Filme 'Ainda Estou Aqui', de Walter Salles -  (crédito: Divulgação)

Filme 'Ainda Estou Aqui', de Walter Salles

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Filho do editor Fernando Gasparian, um dos amigos mais próximos do ex-deputado Rubens Paiva, Marcus Gasparian contou ao Pensar como a Livraria Argumento, na Rua Dias Ferreira, no Leblon, foi parar em “Ainda estou aqui”, filme escolhido para representar o Brasil na disputa ao Oscar de melhor produção internacional.

  

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“Foi com muita alegria que ficamos sabendo da decisão de Walter Salles de filmar cenas do seu ‘Ainda estou aqui’ na Livraria Argumento. Ainda que ela não existisse no período em que se passa o filme, a inclusão é muito significativa”, conta o livreiro. Confira o depoimento de Gasparian sobre as relações de sua família com os pais do escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro adaptado por Salles.

 

 

“Sem qualquer exagero, as vidas dos meus pais mudaram muito após o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva. A perda do melhor amigo despertou neles uma necessidade ainda maior de combater a ditadura. Meu pai, Fernando Gasparian, o “Gaspa” como os Paivas o chamavam, já criticava o regime como importante industrial do ramo têxtil. Publicara, junto com o Rubens e o jornalista Marcos Pereira, o Jornal de Debates, onde apresentava semanalmente todos os equívocos da equipe econômica. No exílio, além do Rubens, meu pai perdeu sua indústria ao ser forçado, por um emissário do governo, a assinar um documento no aeroporto de Heathrow, passando todas as suas ações pelo preço de um cruzeiro. Do contrário, todos os créditos seriam cortados, o que levaria a empresa à falência provocando o desemprego de milhares de funcionários. No retorno ao Brasil, meus pais iniciaram uma série de empreendimentos culturais voltados para o retorno da democracia. Editaram o semanário Opinião, compraram a editora Paz e Terra, lançaram a revista Argumento que acabou dando o nome para a livraria. Minha mãe, Dalva, interpretada no filme por Maeve Jinkings, esteve sempre ao lado do meu pai, assim como a Tia Eunice sempre apoiou o Tio Rubens.”

 

 

Docência, psicanálise e escrita literária

 

“Entendi que deveria ressaltar o que existe de comum entre a docência, o exercício da psicanálise e a escrita literária. Assim, penso não estar enganada quando digo que o denominador comum entre essas três áreas é o esforço para lidar com o enigma do real da existência.

 

No caso da docência, o real do desconhecimento, que insiste em nos interrogar na nossa busca de esclarecimento; no caso da psicanálise, o real do inconsciente, que habita secretamente em nós e que nos pega de surpresa nos lapsos, nas repetições estéreis, nos sintomas infelizes e em certos apegos esterilizantes; e o real dos limites da linguagem, como parece ser o que convoca o caso da literatura em sua transformação da experiência individual em algo socialmente compartilhável.

 

Na minha experiência, esse esforço é feito de tudo que em mim se alimenta da língua dos meus antepassados (isto é, de seus fantasmas encarnados nos valores que recebi deles, sendo a liberdade para duvidar um desses valores mais importantes). Destaco um aspecto do trabalho do psicanalista: a maneira como ele se posiciona diante da incerteza, já que a psicanálise, não sendo uma ciência exata, se processa justamente na inexatidão. Dito de outro modo, para se praticar a psicanálise, é preciso enfrentar o fato que não existe um crivo de correção das interpretações que fazemos ao paciente. A pertinência do que dizemos ao paciente será aferida pelo que ele construir em algum momento que não é o tempo do aqui-e-agora, mas o tempo do seu próprio inconsciente. Tanto ele poderá desfazer elos até então muito rigidamente estabelecidos, como poderá produzir novas conexões e vislumbrar posições e caminhos muito mais amplos do que aqueles que o levaram ao consultório do analista.”

 

Trecho do discurso de posse de Ana Cecília Carvalho (foto) na Academia Mineira de Letras, no último dia 8/11, ao tomar posse na cadeira 36. Na cerimônia, a psicanalista lembrou de indagações de Contardo Calligaris (“Quem fala em nós? Quais são as figuras que falam em nós? Quais são os fantasmas que não vão embora de nós?” E qual a ‘vantagem’ de viver na companhia dos espectros?”) e destacou o que considera a “herança mais preciosa”: o exercício da liberdade de pensamento.

 

Pausa para a quietude

 

“Silêncio’ é uma proposta para um momento de leitura calma, de uma pausa para a quietude, de um olhar para si, para a poesia e nada mais.”. Assim Marcelle Machado define a sua estreia literária, “um livro de muitas vozes”, um lançamento da Literíssima Editora. Os autógrafos serão no próximo sábado (23/11), das 16h às 19h, na Livraria do Belas. A autora já participou de algumas publicações coletivas e é formada em direito, com mestrado e doutorado na área da teoria do Estado e direito constitucional, tendo ainda graduação em letras e especialização em revisão de textos.

 

O veludo de João Batista Melo

 

Tem nova data o lançamento de “O veludo das lagartas verdes”, novo romance de João Batista Melo. Será no dia 4/12 (quarta-feira), de 19h às 21h, na Livraria Quixote. O livro, com edição da Faria e Silva (agora do grupo editorial Alta Books), tem como epígrafes trechos de obras de Guimarães Rosa (“Gargalhada”) e Ray Bradbury (“Um som de trovão”). Nascido em Belo Horizonte em 1960, Batista Melo é autor de títulos premiados, como os romances “Malditas fronteiras” e “Patagônia” e as coletâneas de contos “Descobrimentos”, “O colecionador de sombras”, “Um pouco mais de swing”, “As baleias do Saguenay” e “O inventosr de estrelas”