A autora canadense Naomi Klein fala enquanto manifestantes judeus protestam perto da casa do líder da maioria no Senado dos EUA, Chuck Schumer, 
no bairro do Brooklyn, em Nova York. durante a segunda noite da Páscoa,
 em 23 de abril de 2024, eles pediram a schumer que pare de armar Israel -  (crédito: afp)

A autora canadense Naomi Klein fala enquanto manifestantes judeus protestam perto da casa do líder da maioria no Senado dos EUA, Chuck Schumer

crédito: afp

Confusões com homônimos são comuns e, quase sempre, inofensivas para quem se vê participante de algum mal-entendido com um xará. Não foi o que aconteceu com a renomada jornalista e professora universitária canadense Naomi Klein.

 

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Em sua última obra, “Doppelgänger – Uma viagem através do Mundo-Espelho” (Carambaia, 2024), a autora fala sobre como se viu envolta em uma, à primeira vista, surreal unificação com a americana Naomi Wolf e, a partir da descoberta de seu duplo circulando pelas redes e espalhando notícias falsas e teorias da conspiração, tece complexa reflexão sobre o atual embate contemporâneo na política global.

 

A partir do conceito de “doppelganger”, termo em alemão que significa algo como “duplo ambulante”, Klein lança mão de um rico arcabouço de referências para guiar suas discussões.

 

 

A autora, assim, discute a forma como a sociedade contemporânea lida com este conceito como um reflexo distorcido, ou a existência de um clone concorrente, ou uma representação pública da própria imagem ou ainda um embate de ideias antagônicas que partem de variações de um mesmo argumento.

 

José Saramago, Oscar Wilde, Sigmund Freud, Philip Roth, Johann Goethe e muitos outros integram as referências a partir das quais Klein analisa como se viu imersa na confusão em que internautas a confundiram com Naomi Wolf. A xará outrora foi uma respeitada escritora de best- sellers sobre gênero, como “O mito da beleza” , que embarcou de vez em teorias conspiratórias e tornou-se uma das principais divulgadoras de desinformação na pandemia da COVID-19 e apoiadora de Donald Trump nos EUA.

 

Em entrevista ao “Pensar”, o autor do posfácio da edição brasileira de “Doppelganger” comenta o livro e as estratégias discursivas utilizadas por Klein para fazer de sua confusão com Wolf uma ampla obra que discute neoliberalismo, conspirações, desinformação, antissemitismo e o cenário atual de ascensão da extrema direita.

 

 

Mestre em filosofia e professor de teoria política na University of Essex, Rodrigo Nunes falou sobre as estratégias da extrema direita para oferecer ao público soluções simples para problemas complexos; a atual disputa de conceitos entre esquerda e direita; e como a extrema direita se apropriou de uma aura questionadora e a esquerda passou a se comportar como defensora das instituições.

 

Entrevista -  Rodrigo Nunes

 

‘‘Os neoliberais venceram a discussão econômica, e não existe outra coisa que se possa fazer’’

 

Para começarmos, gostaria de abordar a alegoria principal do livro, a questão do doppelgänger, que Naomi Klein usa como fio condutor.

 
O livro é bastante amplo, abordando uma gama diversa de assuntos, mas sempre utilizando essa figura para discutir concorrência, antagonismo e uma relação de interdependência. Gostaria que você comentasse sobre a eficácia dessa estratégia para unificar um livro com tantos temas.


Acredito que a escolha do doppelgänger foi uma solução muito feliz da autora para costurar vários temas que, de fato, entendemos como conectados de diferentes maneiras. A principal delas é que todos esses fenômenos estão, de alguma forma, vinculados ou são decorrentes da popularização e hegemonia midiática das redes sociais e plataformas digitais. Acho que, através dessa alegoria, a autora conseguiu conectar uma série de temas diferentes.

 

O motivo do doppelgänger funciona muito bem porque capta, de maneira eficaz, três aspectos principais: o aspecto do duplo como antagonista, como uma imagem distorcida e como um conceito que pode se desdobrar em diferentes formas. Isso permite que a autora aborde temas muito distintos, como, por exemplo, a maneira como nossa própria participação cotidiana nas redes sociais implica na construção – mais ou menos consciente – de um duplo.

 

Criamos uma marca, construímos um "outro", que é essa figura que veiculamos pelas plataformas digitais. Esse processo já implica uma forma de subjetivação muito característica do nosso tempo, que está diretamente relacionada aos processos políticos que Klein descreve. Além disso, a imagem do duplo também serve para falar, por exemplo, do negacionismo, especialmente no contexto da COVID-19.

 

Agora, tem algo nessa imagem que, a meu ver, ela não explora de maneira tão clara, mas que é muito interessante para pensarmos sobre o que mudou em nosso tempo. Historicamente, desde a Revolução Francesa, a posição da direita sempre foi de patologizar o entusiasmo, o compromisso político — de dizer que as pessoas de esquerda são radicais e fanáticas.

 

A direita assumia o papel de moderação. Mas, na última década, essa posição mudou: a direita passou a mimetizar exatamente esse radicalismo, esse compromisso, esse fanatismo que, historicamente, eram associados à esquerda.

 


Um dos pontos de destaque do livro é a força do movimento antivacina em plena pandemia da COVID-19. Naomi Klein aponta que muitos dos discursos mais delirantes contra a imunização utilizam mecanismos da propagação de saúde pública, como evitar o contato com vacinados para prevenir uma espécie de contágio por elementos nocivos presentes na vacina. Como você avalia a análise feita pela autora a respeito da repetição de discursos por correntes antagônicas?

 

Essa é uma ideia que a Letícia Cesarino chama de mimese inversa. Você parte de alguns princípios que parecem ser aceitos. Por exemplo, você começa com uma ideia de contágio que é comum e amplamente aceita, e depois inverte o referente do contágio. É interessante observar como essa inversão se apoia sempre em pontos comuns a um mesmo discurso. Em comum, você tem a ideia de contaminação e, a partir daí, inverte-se o referente do que é contaminado em cada caso.


A outra discussão, do ponto de vista da forma, tem tudo a ver com a maneira como a internet democratizou a possibilidade de publicar todo tipo de conteúdo. O problema é que, a partir de determinado momento, isso cria uma massa de informação conflitante, que gera uma espécie de suspensão de juízo. As pessoas que não têm crenças fortemente constituídas estão expostas à massa de informação conflitante, o que faz com que muitas delas simplesmente suspendam o juízo.

 

Isso é algo com o qual a própria imprensa frequentemente brincou – a ideia de ouvir "os dois lados". Você colocava um youtuber para conversar com um especialista com seis pós-doutorados no tema e tratava as duas visões como se estivessem em pé de igualdade. Muito do que essa mimese invertida faz é justamente explorar essa sensação de indecibilidade com a qual as pessoas se deparam em consequência dessa massa de informação conflitante.

 

Uma pergunta parecida também vale para o questionamento das grandes corporações. Wolf e Klein têm Bill Gates como um dos alvos preferidos, por motivos totalmente distintos. Como ocorre a transferência desse papel?

 

Esse exemplo é perfeito para um caso que não é simplesmente uma inversão, mas sim uma distorção – ou, na verdade, o termo talvez mais adequado, no âmbito psicanalítico, seja deslocamento. No meu livro, que a Naomi Klein cita como referência, o que eu chamo de negacionismo, na verdade, não é simplesmente o discurso negacionista. Trata-se de uma espécie de feedback criado, por um lado, pelo discurso negacionista e, por outro, por uma demanda social por esse tipo de discurso.

 

O que proponho que a gente pensasse era: se há uma aceitabilidade cada vez maior de discursos negacionistas – negacionistas da COVID, do aquecimento global –, e se existe uma centralidade cada vez maior desses discursos, por um lado, isso tem a ver com aquilo que discutíamos na resposta anterior. Mas, por outro lado, talvez devamos pensar que isso tem a ver também com uma demanda cada vez maior daquilo que, em psicanálise, se chama de renegação. Negar uma coisa é você, conscientemente, ver essa coisa diante de você e dizer que ela não está ali.

 

Renegar é você ver uma coisa e reprimir o fato de ter visto essa coisa, produzindo inconscientemente um discurso, uma interpretação que te ajude a negar essa coisa cuja evidência, diante de você, está sendo reprimida. Você está querendo não se permitir tornar consciente. Nesse sentido, o que o discurso da extrema direita faz, me parece, é sempre acolher uma angústia real e deslocar essa angústia para outro lugar.

 

Ao mesmo tempo, esse discurso acolhe a angústia das pessoas, reconhece essa angústia e desloca o entendimento da causa dessa angústia para outro lugar. A maneira como a extrema direita hoje fala de gente como Bill Gates, fala dos bilionários, é muito significativa nesse contexto. Na verdade, a política de Trump é altamente pró-bilionário, altamente pró-desregulação, o que vai beneficiar o Vale do Silício com contratos estatais milionários que agora vão beneficiar pessoas como Elon Musk e Jeff Bezos.

 

Mas, quando a extrema direita cria essas conspirações sobre figuras como Bill Gates ou George Soros, o que eles estão fazendo é acolher uma sensação que é verdadeira: o incômodo que as pessoas têm, cada vez mais, de que estamos vivendo em um mundo com desigualdade econômica e política em crescente ascensão. Cada vez menos pessoas têm condições de influenciar os rumos da política. Temos um cara como Elon Musk, que tem condições de comprar uma das maiores plataformas digitais do mundo e transformá-la em seu próprio playground, usando isso como alavancagem para se tornar o melhor amigo de Trump.

 
Então, o que esse grupo faz é acolher esse tipo de angústia que as pessoas sentem, mas que não conseguem identificar muito bem as causas – ou, sobretudo, soluções. E eles deslocam isso para outro lugar, dizendo que se trata de uma grande conspiração de bilionários pedófilos, que na verdade seriam de esquerda. E você deve votar em nós justamente porque somos os únicos que vamos enfrentar os bilionários, pois, na verdade, eles são de esquerda.

 

É um deslocamento para uma causa muito menos verossímil, mas muito mais atraente.


Sobretudo porque a solução parece muito mais fácil também. Porque, né, se você pensa que o problema é, na situação de estagnação econômica, inventar um novo arranjo para a economia global que possa ir diminuindo o poder econômico e político desses bilionários, então a gente precisa colocar esses bilionários contra a parede e cobrar impostos altíssimos deles para financiar a transição ecológica, o combate à fome e à pobreza, etc.. Tudo isso parece infinitamente mais difícil do que aquilo que os seguidores do QAnon, que estavam nas ruas no dia 6 de janeiro de 2021, imaginavam que aconteceria naquele dia.

 

O que eles imaginavam era que o Trump iria aparecer e dizer: "Aqui está uma lista de bilionários pedófilos, e eu mandei os militares irem à casa dessas pessoas para prender todas elas agora." Justamente isso é muito mais atrativo de acreditar. Por mais que seja implausível no sentido de ser fantástico e delirante, é mais plausível no sentido de que realmente resolver os problemas que temos hoje é muito difícil. Então, oferecer uma solução fantasiosa tem um elemento de compensação psicologica muito forte.

 

“Corremos o risco de ficar sem palavras”, alerta a autora sobre a apropriação de conceitos como fascismo, ditadura e democracia. Esta é uma disputa histórica e global, mas você avalia que ela ganhou outra proporção na política contemporânea?

 

A gente vê como essas inversões e distorções partem de um território compartilhado, né? O uso da palavra fascismo é um bom exemplo disso. A extrema direita usa muito esse termo. Ela associa o nazismo à esquerda, usa termos como fascismo, totalitarismo e assim por diante, atribuindo essas coisas à esquerda, o que, claro, parte de um território compartilhado – afinal, ninguém quer ser fascista, ninguém quer se assumir fascista.

 

Essa é uma grande diferença entre a extrema direita que temos hoje e a direita neofascista que existia até a década de 1970, que reclamava ativamente e publicamente desses conceitos. Esses grupos ainda existem, mas hoje eles vão a reboque de outros grupos e atores que entenderam que, na verdade, é muito melhor partir desse terreno compartilhado, que é o fascismo sendo algo negativo.

 

O que eles fazem é associar o fascismo a quem está do outro lado. Isso produz todo tipo de inversão e paradoxo bizarro que vemos hoje em dia, inclusive o fato de que um discurso abertamente insurrecional está muito mais presente na extrema direita hoje em dia do que na esquerda.


Outro tema recorrente no livro é a indústria do bem-estar e o apelo à vida saudável. Muitas vezes, esse mercado é tratado como reflexo da força do individualismo, criando uma correlação entre saúde e quem teria o direito de viver. Klein cita Barbara Ehrenreich e os reflexos da desilusão de uma geração que pensava o futuro do ponto de vista coletivo, mas se deparou com a ascensão de figuras como Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Como esse tema ilustra bem o “caráter doppelgänger" entre os discursos sanitários e os de cuidados pessoais?


Há um livro clássico sobre essa transformação, que é o “Novo espírito do capitalismo”, de Ève Chiapello e Luc Boltanski. Eles fazem uma análise clássica sobre a transformação que ocorre a partir dos anos 1970, na virada justamente para o neoliberalismo. Na análise deles, não é tanto uma desilusão com o coletivismo dos anos 1960 e 1970, mas o fato de que existiam demandas que tinham a ver com a luta contra a exploração e demandas que tinham a ver com a luta contra a dominação da política cultural e social. Eram demandas por maior igualdade econômica e por maior autonomia individual.

 

E a maneira como o capitalismo responde a esse período de crise de legitimidade nos anos 1960 e 1970 é absorvendo as demandas por autonomia individual, mas absorvendo-as, obviamente, sob o viés capitalista. O capitalismo justifica, então, o desmonte da infraestrutura de socialização dos cuidados em geral, como educação, saúde, etc., infraestrutura que havia sido criada no pós-guerra.

 

Talvez, para Naomi Klein, isso pareça simplesmente mais uma questão de desilusão com o coletivismo dos anos 1960 e 1970, porque essa infraestrutura nos Estados Unidos era muito mais fraca do que na França, que é o lugar de onde Boltanski e Chiapello escreveram “Novo espírito do capitalismo”.

 

Mas, em todo caso, por mais que o ponto de partida seja diferente em diferentes lugares – e nem se fala em países periféricos, como o Brasil –, a transformação é a mesma. E qual é a transformação econômica que começa a ocorrer na virada dos anos 1970 para 1980 e se consolida no mundo todo até o início da década de 1990? Trata-se justamente de uma transformação no sentido de privatizar os riscos da atividade econômica, ou melhor, os riscos da vida, da existência.

 

Isso implica privatizar os cuidados e, na prática, significa reduzir progressivamente a oferta de saúde pública, de educação pública e, consequentemente, a oferta de serviços públicos em geral. O efeito disso é justamente o aumento do individualismo.


A autora fala, inclusive, na percepção do próprio corpo como uma ferramenta de vantagem competitiva.


Exato. Você passa de uma lógica, que era a lógica do Estado de bem-estar social, de socialização dos riscos e dos custos de formação e cuidado das pessoas – como educação pública, saúde pública, previdência, etc. – para uma lógica de privatização de tudo. Essa é a lógica neoliberal da gestão do capital humano, em que cada indivíduo é o gestor do seu próprio capital humano.

 

E aí, você vai se virar como der, num mundo em que essa infraestrutura de proteção e socialização está deixando de existir. Então, tudo isso vai produzindo cada vez mais individualismo, e, é claro, isso se combina com os elementos da contracultura dos anos 1960 e 1970 para gerar essa cultura de uma noção de saúde que é extremamente individualista e neoliberal.

 

O capítulo em que ela faz essa análise é um dos pontos altos do livro. Muitas pessoas pensaram: “Bom, eu investi no meu capital humano, e agora que o capital de todo mundo está em risco, mas o risco ao capital dessa outra pessoa com comorbidade é bem maior, eu vou ter que ter o risco dele socializado comigo?”.

 

De novo, tem uma certa noção de justiça aí. É uma relação perfeitamente natural de um sujeito neoliberal diante de uma crise que, justamente, exigiria uma resposta no sentido de socialização de riscos para proteger a vida.

 

Klein lista como um dos efeitos da contestação negacionista o fato de tornar os progressistas “crédulos demais”. Como o papel de questionador do status quo se adequou aos conspiracionistas e ultraconservadores?


Falávamos no início sobre como a direita tradicionalmente se atribui o discurso de moderada e a pecha de fanáticos à esquerda. Hoje, a direita passa a ter o mesmo nível de compromisso e radicalismo que antes eles atestavam na esquerda. Por que isso aconteceu? Desde os anos 1990, quando se consolida a hegemonia neoliberal, a política, na verdade, acontecia dentro de um espectro muito pequeno. Você tinha um consenso, que era a gestão macroeconômica, que é neoliberal e ponto.

 

Os neoliberais venceram a discussão econômica, e não existe outra coisa que se possa fazer. Então, o que você faz é simplesmente o que as diferentes forças do espectro político ofereciam: diferentes maneiras de gerir o neoliberalismo, e basicamente essa diferença se dava em alguma medida em torno da política de redistribuição, mas sobretudo em torno da política de reconhecimento.

 

Por isso, a partir desse momento – a partir do momento em que a esquerda não tem mais nada para dizer sobre economia, porque a esquerda assumiu que a conversa acabou e os neoliberais venceram –, a esquerda vai se ocupar em garantir mais reconhecimento para as mulheres, para a população LGBTQIA+, para os negros, indígenas, etc. Porque essa é a única coisa que distingue a esquerda. A partir daquele momento, a esquerda se comprometeu a não colocar em questão a economia e quem se beneficia dessa gestão da economia.

 

Não vai colocar em pauta imposto sobre grandes fortunas, imposto sobre dividendos ou reforma agrária. O que acontece a partir do momento em que a possibilidade dessa gestão do neoliberalismo entra em crise, uma crise como aconteceu em 2008? Progressivamente, a extrema direita e, cada vez mais, o resto da direita vão nessa direção. Eles aceitam entrar também nessa pauta que foi assumida pela esquerda. Tem coisas que você não podia dizer antes e que, de certa maneira, começam a se tornar aceitáveis.

 

Que coisas são essas? É taxar as grandes fortunas? Não. É deportar cidadãos legais porque são, né, descendentes de imigrantes – algo que talvez a gente já comece a ver agora no governo Trump. Cidadãos americanos, nascidos em território americano, mas filhos de imigrantes, sendo deportados. Esse é um tipo de coisa que era inaceitável antes, assim como a construção do muro, a negligência com a OTAN, a destruição da Amazônia. A extrema direita passou a admitir explorar uma margem de possibilidades que estava aberta, ao passo que a esquerda segue constrangida por essa margem aqui, que ela não aceita ou não consegue conceber ir além.

 

O que resta à esquerda no momento em que a direita faz esse movimento, né? A direita começa a dizer: “Ah, então tem que começar a tocar fogo em tudo, tem que destruir as instituições, porque nada disso está funcionando.” A única coisa que sobra é a esquerda fazer um discurso de esquerda para dizer a mesma coisa, mas se ela não faz isso, o que resta? Se você não vai colocar essas coisas aqui em questão, o que resta é você defender a racionalidade das instituições. O que resta é defender que a ciência está sempre certa, que se deve confiar na mídia tradicional. E aí, quem parece ser a defensora do status quo é a esquerda. (BE)