
Leia poemas do novo livro de Roger de Andrade
'Nenhuma poesia', do escritor mineiro e professor da Unicamp, é um lançamento da editora Quelônia
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“nenhuma poesia”
nenhuma poesia
contém a afasia
de estar no cio
do poema nenhum
do lugar comum
sem poesia alguma
*
“aquela”
aquela lá sempre
solidão no amor
aquela ali sempre
partilha impossível
aquela onde sempre
emoção ambígua
resta a recorrência
aquela quando sempre
descrença simpática
aquela quando sempre
paixão inconclusiva
desespero que só se suporta
em esperas insuportáveis
-
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*
“O som e o sentido”
para J. M. Wisnik
uma melodia
caminha
na harmonia
da cárie minha
um contraponto
anda
no contratempo
de uma dor branda
uma voz
passeia
no grito atroz
desta vida incheia
duas melodias
invadem
os duros dias
que em mim ardem
sequência de acordes
se insinua
nos fiordes
da saudade sua
qual cadência
domina
reminiscências
de Minas?
*
A palavra faz o desenho
que a visão não descreve
que a audição não reteve
através do poema ferrenho.
A viga mestra da palavra
aquele espaço ousado
deduz seus termos calmos
e secos da lama que a grava.
Desfigura cubos
expressa sentidos
opera sob jugo
de corte infinito
*
Os pesos da noite
abastecem os passos
da sorte de quem
tem seus dias fartos.
Como a dita sombra
que esclarece ao invés
as cortinas meras
de chupar morfina.
A afasia se traz
na voraz azia
de ver a rima
e sonhar no escuro
Sobre o autor e o livro
Autor do recém-lançado “Nenhuma poesia”, o mineiro Roger de Andrade é professor da Unicamp e escreveu também o romance “Memórias sentimentais de um gauche na vida” (Reformatório, 2021), menção honrosa do Prêmio Bunkyo de Literatura, e o livro de poemas “Flores em escombros” (Impressões de Minas, 2023).
Márcia Barbieri, na apresentação do novo livro, destaca o entrelaçamento de letras e formas. “Ele produz um jogo incessante entre as palavras e os grafismos. Devido ao rigor formal, a acurada crítica social e o estilo breve de sua escrita, ele remete ao melhor de João Cabral de Melo Neto, que afirmava ser como um escultor, que incessantemente corta a pedra até que a escultura surja de dentro dela”, pontua.

Capa do livro "Nenhuma poesia"
“Nenhuma poesia”
• De Roger de Andrade
• Quelônio
• 64 páginas
• R$ 58