
Três editoras lançam dois livros de Virginia Woolf
Duas edições da peça 'Freshwater', até então inédita no Brasil, e edição revisada do centenário 'Mrs. Dalloway' chegam às livrarias
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uma das maiores escritoras do século 20, a autora inglesa ganha três novas edições no Brasil – duas da mesma obra: a peça teatral “Freshwater”

Duas vezes “Freshwater”
Chegam às livrarias, praticamente ao mesmo tempo, duas traduções para o português de “Freshwater”, única peça teatral escrita por Virginia Woolf. Um dos trabalhos é assinado pela escritora mineira Nara Vidal . Radicada na Inglaterra, a autora do premiado “Puro” conta que decidiu pela tradução de um texto “delicioso, sagaz e muito inteligente” depois de um encontro com a livreira Melissa Velludo, em Ribeirão Preto, no ano passado, quando decidiram também pela criação do selo Inglesa para “publicar autoras em língua inglesa, já em domínio público e que fossem mais e menos conhecidas no Brasil”, lembra.
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“É uma obra pouco conhecida até mesmo aqui na Inglaterra”, conta Nara. “Virginia traz na peça personalidades como personagens. Ela parte da sua tia-avó, a reconhecida fotógrafa da era vitoriana Julia Cameron, cuja casa, Dimbola, ficava na baía de Freshwater, na Ilha de Wight. Virginia apresenta celebridades do mundo das artes e literatura da época e que conviviam com a tia. A atriz Ellen Terry, o artista George Frederick Watts e o poeta Lord Alfred Tennyson tomam o palco nesse texto ácido, divertidíssimo e cheio de referências internas, enriquecendo a leitura”, complementa a escritora.
Homenagem ao centenário de uma certa Mrs. Dalloway
A editora Autêntica comemora os 100 anos de “Mrs. Dalloway” com o lançamento de uma nova edição do livro mais célebre de Virginia Woolf. Autor das traduções de quase todos os romances da autora, o professor Tomaz Tadeu conta, na introdução da nova edição, que fez uma revisão de seu trabalho, premiado com o Jabuti em 2013.
“Agora já não se tratava de fazer uma tradução a partir do zero, mas de refinar uma tradução já existe. Foi o que fiz: lá fui eu de novo buscando alguma passagem mal traduzida e tentando burilar o que ainda não estava no ponto”, conta o autor também das notas.
Ele destaca ter feito “algumas correções importantes”, mas manteve sua tradução para a primeira frase do livro, uma das mais marcantes da literatura do século 20: “A Sra. Dalloway disse que ela mesma iria comprar as flores.” Na bela capa, com design de Diogo Droschi, foi reproduzida uma aquarela de Guacira Lopes Louro.

“Mrs. Dalloway”
• De Virginia Woolf
• Tradução de Tomaz Tadeu
• Autêntica
• 240 páginas
• R$ 84,90

“Freshwater”
• De Virginia Woolf
• Tradução de Nara Vidal
• Editora Inglesa
• 123 páginas
• R$ 59,90
“Traduzir Freshwater foi um privilégio. Não só pela minha paixão por Virginia e sua escrita tão brilhante quanto original, mas pela natureza do trabalho de uma tradução. Traduzir é mergulhar num texto, abrindo suas entrelinhas e reescrevero que já foi dito. Há tanta sutileza, tantas nuances culturais, artísticas e de classe no texto, e trazer cada um desses elementos foi uma preocupação que eu tive para que o leitor pudesse se divertir tanto quanto eu na leitura. Morar na Inglaterra já há tanto tempo certamente ajuda a ter claros os aspectos não ditos, mas presentes nessa sátira sobre a classe intelectual e artística pelo olhar arguto, minucioso e único de Virginia Woolf.” (Nara Vidal, escritora e tradutora)

“Freshwater, uma comédia”
• De Virginia Woolf
• Tradução de Victor Santiago
• Editora Nós
• 200 páginas
• R$ 79,00
Outra tradução de “Freshwater” a chegar às livrarias é de Victor Santiago, em lançamento da editora Nós. No prefácio, a tradutora e editora Ana Carolina Mesquita, cujo doutorado em Teoria Literária envolveu a análise dos diários de Woolf, destaca o fato de a peça colocar a sátira em primeiro plano. “Virginia Woolf presta um tributo às suas origens enquanto ao mesmo tempo as satiriza e critica com acidez. De maneira bastante woolfiana, essas origens escapam do aspecto puramente individual da vida da própria Virginia e se tornam algo maior, uma espécie de origem comum”, afirma.
“Woolf insere, no deboche prevalecente da peça, reflexões sobre as convenções sociais aprisionadoras das subjetividades e o papel (ambíguo?) da arte”, destaca Mesquita, em outro trecho do prefácio. Além deFreshwater,a Editora Nós já publicou no Brasil títulos como “Um esboço do passado”,“A morte da mariposa”,“Pensamentos de paz durante um ataque aéreo”, “Sobre estar doente”,além dos primeiros três volumes dos diários da autora de “Ao farol” e “As ondas”.