora, que assinava como Ligia Fagundes.

 


Já a primeira edição de “Perto do coração selvagem”


(A Noite Editora), de Clarice Lispector, ganha atrativo a mais: o autógrafo da autora (“homenagem sincera”) para Augusto Meyer, escrito em 18 de dezembro de 1943, no Rio de Janeiro. A estreia de Hilda Hilst, então com 20 anos de idade, com os poemas de “Presságio; os dois primeiros livros da mineira Carolina Maria de Jesus (“Quarto de despejo – diário de uma favelada”, de 1960, e “Provérbios”, de 1966) e o resgate de “Dia Garimpo” (1939), da poeta modernista Julieta Barbara, reeditado apenas em 2022, também estão à mostra na AML (Rua da Bahia, 1.466, Centro), de terça a sexta, das 11h às 19h30, e neste sábado, das 10h às 16h, com entrada franca.

 

 

“São obras fantásticas que nos permitem reler vidas de mulheres fantásticas: suas lutas, conquistas, derrotas, desastres, paixões... Mulheres apaixonantes em uma coleção apaixonante. Fiquei absolutamente emocionada ao visitar essa exposição”

 

Mary del Priore,
historiadora, após visita à exposição “A presença feminina na literatura brasileira: um caminho difícil”

 

Humberto Werneck

Humberto Werneck

Paulo Werneck/Divulgação

 

Palavra de jornalista

 

A 4ª edição do Flij (Festival Literário Jornalistas de Minas) será realizada na próxima semana na Casa do Jornalista (Av. Álvares Cabral, 400). Na terça (5/11), Daniela Arbex (“Holocausto brasileiro”) faz a conferência “Jornalismo, memória e audiovisual; no dia seguinte, é a vez de Humberto Werneck (foto) (“O desatino da rapaziada”) fazer a palestra “Jornalismo e literatura”; na quinta-feira (7/11), haverá lançamentos de livros escritos por jornalistas. Todos os eventos começam às 19h30, com entrada franca.

 

João Ubaldo Ribeiro

João Ubaldo Ribeiro

Divulgação/TV Brasil

 

Viva João Ubaldo Ribeiro!

 

“João Ubaldo costumava dizer que seu estilo era ‘abarrocado’ (...). Era um mestre no domínio sintático, na música do texto e em obter um arranjo belo e fluente a partir de uma imensa carga de elementos. Suas frases transmitem com vivacidade a emoção dos personagens, porém, são artesanalmente esculpidas; a sintaxe ora recria a fala oral, ora possui elegância clássica; o vocabulário é excepcionalmente rico, casando termos científicos e elementos do português arcaico a neologismos criados com base na fala popular.

 

Capa do livro "Viva o povo brasileiro"

Capa do livro "Viva o povo brasileiro"

reprodução

 


Além disso, o escritor era também um homem dotado de vasta formação humanista, o que se mostraria indispensável para sua literatura crescer sem perder força. Carreando para o novo livro todas as vertentes de sua criatividade, todos os seus recursos técnicos, influências, impulsos narrativos e interesses pessoais, João Ubaldo fez dele o grande entroncamento literário de sua carreira, onde todos os outros livros se encontram.”

 

 

Rodrigo Lacerda, na apresentação da nova edição do caudaloso e monumental “Viva o povo brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). Para o escritor e editor, o romance de 672 páginas, lançado em dezembro de 1984, é “um ponto fora da curva no panorama brasileiro, por fazer uma espécie de súmula da aventura literária nacional até aquele momento, culminando o projeto modernista iniciado nos anos 1920 e, internacionalmente, é o legítimo representante do Brasil na grande onda latino-americana formada nos anos 1960-1970, por novas formas de representação do passado e da história.” A edição da Alfaguara, com capa vibrante de Kiko Farkas/Máquina Estúdio, inclui ainda textos de Geraldo Carneiro e Júlio Pimentel Pinto, além de fichas biográficas do autor nascido na Ilha de Itaparica (BA) e dos colaboradores.

 

“Mãezinha” premiada de Izabella Cristo

 

“O bico do seu peito vai e volta na rolha, pode sentir a dor discreta. Apesar do zunido das bombas, as mulheres são extremamente silenciosas, é possível ouvir claramente o som rouco do rádio na estação de MPB.


Na cadeira em frente, a mesma mãe de cabelos desgrenhados do treinamento, curvada sob o próprio colo, aperta com força sua teta rósea enorme. Ela comprime o bico invertido com a mão em concha, do jeito que a professora ensinara antes, enquanto empurra firme o mamilo para dentro do encaixe, como se fosse capaz de desinverter a falta de anatomia com os próprios dedos.

 
Você repara o ambiente: um grupo completo de mulheres cabisbaixas, cervicais curvadas, ombros caídos, toda a atenção voltada para os próprios bustos. Bicos, seios de todos os formatos, soltos e encaixados nos frascos com diferentes níveis e cores de leite, desde o branco neve ao amarelo coalhado. De repente, a sala adquire uma cor sépia. Todas aquelas mulheres, diferentes, separadas, ao mesmo tempo únicas, reunidas ali na sala de leite, em busca do mesmo objetivo. Uma reunião de servas da maternidade.”

 

Trecho, ainda sem edição final, do romance “Mãezinha” (título provisório), da escritora e médica paraense Izabella Cristo, queconcorreu com mais de 300 escritores estreantes e venceu a primeira edição do Prêmio Caminhos de Literatura, idealizado por Henrique Rodrigues. Ela irá publicar seu livro de estreia pela Editora Dublinense. O lançamento será em 2025, durante a edição comemorativa de 20 anos da Flipoços, em Poços de Caldas.